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13 agosto 2015

Malangatana


Fotografia: Severino Ribeiro, Acervo Fundação Joaquim Nabuco



:: Perfil do Artista 

Valente Malangatana (1936-2011) nasceu em Moçambique e tornou-se um dos artistas plásticos mais respeitados internacionalmente. De origem humilde (foi pastor, aprendiz de curandeiro e empregado doméstico), converteu-se na idade madura em uma das mais emblemáticas personalidades africanas. Embora a pintura figurativa tenha sido sua principal realização artística, Malangatana também foi político, músico, poeta, gravurista e escultor. Em reconhecimento aos seus altos méritos, foi nomeado, em 1997, o “Artista Unesco para a Paz”.

Entre 11 e 26 de novembro de 1998, a convite do então presidente da Fundaj, Fernando Freyre, Malangatana esteve na Instituição e pintou, durante vários dias, o mural ora em destaque (Ver Descrição técnica). Na oportunidade, também foram incorporadas ao acervo dois óleos sobre madeira do artista. Pela primeira vez, o público brasileiro tinha acesso ao trabalho do grande moçambicano.

:: Descrição Técnica

Mural do Edifício Paulo Guerra (sede administrativa da Fundaj, bairro de Casa Forte, Recife) Autor: Valente Malangatana Dimensões: 240 cm X 480 cm Ano: 1998
Técnica: pintura mural em tinta industrial (tipo PVA) com pigmentos, executada diretamente sobre a parede. Em 2008, o mural passou por uma intervenção de restauro, pois a camada pictórica apresentava descolamento do suporte (parede em alvenaria); foi tratado com a refixação da camada pintada e retoques para reintegração de pequenas áreas de perda.

:: Depoimento
VALENTE MALANGATANA (1936–2011)

Sim, amigos, eu vi Malangatana, o múltiplo e universal artista de Moçambique, pintando um grande mural no Recife, criando mais uma vasta página do seu imaginário africano, no qual sentia-se e sente-se a emergência de uma cosmologia que transfigura uma inarredável e forte herança cultural. O grande figurativo suava, liquefazia-se no verão recifense de 1998, no hall do edifício Paulo Guerra, na sede da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). Criador e criatura viviam o embate de se libertarem generosamente um do outro. Em meio às lágrimas de suor e tinta, arfavam como gigantes exaustos e pulsantes. Ao calor do verão tropical, vinham se juntar as cores quentes do moçambicano — laranjas, vermelhos e similares — e as linhas sinuosas de corpos e faces, algumas tão tristes e expectantes que poderiam roçar nossa pele e encadear histórias sem fim. As histórias que o próprio Malangatana ouvira na sua infância sem nunca saber ao certo se eram reais, verídicas, ou imaginárias, como eu mesmo o escutei dizer. Espantados, servidores e visitantes da Fundaj por vezes se detinham ante aquele inusitado quadro humano e plástico, do qual logo viria à luz um belo e grande mural (2,40 X 4,80) que traria, para sempre, a África aos nossos olhares cotidianos e curiosos. A África vital, dionisíaca e sanguínea de Valente Malangatana.

No último dia 5 de janeiro, Malangatana — ele próprio uma espécie de baobá humano e generoso — “partiu para a eternidade” aos 74 anos. E se foi coberto de glória, como símbolo e herói de sua gente. De menino pobre chegara a ser um artista internacionalmente reconhecido e prestigiado, a ponto de, em 1997, ter sido nomeado “Artista Unesco para a Paz”. E tanto quanto artista fora um homem excepcionalmente engajado política e socialmente, criando instituições de arte, lutando contra a então onipresente opressão colonial portuguesa, estimulando fraternalmente novas vocações em seu país.
Como artista, trouxe para a sua arte as suas vivências e convivências plurais. Na infância e juventude fora aprendiz de curandeiro, pastor e empregado doméstico; na idade madura se agigantou ao explorar e provar seus inúmeros talentos, tornando-se político, músico, poeta, gravurista e escultor, sem falar, é claro, de sua pintura onírica e figurativa, que se tornou seu estandarte artístico e universal.

Símbolo, na Fundaj, de uma fraterna aproximação cultural com a África, em particular com a África lusófona, o flamejante mural de Malangatana, encomendado à época do presidente Fernando Freyre, é também um testemunho de um povo que nos olha e pergunta por nossa atenção. Olhos e sexos que nos desnudam para nos vermos no seu magnífico espelho.

:: Acervo em Destaque

Responsável pela guarda, preservação e difusão dos acervos da Fundação Joaquim Nabuco, a Diretoria de Documentação, tendo em vista justamente a divulgação e o compartilhamento do seu patrimônio histórico, artístico e cultural, passa a expor, neste espaço virtual, o que há de melhor no acervo reunido em mais de seis décadas pela Instituição.
Nosso primeiro destaque é para o belo mural do artista moçambicano de renome universal Valente Malangatana, falecido no dia 5 de janeiro de 2011.


Paulo Gustavo, servidor da Fundaj e escritor

12 agosto 2015

A década de 20 e a sua liberdade criativa

O design de moda até hoje busca inspiração e referência num dos períodos mais marcantes, principalmente, no que se refere à mudança e a ruptura de paradigmas sociais e comportamentais do sexo feminino.


