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02 agosto 2012

INTELECTUALIDADE... Como tornar-se um intelectual em 20 dias


AVISO:
Antes de mais convém frisar que os intelectuais por norma, não têm sexo para além de com as suas mãos. E quando assim é, de preferência praticam o acto bem longe de olhares curiosos, nas mãos envergando luvas brancas e estudando metodicamente a realização de todo o processo. Nesse sentido, antes de efectuar qualquer um destes procedimentos, certifique-se de que não consegue mesmo ter sexo, o que quer que faça em relação a isso,  siga os parâmetros necessários. Escusado será dizer que o ritual não tem retorno, e que o não seguimento à regra dos cânones básicos poderá originar o entorpecimento temporário ou até definitivo da mente e do espírito. O blog não se responsabiliza pelos possíveis danos causados. Recorde-se que é uma opção sua e só sua.


PROCEDIMENTOS:


Roupa e aspecto
Um intelectual deve vestir-se o tempo todo em concordância com a sua superioridade intelectual: gabardina/casacos de tweed/camisas, e calças de bombazine; seda ou malha em falta de alguma destas duas. Tal como a parte cimeira da idumentária as calças deverão ter um ar descontraído, embora clássico. Preferencialmente deverão ser escuras e de marcas caras. Ter barba é intelectual e acariciá-la também. O cabelo de preferência terá de ser grisalho. Se você é jovem o melhor é comprar tinta para o efeito. Rugas também são bem-vindas e estas podem ser obtidas ziguezagueando e trespassando com um canivete suiço a pele da sua cara. Passadas duas semanas os resultados serão notáveis.

Espólio de tiques nervosos
Um bom intelectual tem o hábito de usar óculos e de os limpar inúmeras vezes, de preferência com um ar filosófico e alheado em relação ao resto do mundo. Um intelectual põe várias vezes a mão sobre o queixo acenando a cabeça em sinal de profunda introspecção e de concordância consigo próprio. Um intelectual concorda sempre consigo próprio. Mesmo que não esteja a pensar um intelectual deve parece que sim. Coçar o pescoço enquanto se desfoca o olhar, a par de gestos oscilatórios lentos acariciando o cabelo também costumam ser gestos eficazes, não esquecendo, obviamente, o piscar compulsivo dos olhos e o deitar de quando em vez a língua ligeiramente para fora.

Ludicidade
Os intelectuais devem, para assim o serem, para constituírem a amalgama essencial da sua sui generiedade, frequentar cafés ou bares onde se ouça música jazz, clássica, lounge, e bossa nova, sendo estas duas últimas hipóteses já um tanto radicais. No momento em que se ouve música clássica poderá ganhar-se uns pontos adicionais caso se abane as mãos como um maestro. Para a esquerda e para a direita é o recomendado, já que para baixo e para cima poderá não ser muito subtil.
No meio intelectual não há grande distinção entre espaço lúdico e laboral, logo o melhor mesmo é não aproveitar os tempos livres e assistir compulsivamente a sessões de leitura, debates e tortuosas tertúlias (não confundir com tartarugas). Idas a museus de arte contemporânea e clássica também são bem-vindos, assim como fumar cigarrilhas ou cachimbo enquanto se bebe whiskey (scotch), gin, ou água tónica. Um bom intelectual deve ter algumas colectâneas de cd`s de World Music, e artistas completamente desconhecidos. Os hábitos de leitura devem ser consistentes. Caso não goste de ler, compre mesmo assim uma panóplia de livros e uma estante de carvalho ou de uma qualquer madeira brilhante, já que deverá bastar saber os nomes deles e fazer declarações abstractas sobre eles. Na literatura os clássicos deverão estar em primeiro plano. Homero, Shakespeare, Cervantes e Honoré de Balzac são algumas referências. Tente decorar uma outra frase destes livros e cite-as assim que achar oportuno. Mesmo que não encontre um momento oportuno não tem importância, pois ninguém reparará nisso e julgará por de trás das suas declarações existir um sentido mágico e oculto, quase como se você fosse um curandeiro dos tempos modernos. A colecção de filmes e o seu visionamento deverá cingir-se a obras de cineastas desconhecidos, ou de cinema alternativo; Kusturica e Almodovar são alguns exemplos, assim como de cinema indiano, coreano, grego e polaco. Um intelectual não vê pornografia, na pior das hipóteses vê erotismo e fica perplexo com a complexidade e beleza artística do acto sexual perceptido pelas câmaras. Uma mulher e um homem nunca são "todos bons", mas sim provocam um estado libidinoso e uma atracção corporal quase incontrolável. A sensualidade é algo importante para um intelectual, principalmente para a deixar de lado no seu dia-a-dia.


