O nome “Auschwitz” será para sempre capaz de provocar no mínimo um
grande desconforto para toda a humanidade e principalmente para quem por
ventura sofreu e/ou sabe que seu país foi vítima ou protagonizou esta
história de horror. Falando dos poloneses, o complexo de campos chamado
de Auschwitz I, II e III tatuaram na alma polaca uma ferida que para
alguns foi revestida em resiliente erupção criativa, entre eles, um dos
pioneiros da arte digital do país e um dos mais jovens sobreviventes dos
campos de concentração, Ryszard Horowitz.
Ryszard Horowitz. nasceu em 1939, no epicentro da invasão nazista na
Polônia na Cracóvia. Sua família foi enviada para os campos mas
resistiram e sobreviveram. Ryszard era uma criança na famosa lista de
Oskar Schindler. Reconstruiu sua vida no país natal e se formou em arte
na Academy of Fine Arts na capital polonesa.
As primeiras manifestações artísticas de Ryszard Horowitz já foram
dadas antes dos quinze com a revolucionária câmera Exakta. O pintor e
professor polaco Adam Hoffman é apontando como grande motor de
influência para o início da disseminação da imagem do jovem Ryszard que
também sonhava a princípio em ser pintor.
Em 1958, anos da guerra fria, o governo americano como parte de um
programa de expansão da cultural para outros países, enviou alguns
lendários músicos de jazz em excursão. Assim, foi chamada a "jazz
diplomacy" que reuniu gênios como John Birks Gillespie, Duke Ellington,
Louis Armstrong, Dave Brubeck. Entre os países visitados pela comitiva
sonora americana, a Polônia, que recebeu o Dave Brubeck Quartet. Entre
os jovens entusiastas polacos a receber os musicos estava o pretenso
fotógrafo Ryszard Horowitz. Este seria o início da mítica carreira
pioneira do fotógrafo e renderia ainda suas imagens no magnífico livro
“All That Jazz”. O trabalho ganhou exposições nos EUA e Europa anos
depois e rendeu amizades e reconhecimentos.
Apaixonado pela fotografia Avant-Gander americana, Ryszard Horowitz
consegue desembarcar em NY em 1959 para estudar no importante Pratt
Institute. Este - fundado por Charles Pratt em 1887 - para ser uma das
melhores faculdades dos Estados Unidos. Chegando, Ryszard - tornou-se um
dos pupilos do mestre russo Alexey Brodovitch. Alexey, um caso à parte.
Uma das figuras mais emblemáticas do designe gráfico do século XX e
responsável pela editoração da lendária revista de arte Harper's Bazaar.
Em menos de dez anos, Ryszard, abre sua própria agência comercial de
fotografia e também torna-se, um dos fundadores da American Association
of Advertising Photographers - APA.
A partir da década de setenta, Ryszard Horowitz começa a desenvolver
suas próprias concepções fotográficas. Seu trabalho é apontando com
pioneirismo em relação aos efeitos especiais muito antes da criação de
programas de manipulação de imagem como o famoso Photoshop. O contato
com o trabalho deste artista polaco pode causar uma falsa sensação de
estarmos diante de uma fotografia à base de softwares e cliques. Não que
estas não tenham seu valor, entretanto, ainda não seria um fato na obra
de Horowitz.
Relutante em mergulhar sua arte como surrealista, Horowitz prefere
buscar elementos anteriores a isto, como nas pinturas gregas e egípcias,
como na literatura de Kafka e na pintura de Bosch. Os elementos deste
artista ansiavam por algo que estava além da imagem, às significações
ocultas, o jogo entre a múltipla realidade do pensamento e o trabalho
artesanal em busca do novo, do absurdo, o absurdo fotográfico.
Alguns ousam até dizer que a criação de programas de modelagem de
imagens nasceu em função da arte de Horowitz. Exageros de seus
entusiastas. Todavia, o artista não abriu mão de trabalhar com os
computadores quando estes já poderiam acompanhar sua imaginação
abstrata. A verdade é que tudo não passa de uma grande ferramenta, uma
matéria prima múltipla para este pioneiro dos efeitos oníricos da foto.
A fascinação em adentrar o universo da imagem de Ryszard Horowitz
pode passar pela percepção que sua arte estava à frente de tudo que hoje
convenientemente conhecemos como manipulação digital. Em seu
laboratório, o polaco já esculpia compilações de imagens, retrabalhando
sua estética e desenvolvendo as raízes da montagem, dos efeitos e com os
pinceis feitos de luzes, trabalhava a Foto composição em sua vanguarda.
Ryszard Horowitz gosta de se definir como um compositor de imagens.
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