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Look anos 20


 publicado em design por

Com o fim da Primeira Guerra Mundial em 1918, os anos 20 chegaram para abalar as estruturas da sociedade que ainda fazia grandes distinções entre homens e mulheres. Considerado os anos loucos, toda a década de 20 foi bem vivida pelas pessoas, que queriam mais é se deleitar na vida noturna, no Charleston, no jazz, nos cinematógrafos, na arte de Pablo Picasso e Salvador Dalí ou na abundância que a nova vida oferecia. Enfim, tudo que podia ser prazeroso. E todos queriam mais é aproveitar a vida e resgatar certa leveza, depois dos anos difíceis que uma guerra pode proporcionar.
Foi um período de muita prosperidade, de crescimento industrial e reurbanização das cidades. O desejo era o de reconstruir tudo, além de obras arquitetônicas e de engenharia, a ideia era a de reestruturar também uma nova sociedade, deixando de lado velhos comportamentos e hábitos antiquados.
Paris era o centro do mundo, tudo que acontecia lá servia de referência. Ditava moda.
A principal mudança foi a feminina, que queria tudo o que estava ao seu alcance e muito mais, toda a liberdade possível. Foi o início da emancipação da mulher, que passou a frequentar lugares públicos sem a necessidade de estar acompanhada, principalmente ao anoitecer.
Com toda essa mudança de comportamento, o reflexo foi nas roupas, nos cabelos e na maquiagem. Em plena fase da art déco, a moda também seguiu o mesmo design. O visual era mais leve, elegante, reto e tubular. Sem realçar formas, o ideal era ter seios e quadris pequenos e a sensualidade estava nos tornozelos à mostra. Na cabeça o chapéu era o cloche, usado com cabelos curtos à la garçonne. Quem mais brilhou nessa época foi a estilista Coco Chanel.
O que tudo isso tem a ver com o design que conhecemos? A liberdade é o maior legado. Para o design de moda principalmente. A necessidade de tecidos mais leves e fluidos, formas mais retas e ao mesmo tempo sensuais, roupas mais práticas e fáceis de usar sem perder a feminilidade. Além disso, já foram feitas muitas releituras dos anos 20 pelos designers de moda atuais. E deram muito certo.


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Figurino Prada



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Gucci 2012
   
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 Alberta Ferretti 2012

Em 2012, Prada, Gucci e Alberta Ferreti fizeram releituras deste período e referências da art decó no design das suas badaladas roupas. Na refilmagem de Great Gatsby, em 2013, Catherine Martin levou o Oscar de melhor figurino. O filme, passado na década de 20, pode contar com a preciosa ajuda de Miuccia Prada para a criação dos seus figurinos. Muito bem elaborados e com detalhes primorosos, o design das roupas e dos acessórios fizeram sucesso entre as fashionistas. E, como consequência, vários designers de moda também produziram coleções inspiradas nos anos 20, que virou uma tendência de moda. 


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The Great Gatsby
Não dá pra duvidar a importância que o passado tem na nossa história atual. Grandes designers de moda procuram inspiração e absorvem as influências de épocas de grande efervescência cultural.
Imagens: reprodução/internet

11 agosto 2015

LUÍS XIV (1638 – 1715) - O que o Rei Sol deixou para a moda?

 publicado em design por

O fashion design está cada vez mais sofisticado, mas, em seus primórdios, deve reconhecer os legados que o rei Luís XIV institui ao longo do seu reinado.


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Luís XIV


Na França do final do século XVII, o que reinava era a monarquia absoluta do rei Luís XIV. A sua missão era de governar sem nenhuma limitação imposta pela constituição ou pela legislação. Sua famosa frase: “L’etat c’est moi” (eu sou o estado) definia toda a sua personalidade. Considerava-se representante de Deus na Terra. Proclamado como “Le Roi Soleil” (o Rei Sol) acreditava que, além do sol simbolizar a vida também era símbolo de ordem e rigor.

Apesar do seu discurso político, foi considerado um rei muito carismático e incentivador das artes. Responsável pela construção do Château de Versailles, grandioso e decorado com o seu inconfundível estilo, marcou fortemente um período com as suas características. Criou o que podemos considerar hoje de regras de etiqueta. 


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Figurino Ballet de la Nuit


Foi a partir de Luís XIV que Paris começou a se impor na Europa com novos padrões sociais, de comportamento, boas maneiras e moda. Ainda que fosse conhecido pelos maus odores que exalava devido à escassez de banhos, o rei era extremamente preocupado com a sua aparência. Era considerado baixinho por isso foi eternamente adepto dos saltos altos, sua marca registrada, copiado pela corte. Também foi usuário de grandes perucas, principalmente depois que começou a ficar careca, sempre ostentava uma vasta cabeleira artificial, o que virou moda durante anos. Vestia-se de uma maneira muito luxuosa, com tecidos nobres e acabamentos ricos em detalhes. O período era o Barroco. Repleto de suntuosidade e particularidades, o período foi representado na arquitetura, nas artes e nas roupas. 


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Além de o Rei Sol ter revolucionado os costumes da época, fazendo escola e vivendo no luxo, apresentou, inclusive, hábitos que até hoje usamos no nosso cotidiano. Perfumes, saltos altos, gastronomia, salão de cabeleireiros e criadores de moda são algumas das heranças deixadas por ele. Pode ser considerado, também, o primeiro "formador" de uma escola de moda no mundo. Muitas pessoas seguiram seu estilo por anos.