Conduta
A maior parte dos intelectuais são de esquerda ou muito ricos. A primeira hipótese é bem mais fácil e é a opção recomendada a um intelectual ainda em iniciação. O intelectual deve tentar produzir arte. Qualquer coisa é passível de ser denominada de arte no meio intelectual, desde que o seu significado não possa ser entendido claramente. Nesse sentido, os poios sobre o azulejo da sua sanita já mais não serão inúteis. Assine. O mais importante é assinar. Um outro segredo deverá ser considerar o seu pior trabalho a sua obra-prima. Toda a gente se irá acreditar. Outra ferramenta importante para um intelectual é a retórica e essa deve usá-la de uma forma eloquente. Não importa que diga coisas parvas, desde que estas sejam ditas com palavras complicadas, raras e com muitos R`s. Para esse efeito pegue num dicionário espesso e assinale palavras estranhas, a seguir decore-as. O seu sentido não é muito importante, o mais importante é saber dizê-las e escrevê-las correctamente. Crie um blog ou um FotoBlog e use estas palavras estranhas ou fotografe coisas que era incapaz de olhar durante mais de um milésimo de segundo. Se assim o fizer, é arte de génio. Envie fax aos seus amigos mencionando coisas sem sentido sobre coisas aparentemente simples. Crie várias contas de e-mail, mas use apenas uma delas. Compre três jornais diferentes por dia. Os jornais e revistas comprados deverão ser jornais de referência tais como o Público, o DN, o Expresso e a Visão, O Observer de Inglaterra e o New York Times dos Estados Unidos. O "Liberation" está no topo da hierarquia intelectual, mas só deverá ser comprado após alguma experiência no interior da existência intelectual. Disponha todos os folhetins da imprensa em cima da sua secretária. Um intelectual janta em restaurantes onde se sirva comida estrangeira. Um intelectual sabe muitas expressões em línguas antigas e de civilizações consideradas sábias. Um intelectual lucrará se dominar o Latim, o Grego ou o Hebraico.
 



Lar e decoração
As casas dos intelectuais deverão ser amplas e em estilo vitoriano, embora constituam alternativas as vivendas de estilo clássico, ou as espaçosas quintas. Dentro das quintas deverá existir cavalos. Não é recomendável ter sexo com eles. A decoração das casas deverá conter objectos raros e estranhos de todo o mundo. Quanto mais antigos e exóticos melhor. Os lares têm de possuir secções estranhas; como salas de leitura, salas de cinema, salas com equipamento desportivo e salas de cortar as unhas dos pés e de rapar os pêlos púbicos.

Por exemplo: La Chascona, refúgio encantador de Pablo Neruda.
O que um intelectual não faz?
Não arrota e não peida porque isso não exige um exercício de introspecção. Para um intelectual não conta tanto a extrospecção mas sim a introspecção (não confundir com passividade homossexual). Um intelectual não lê Dan Brown. Não tem mais de dois filhos. Se tiver sexo tem que ser tântrico e o recomendável mesmo é a masturbação. Limpa o recto com tiras de seda. Um intelectual não é não-intelectual.
  
de Stephane Filipe Oliveira 
http://merdanosapato.blogspot.com.br/2007/02/como-se-tornar-num-intelectual-em-20.html

Um comentário:

  1. eu me acho um intelectual, pós adoro ler e sou muito critico, não gosto de som muito alto ou pessoas gritando. em fim sou um chato! mas gosto disso pena que não tenho alguem pra faser sexo, quando quero. srsrs

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