O que hoje intitulamos tendência de moda foi implementado por um vaidoso que queria se diferenciar dos simples mortais e súditos para ser reverenciado como o sol.

Quem trabalha com o mundo do fashion design sabe reconhecer um trendsetter, uma estrela que dita moda. Talvez o maior presente que ganhamos tenha sido saber reconhecer e distinguir a importância do savoir vivre! A arte de viver bem.


Imagens: reprodução/internet

ALBERTO GIACOMETTI: E A NATUREZA ABSOLUTA NAS ESCULTURAS


"Alberto não se preocupava com o quadro como uma obra isolada, objetiva, a ser apreciada como tal. Isso só interessava a mim. Ele só olhava o quadro como um subproduto, por assim dizer, de sua luta sem fim para retratar não simplesmente um indivíduo, mas a realidade."

James Lord

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A arte do suíço Alberto Giacometti pode ser analisada em diversas frentes. Todas profícuas e fomentadoras de discussões. Do cubismo – ambiente este contemporâneo ao seu próprio nascimento – na comunidade de Stampa em 1901 – Ao primitivismo. Este discutido e praticado por inúmeros artistas ao redor do mundo. Desde conceitos primitivistas debatidos nos séculos anteriores à própria noção de africanismo e retorno às artes mais genuínas na outra ponta. Após o estudo na faculdade de Belas artes de Genebra - o filho do pintor pós-impressionista Giovanni Giacometti - começa as viagens que o levaria à estruturação de sua identidade.

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Na Itália, no início dos anos 20, o contato com a obra ímpar do veneziano Jacopo Robusti (Tintoretto) – apenas para ficar nestes – e intensas viagens pelo país vão moldando o olhar de Giacometti pela renascença. Posteriormente a estas experiências - o jovem pintor e escultor suíço - desembarca em Paris, mais precisamente no bairro de Montparnasse para estudar na fantástica escola de arte La Grande Chaumière sob os cuidados do mestre francês Émile-Antoine Bourdelle.

‘La Grande Chaumière’ foi um importantíssimo polo de jovens artistas – de vários países – no início do século XX. Fundado pela suíça Martha Stettler, teve em Antoine Bourdelle um dos seus mais nobres lecionadores. Este, um dos expoentes da chamada Belle Époque e um dos maiores pintores francesas da primeira metade daquele século. Ensinou na lendária academia de artes francesa até 1929.

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Ainda na França, os anos 20 foram de profusão para a criação e as revoluções estéticas impregnadas naquele século. André Breton já havia publicado o manifesto surrealista (1924) e Alberto Giacometti começaria a ter contato com a atmosfera efervescente daqueles anos e os pensamentos oníricos de gente como Max Ernst e Joan Miro. Além do contato com o icônico Pablo Picasso.

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Deste intenso contato nascem algumas exposições onde são apresentadas algumas das primeiras obras primas de Giacometti. Le Couple e Boule Sospendue às colaborações com o próprio Breton. Neste período, incapaz – segundo ele mesmo – de esculpir com fidelidade a natureza humana, mergulha suas experimentações no imaginário surrealista. Estas incursões vão até a morte do pai no início da década de 30.

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O artista rompe com as frentes surrealistas e continua a trabalhar em seu ateliê em Paris. Intermeio em que trava uma busca por uma identidade artística – em sua obra – que captasse, como um escultor-retratista, uma essência – talvez – absoluta do homem. Nestes instantes começava a fecundar o estilo mais alongado da arte do mestre. A fragilidade solitária do humano e os anos também de reclusão, a segunda grande guerra, as idas e vindas à Suíça, sua mãe e sua identidade.

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Já nos anos 40 - Annette Arm - que Giacometti conheceu na Suíça - torna-se uma grande inspiração e sua mulher até o fim da vida. Outro modelo para Giacometti foi seu irmão Diego. Neste, o artista trabalhou mais ainda sua investigação essencialista. Pinturas, desenhos e formas que ganhariam uma de suas primeiras exposições na Galeria Pierre Matisse com direito a ensaios do grande filósofo francês e do pensamento existencialista, Jean Paul Sartre.
Esta exposição realizada em 1948 trouxe dois entusiasmados ensaios de Sartre – impregnado sobre a obra de Giacometti – e ciente de sua identificação como uma arte que dialogava com as construções existenciais de “O ser e o Nada” lançado do Sartre cinco anos antes.

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Os ensaios ‘A busca do absoluto’ e ‘As pinturas de Giacometti’ tratam de uma análise sobre o imaginário criador de Alberto. No primeiro, Sartre escreveu sobre e evolução histórica da escultura. Os antigos cadáveres – alguns sem vida – eram agora, na obra Giacometti, segundo Sartre - o encontro do absoluto. Não a eternidade física e sim - como toda a humanidade - sua temporalidade. O efêmero sopro de vida paralelo à atemporalidade da arte.
No ensaio ‘As pinturas de Giacometti’, Sartre versa sobre o vazio na obra de Giacometti. A distância entre nós e a escultura como ponto ideal de visualização dimensional da própria razão filosófica desta arte. Ao passo que, a aproximação com uma possível real dimensão de uma estética intrínseca a nós como expectadores de um objeto estático no tempo, não menos, intemporal.

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Os anos cinquenta trouxeram de volta às evidências da arte de Alberto Giacometti para o grande público. Particularmente as Bienais de Veneza foram importantes para esta constatação. Neste período também surge os trabalhos Femme de Venise com barro e gesso e o apoio assistencial do irmão Diego. Que continuava sendo seu modelo, além de Yanaihara Isaku (1918-1989), um amigo, filósofo japonês e também modelo durante anos de Giacometti. É dele um dos mais importantes livros sobre o escultor suíço. Um livro de memórias sobre aquela época, Yanaihara Isaku, Avec Giacometti, pela editora Allia. Outras obras importantes sobre o artista são ‘L'Atelier d'Alberto Giacometti’ de Jean Genet (éd. L'Arbalète, 1958) e ‘Un Portrait par Giacometti’ de James Lord (éd. Gallimard , 1991).
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A arte de Alberto Giacometti lhe rendeu grandes exposições, prêmios diversos e foi de grande inspiração para a escultura do século XX. Considerado o maior escultor surrealista da história - na verdade - Giacometti foi muito mais além. Alguns estudiosos viram na sua arte um passo à frente na então estética escultural clássica. 

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As estruturas tênues, alongadas, os braços finos - homens isolados em petrificações paradoxalmente cheia de vida – mesmo que esta - fosse em muitos casos, vazia existencialmente e distante - não da realidade e sim da própria realidade da escultura. Um sobre salto mágico e filosófico. Entretanto, adequada às nossas profundas questões filosóficas. Nossos dilemas pessoais e nosso dialogo com o tempo-espaço. 

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Alberto Giacometti faleceu em 11 de janeiro de 1966, em Chur e foi enterrado ao lado de seus pais em Borgonovo-Stampa. Em 1986 a viúva Annette Giacometti começou a trabalhar na criação de uma fundação. Assim nasceu anos depois a Alberto et Annette Giacometti que desde 2003 - oficialmente - passou a fazer parte do ministério da cultura da França. Estava mais do que Reconhecido a utilidade pública da Instituição e mais, o legado cultural e imprescindível de toda a obra do mestre Giacometti.

CHIVOLVAP CANDREVA: A IMPERTINENTE INCÓGNITA

E se os corrimões intermináveis das palavras não são tão intermináveis assim? e se a intrínseca clave dissonante e devaneadora sucumbir nos próximos ponteiros? Qual o segredo labiríntico, incompreensível e embaraçoso que faz o mundo acordar - e em algum lugar neste exato instante - um novo nascimento a ser celebrado e uma nova investigação de si mesmo adentrar em seu percurso?


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Todos os dias pela manhã, Chivolvap Candreva escrevia longos versos, ensaios e outras construções enigmáticas no bistrô Zerkalo perto do centro da capital flutuante. Zerkalo era frequentado por espécimes cibernéticas das empresas exteriores e lúdicos artistas mercenários do apocalipse. Apesar das intensas sinfonias metálicas dos transeuntes, o velho escritor trabalhava alucinado a fim de terminar sua obra - quem sabe - um dia.
Há tempos se indagava o que porventura havia acontecido. Passaram-se séculos. O sol estava prestes a se tornar frígido em toda a sua grandeza e não seduzia mais os otimistas como dantes. Candreva não entendia às razões absurdas - que deuses e tecnocratas científicos tinham - de mantê-lo vivo por todo este tempo.
Suas articulações tremiam soltando a poeira que orbitava em sua face na ausência oceânica dos ventos, estes, seres belos e perfeitos que já deixavam saudade.
Estudado pelos nobres ganhadores dos prêmios máximos das evoluções científicas que vieram dos países em reconstruções mágicas, estes no entanto, de fato, não responderam suas indagações. Certa noite - de calor sorumbático onde as janelas dos apartamentos despejavam um vapor que assustava os cães famintos sem destino - Chivolvap tentou o fim com seu pescoço enrolado em uma corda puída. Claro, não obteve a coragem necessária para este experimento derradeiro.

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Ele estava cansado meus caros. Havia perdido os irmãos, tias, amigos e suas namoradas envelheciam enroladas em sua barba. Não teve filhos, ah se estivesse. No entanto, o tempo tem sido cruel com Chivolvap. Como um touro que jamais sucumbe aos golpes do facão indesejável. Como um líquido desejado pelos amantes da eternidade, que entretanto, como por acidente, foi embebido pela insânia matinal de um reles cronista suburbano.
As manhãs eram longas. As tardes como ampulhetas que traziam em si um inexaurível deserto. As bombas, os conflitos, o humano em demasia estraçalhando o mundo com os dentes. Chivolvap Candreva dormia em seu quartinho perto da biblioteca esquecida de livros diversos. Jamais lidos ou lidos sim, por todos os jovens que hoje não passam de cadáveres de lembranças nos pátios da relatividade. Às vezes, seu mundo se enquadrava pela janela e magnetizava a observação. Televisores ainda resistiam à febre holográmica irreparável nos arredores. Entretanto, poucos ainda o percebiam. "As distrações se tornaram a droga do presente". Dizia o velho Chivolvap para si mesmo.
À margem, sentado em sua mesma mesa há décadas, entre antes novos, agora desbotados garçons. Entre impetuosos jovens e hoje decadentes empresários e suas frívolas amantes encarecidas, Chivolvap bebia seu licor tirado de uma espécie de planta dos mundos recém-descobertos e - como um mago - escrevia a biografia das idas e vindas.
Era impressionante que apesar de sua vã sabedoria experimental - este maldito senhor da impertinente eternidade - ainda se surpreendia séculos após séculos...

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- É o Sr. Chivolvap? Pergunta uma criança que puxava a mãe pelas mãos como se tentasse salva-la de alguma explosão meteorítica.
- Sim, é o que dizem. Respondeu - em uma ironia leve - que pesava menos que as asas de um rouxinol.
Chivolvap Candreva desfrutava a fama e o reconhecimento por sua própria tragédia. Seu drama havia sido encenado nos palcos dos atores destemidos. Virou objeto de entrevistas calorosas – até chorou certa vez para ganhar mais audiência – depois escolhia o isolamento. O subsolo fúnebre da insignificância. O ódio dos publicitários e a incompreensão das crianças. Entretanto, ter sido reconhecido em sua fisionomia cinzenta por esta última pequenina - que trazia em seu olhar o absurdo encantamento da utopia da perenidade - acalentava sua mágoa com a morte e reconhecia no humano algo de arrebatador, além de qualquer utopia poética.

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Será que no limiar de suas perturbações onipresentes um sentido havia passado despercebido. Qual? Não se sabe. São tão desconhecidos quanto os pensamentos do outro. O próprio Sr. Candreva relutava em acreditar que séculos de existência ainda não lhe trazia a clarividência reluzente que depreendia daquele minúsculo ser. Nada mais atemporal que as razões humanas.
Qual seria o segredo oculto, o oblíquo e mandingueiro paradigma que mantém vivo a todos? E os outros? E os que já se foram? Por que foram? O que procuravam?

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Pobre Chivolvap Candreva. Para ele todos eram poetas. Todos escreviam suas histórias nos espaços em branco entre os segundos. Assim, sobreviveriam à sua própria humanidade.
Como um clamor, intemporal.
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Fotografias | Robert Doisneau

Pierre Bourdieu: El sociólogo


El sociólogo Pierre Bourdieu, uno de los más influyentes en la disciplina durante las últimas décadas y activista contra el liberalismo económico, murió en París, 23 de janeiro de 2002 de enero a los 71 años, de cáncer.

Catedrático de Sociología en el Colégio de Francia de París desde 1981, Bourdieu comenzó a destacarse dentro del escenario intelectual francés en 1964 con la publicación “Les Hérieters”(Los Herederos), obra en la que coloca una crítica contra la enseñanza universitária y sus privilegios.

A comienzos de los sesenta viaja con destino a París; allí sería director de estudios de la Escuela de Altos Estudios en Ciencias
Sociales de 1964 a 1980.

Su pasión por la investigación lo condujo a profundizar autores como Marx, Sartre, Merleau-Ponty o Husserl; también mantuvo contactos con el estructuralismo de princípios de los 60, del que le atrajeron su preocupación por el lenguaje y su vocasión etnológica.

La práctica pedagógica lo llevó a reflexionar sobre el sistema educativo, lo que se tradujo en obras como “La Reproduction”, “Lês Regles de Lárt”, Noblese d´etat, “La Distinction”, donde analizaba los mecanismos culturales de diferenciación social, más allá de los puramente económicos.

En los últimos diez años, Bourdieu se destacó por asumir la línea de frente del movimiento antoglobalización; él afirmaba que vivíamos una época de desigualdades crecientes: “Durante el capitalismo salvaje hubo límites, contra el capitalismo hubo paros, etc. Ahora, se va para el capitalismo ilimitado; se introducen formas de gerenciamiento que antes eran inimaginables. Es la lógica del lucro sin límites. Eso es muy peligroso. Nos puede llevar a la barbárie".

Dentro de su faceta de activista político, uno de los libros más conocidos fue
“La Misere du Monde” de 1993, donde denunciaba el sufrimiento social, y en 1996 fundó la asociación Líber Raisons d´agir que editaba libros en los que se cuestionaba el liberalismo.

Bourdieu reflexionó en los últimos años sobre el papel de los medios de comunicación y la responsabilidad de los periodistas en la construcción de una realidad dada por supuesta de forma acrítica y fruto de ese trabajo fueron estudios como “L´emprise du jornalisme” o “Sur la telévision”.

            Como lo recordara el primer ministro francés, Lionel Jospin, frente a la noticia de la muerte del sociólogo: “Bourdieu era un maestro de la Sociologia contemporánea, una gran figura de la vida intelectual de nuestro país” y un hombre “que vivió personalmente la dialéctica entre el pensamiento y la acción”.
 
 
Bourdieu: relato de uma aula inaugural

Por o professor Clovis de Barros

O aviso no mural era claro. A primeira aula de sociologia do ano estava prevista para as nove horas, em quatro anfiteatros diferentes. Cheguei meia hora antes. Fingi não saber de nada e perguntei a um funcionário sobre o local e horário. Ele me indicou, sem hesitar, o número de um deles. Tranqüilizado, encaminhei-me. Primeiro, seguindo flechas. Depois, o próprio fluxo dos alunos. Já na sala, não percebi, de imediato, a tela no lugar da cátedra. O esclarecimento do colega ao lado se impôs: “Para assistir onde ele está, é preciso chegar antes das sete. Ainda mais no começo do curso. Depois vai melhorando”.
Alguns minutos antes das nove, a luz do projetor faz o silêncio. A primeira imagem é de uma mesa vazia e uma cadeira. Atrás, uma porta que se abre, segundos depois. O professor sobe os degraus do estrado e se aproxima da mesa. Teatro para uns, cinema para outros. O rito de uma prática incorporada, em anos de docência, dispensa o ensaio. Seus gestos contrastam com a solenidade do cenário. Um assistente de ensino fundamental que entrasse numa sala de aula pela primeira vez não agiria diferente.
Ainda de pé, abre a mala e retira uma folha de papelão dobrada ao meio que lhe serve como pasta de papéis. Senta-se. Ao desdobrá-la, acusa o equívoco franzindo a testa. Levanta-se e troca de pasta. Volta a sentar-se. A mala, ainda aberta, é colocada no chão. Pela primeira vez, o professor contempla, de relance, os ouvintes. As folhas, manuscritas, escapam pelas bordas da pasta. São reempilhadas.  As orelhas das páginas não parecem incomodar. Passados alguns segundos das nove, Pierre Bourdieu toma a palavra.
Para alguém acostumado com longas apresentações e votos de boas- vindas, os primeiros minutos produzem desconforto. Sem recorrer aos jargões introdutórios tão comuns na academia, a intervenção não marca simbolicamente seu início. A tal ponto que cogitei tratar-se de um trecho de  aula gravada. Ingenuidade de que se pouparam os mais madrugadores, copresenciais ao mestre.
A aula apresentaria duas partes. A essa conclusão só cheguei depois de transcrevê-la por completo. Num primeiro momento, faz abordagem sociológica da própria produção e das referências filosóficas de seus principais conceitos. Na segunda parte, mais curta, propõe reflexão também sociológica sobre uma aula, uma aula inaugural, no Collège de France.

A sociologia da produção

Uma profissão de fé metodológica, em retórica mais inflamada do que de hábito, punha em alerta a audiência. A preocupação de todo pai fundador em garantir especificidades, definindo-as sistematicamente. O imperativo categórico é objetivar o sujeito objetivador. Tomar, desta forma, na análise da própria produção científica, as cautelas epistemológicas de qualquer investigação. Objetos, quadros teóricos de referência, instâncias de produção e divulgação científica decorrerão deste rigor metodológico singular.
Inscrevendo-se num campo de produção das ciências sociais, o professor se esforça, passo a passo, para marcar fronteiras, em relação a outros campos, e posições, em relação a alguns membros do campo. As rupturas propostas não são neutras. Primeiro, Marx. “Discorrer sobre a importância de Marx para o estágio atual das ciências sociais é fazê-los perder tempo”, sentencia. Refuta, no entanto, com veemência, o rótulo de “neo-marxista”, como redutor e gerador de equívocos. Alonga-se sobre a relação entre campo e classe, o que o afasta da sua literatura publicada até então. Critica o caráter substancialista do conceito de classe. Contrapõe-lhe a lógica reflexiva das posições do campo. Esclarece: se o burguês é objetivamente burguês, em função dos meios de produção, as posições de dominante e dominado no campo só existem e tem sentido umas em relação às outras.
Introduz, sutilmente, para a melhor compreensão desta reflexividade, a dimensão não calculada de muitos dos deslocamentos e tomadas de posição em qualquer campo. Menciona o habitus e recomenda a leitura dos gregos, sobretudo Aristóteles. Aponta na Metafísica o hábito como condicionante da percepção. Estende seu alcance à percepção da prática social que se incorpora em trajetórias singulares.
Comenta, com entusiasmo, a aplicação moderna desta reflexão objetivada no conceito de jogo em Wittgenstein. Observa que alguns filósofos pragmáticos americanos “parecem também ver, no hábito, matriz geradora de comportamento”. Recusa-se a maiores digressões por conhecer “muito pouco” autores como Dewey e James. Estranho que ignorasse obra específica de Durkheim, relacionando o pragmatismo e a sociologia.
A dicotomia indivíduo-sociedade, útil para alimentar disputas ideológicas, esbarra nesses esquemas corporais de percepção e classificação do mundo. Sugere a Fenomenologia da Percepção. Por intermédio de Merleau-Ponty, alude a uma de suas principais vítimas: Sartre.
Mais tarde, em Méditations Pascaliennes (1997), detalharia a importância do “intelectual total” na constituição do campo universitário francês no século XX. Na aula, já o fazia, muitos anos antes: “a oposição a Sartre me fez ler autores e forjar reflexões que teriam sido distintas fossem outros os dominantes”. Ataca o ultra-subjetivismo de L´Être et le néant, destaca a relevância das condições propriamente sociais de definição do “projeto original” e diz não compreender o real alcance do conceito de “má-fé”.
Na seqüência de Sartre, tendo citado muitos outros autores e conceitos que decidimos suprimir para atender ao propósito deste artigo, o professor interrompe abruptamente a reflexão. Indaga a si mesmo, inquirindo o público: “Mas, enquanto participantes desta aula, que posição estamos ocupando neste espaço de produção?”

A lição sobre a aula

Desculpa-se por retomar temática já discutida em outros cursos. Refere-se, sobretudo, à sua primeira aula inaugural no Colégio em 1981. Fala da instituição como instância de consagração. Da consagração como definidora do valor social de uma conferência. Da conferência como produtora de legitimidade. Da sua legitimidade como porta-voz. Do capital específico do campo acadêmico. Das formas de investimento e incremento deste capital. Das estratégias, definidas em função de um saber prático incorporado ao longo de uma trajetória propriamente universitária. De um saber prático objetivado em disposições de agir. De disposições constitutivas de um habitus propriamente acadêmico. Da força simbólica da lição, como dominação, decorrente de uma autoridade reconhecida. Deste reconhecimento, possível graças ao desconhecimento das suas reais causas. Das causas sociais de fatos sociais.
A seqüência de frases permite o desfile articulado de seus principais conceitos. Seus sentido e alcance exigem outros como referencial. O repertório presumido do ouvinte é rico. Os exemplos do cotidiano são raros. Para explicar o habitus como sistema de competências, no duplo sentido de habilidades interiorizadas e de autorização social para agir, o professor recorre ao conceito de campo, isto é, de um espaço social de posições, com regras e troféus específicos e, portanto, relativamente autônomo dos demais campos. “Os conceitos de habitus e de campo compõem um todo ontológico”, enfatiza o professor. Ao insistir que o habitus é uma forma de subjetivação das estruturas, ou seja, das relações de força em ação no campo, o professor torna sua fala auto-referencial. Qualquer fratura na atribuição de sentido pode representar minutos de incompreensão. Pior para os não iniciados.
Apesar do hermetismo, a lição não é interrompida nenhuma vez. Um acordo tácito de disposições ao silêncio garante fluidez e dispensa qualquer determinação expressa. Socializações semelhantes tendem a gerar práticas orquestradas, sem qualquer batuta visível. Assim explicaria o mestre a reverência muda com que foi acolhido.
No final da aula, duas horas e trinta e quatro minutos após o seu início, as imagens flagraram a abordagem de alguns alunos. Troquei de sala e esperei pelas outras indagações. Autorizado por um olhar, aproximo-me procurando não acusar, em demasia, os efeitos da carência de recursos sociais, decorrente da combinação de fatores como o calourismo e a estrangeiridade. “Être mal dans sa peau” (estar mal na própria pele), fruto de um ineditismo radical, da falta de qualquer síntese passiva, de um não-sujeito para a situação, da ausência de experiências ao longo da trajetória que, aprendidas e interiorizadas, garantissem alguma reação espontânea, sem cálculo, e oportuna.

“Não ficou claro em que medida os circuitos de consagração são tanto mais eficazes quanto maior a distância social do objeto consagrado”, perguntei. “Isto é claro”, corrigiu o mestre. “Imagine-se publicando um livro. Três comentários idênticos e elogiosos: um da sua mãe, outro de um colega da universidade e, um terceiro, de um professor que, em outro país, deu-se ao trabalho de traduzi-lo. Qual dos três comentários será mais valorizante para você?”, perguntou-me com ternura. 

A resposta óbvia tornou o constrangimento indisfarçável. Talvez por isso tenha buscado um incentivo. “A pergunta foi ótima”, continuou, sorrindo. “Normalmente as pessoas fazem das perguntas em palestras um uso legitimador, de autoconsagração. Ao esperar a saída de todos, você reduziu muito este efeito”, atalhou com descontração. Este artigo, quatorze anos depois, relata a pergunta, desmente o mestre e estende para além dos muros da escola a homenagem que o autor lhe faz a cada aula. Pierre Bourdieu virou-se e partiu, pondo termo à primeira, mais curta e, para mim, mais significativa de nossas conversas.
Clóvis de Barros Filho fazia no ano letivo 1988-89 um D.E.A (Diplôme d´Études Approfondies) na Universidade de Paris III (Sorbonne Nouvelle). Hoje é professor do departamento de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, da ESPM, e de ética e legislação na ECA-USP e na Universidade Santa Cecília (Santos)

Relacionamento Miojo X Amor Brochante


Andam dizendo por aí que o amor por si só é brochante. Você não caiu nessa né?



Não confunda a sua incapacidade em manter e criar um relacionamento prolongado e prazeroso com a ideia de que o “amor romântico” é brochante. Pode ser, pode não ser. Depende muito da personalidade de cada um. Não é porque você não consegue criar um “clima duradouro” em uma relação amorosa que o mundo terá que condená-la para sempre. Está na hora de “desfacebookializar” sua mente.

No momento social em que vivemos, o que parece imperar é a velocidade. Piadas rápidas, comidas rápidas, dinheiro rápido, sucesso rápido, textos curtos na internet para se ler rapidamente, relacionamentos rápidos. Criou-se o costume de inventar rotinas aceleradas para esconder a sua incapacidade embaixo do tapete. Para que ler um livro se eu posso ler um status de 3 linhas nas redes sociais? Para que caminhar até a lanchonete se eu posso pedir o lanche pelo delivery? Para que visitar um amigo ou parente se eu posso mandar uma mensagem pelo Whatsapp? Para quer criar um laço amoroso com alguém se eu posso pular de galho em galho sem ter responsabilidade com os sentimentos de alguém? O medo do fracasso, a fuga de responsabilidades e a cultura do “quanto mais melhor” são as respostas. Não estou dizendo que esse estilo de vida acelerado não seja bom para algumas poucas pessoas. O que eu quero deixar claro é que este não é um padrão de qualidade de vida universal. Não é a fórmula para resolver seus problemas sentimentais.
Mas qual será o motivo dessa ânsia por velocidade? Será que todos estão com a vida tão ocupada assim? Sem tempo para conversar, sem tempo para criar laços, sem tempo para viver com calma?  Zygmunt Bauman, um sociólogo polonês o qual admiro muito, tem uma opinião muito contundente a respeito do comportamento social da atualidade: “VIVEMOS TEMPOS LÍQUIDOS. NADA É PARA DURAR”.  Para Bauman, com a torpe ideia de afastar a solidão, as pessoas vivem ligadas a celulares, tablets, notebooks. A maior parte do contato é feito por intermédio das redes sociais virtuais, e o contato físico fica resumido ao ato sexual, que na maioria das vezes, é aquém do esperado. Mal feito. Quanto menos contato físico, maior a torpeza em lidar com seres humanos. E qual é o ponto mais forte dessas redes sociais virtuais? A ausência de comprometimento. Adicionar e excluir são coisas tão rápidas e banais que ao menor sinal de desagrado, você é excluído da “vida virtual” de alguém. Não gostou, exclua!


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Mas o que isso tudo tem a ver com o amor romântico e o relacionamento Miojo? Eu explico. Essas interações precoces e efêmeras estão tomando conta da vida real. Principalmente em relação aos que já nasceram com a cara enfiada em um computador. As relações estão se tornando meros laços momentâneos, tão frágeis quanto a curtida que você recebe por ter mudado o status de relacionamento. Tão volúvel quanto os comentários falsos dos amigos dizendo: que casal lindo!
Estão vendendo um prazer rápido e que se diz libertador. Os 15 minutos de fama para que você sinta-se bem por um tempinho. É o tempo para você beijar, dar uns “amassos”, mudar o status do Facebook, gravar um vídeo fazendo sexo, mandar o vídeo para os amigos, e se lixar para o que vai acontecer depois. Ser irresponsável virou modinha.
É o produto do momento, o Relacionamento Miojo. O que importa nessa modalidade de relacionamento é não se sentir só e nem o último da fila.  A solução para isso é ser rápido. Ninguém quer ficar uma semana ou um mês sozinho e triste, não é verdade? Ninguém quer ficar um final de semana sentindo-se a pessoa mais abandonada do mundo, sem amigos. Ninguém quer sentir medo, dor, fracasso, solidão. Qual a solução? Relacionamentos Miojo. Compre o seu!
Mas como funciona o relacionamento Miojo? É simples: 3 minutos e está pronto.  Não tem erro: Olhou! Gostou! Levou! Filmou! Gozou (às vezes)!
O que importa é viver o momento, e aproveitar o máximo possível esses instantes de sobrevivência. Rápido! Rápido!


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Mas qual o problema nisso? E se esse for o meu estilo? E se eu gostar?
O problema não é dizer se isso é certo ou errado, bom ou ruim. O problema é querer impor esse tipo de comportamento como algo superior ao amor romântico (aquele da conquista. Não confunda com dramas e chorumelas). O relacionamento Miojo é mais simples, mais fácil de conseguir e consequentemente vai fazer você se sentir bem por um tempo muito curto, até que você precise fazer tudo de novo. É um ciclo, quase um vício de autossabotagem. Você não domina o que faz e esconde o medo de se prender a alguém e ser infeliz, atrás da contínua procura por aceitação. Não gostou? Exclua!
Para ter mais controle sobre sua própria felicidade e não depender da volatilidade para ter paz de espírito, evite a polarização de ideias e compreenda que a interpretação que cada pessoa faz na busca do prazer é EXTREMAMENTE INDIVIDUAL. Você pode ser diferente sim. Não é feio ou errado gostar de 50 tons de cinza ou de Uma linda mulher. O sexo, por exemplo, não deve ser feito na selvageria, na safadeza. Não existe um padrão. Sexo deve ser feito da forma que melhor der prazer para você e o seu parceiro. Se você gosta de sexo selvagem e realmente sente prazer com a prática, ótimo! Desfrute disso. Mas não queira impor esse tipo de comportamento como o melhor para todos. 
Amor romântico não brocha, o que brocha é a sua incapacidade de sentir e dar prazer. A velocidade, quando se torna costume, é a demonstração cabal de que o sentimento de prazer deu lugar à vontade desesperada de se sentir bem e especial. Egoisticamente especial. Já gozei, você não?
Abraço a todos e até a próxima.

P.S.: Sintam-se convidados para ler meus outros textos e me adicionar nas redes sociais. Os dados estão na descrição do autor.  Carlos Mion  Consultor comportamental com ênfase em comportamento feminino, psicanalista, palestrante, escritor, pós-graduando em neurociência, e advogado. Minha missão é utilizar o que eu sei para fazer a vida de alguém melhor. Assim tudo valerá a pena.


Container Houses - moradias alternativas

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Casas em containers são uma opção dinâmica, barata e menos agressiva ao meio ambiente. E estão cada vez mais comuns.


Com o passar do tempo, o conceito de moradia tornou-se mais amplo. Um dos fatores que tornou isso possível foi a popularidade das causas verdes, como a eco-arquitetura. Fatores como economia, superpopulação e migração também resultam em novas alternativas para se morar. As casas em containers são um grande exemplo da mudança de comportamento da sociedade. Seja por causa da mobilidade, do preço ou das constantes catástrofes naturais, essas casas estão assumindo um papel prático na vida dos indivíduos. Esse tipo de arquitetura deixa a tradicional forma de se estabelecer em família, ou em comunidade, e se transforma numa das mais liberais, modernas e práticas - para não dizer sofisticadas - opções do estilo de vida na sociedade moderna. As Container Houses representam a flexibilidade das famílias na adaptação dentro de uma nova geração e sociedade. Confira aqui alguns interessantes designs dessas inusitadas casas.


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