A arte do suíço Alberto Giacometti pode ser analisada em diversas
frentes. Todas profícuas e fomentadoras de discussões. Do cubismo –
ambiente este contemporâneo ao seu próprio nascimento – na comunidade de
Stampa em 1901 – Ao primitivismo. Este discutido e praticado por
inúmeros artistas ao redor do mundo. Desde conceitos primitivistas
debatidos nos séculos anteriores à própria noção de africanismo e
retorno às artes mais genuínas na outra ponta. Após o estudo na
faculdade de Belas artes de Genebra - o filho do pintor
pós-impressionista Giovanni Giacometti - começa as viagens que o levaria
à estruturação de sua identidade.
Na Itália, no início dos anos 20, o contato com a obra ímpar do
veneziano Jacopo Robusti (Tintoretto) – apenas para ficar nestes – e
intensas viagens pelo país vão moldando o olhar de Giacometti pela
renascença. Posteriormente a estas experiências - o jovem pintor e
escultor suíço - desembarca em Paris, mais precisamente no bairro de
Montparnasse para estudar na fantástica escola de arte La Grande Chaumière sob os cuidados do mestre francês Émile-Antoine Bourdelle.
‘La Grande Chaumière’ foi um importantíssimo polo de jovens artistas –
de vários países – no início do século XX. Fundado pela suíça Martha
Stettler, teve em Antoine Bourdelle um dos seus mais nobres
lecionadores. Este, um dos expoentes da chamada Belle Époque e um dos maiores pintores francesas da primeira metade daquele século. Ensinou na lendária academia de artes francesa até 1929.
Ainda na França, os anos 20 foram de profusão para a criação e as
revoluções estéticas impregnadas naquele século. André Breton já havia
publicado o manifesto surrealista (1924) e Alberto Giacometti começaria a
ter contato com a atmosfera efervescente daqueles anos e os pensamentos
oníricos de gente como Max Ernst e Joan Miro. Além do contato com o
icônico Pablo Picasso.
Deste intenso contato nascem algumas exposições onde são apresentadas algumas das primeiras obras primas de Giacometti. Le Couple e Boule Sospendue
às colaborações com o próprio Breton. Neste período, incapaz – segundo
ele mesmo – de esculpir com fidelidade a natureza humana, mergulha suas
experimentações no imaginário surrealista. Estas incursões vão até a
morte do pai no início da década de 30.
O artista rompe com as frentes surrealistas e continua a trabalhar em
seu ateliê em Paris. Intermeio em que trava uma busca por uma
identidade artística – em sua obra – que captasse, como um
escultor-retratista, uma essência – talvez – absoluta do homem. Nestes
instantes começava a fecundar o estilo mais alongado da arte do mestre. A
fragilidade solitária do humano e os anos também de reclusão, a segunda
grande guerra, as idas e vindas à Suíça, sua mãe e sua identidade.
Já nos anos 40 - Annette Arm - que Giacometti conheceu na Suíça -
torna-se uma grande inspiração e sua mulher até o fim da vida. Outro
modelo para Giacometti foi seu irmão Diego. Neste, o artista trabalhou
mais ainda sua investigação essencialista. Pinturas, desenhos e formas
que ganhariam uma de suas primeiras exposições na Galeria Pierre Matisse com direito a ensaios do grande filósofo francês e do pensamento existencialista, Jean Paul Sartre.
Esta exposição realizada em 1948 trouxe dois entusiasmados ensaios de
Sartre – impregnado sobre a obra de Giacometti – e ciente de sua
identificação como uma arte que dialogava com as construções
existenciais de “O ser e o Nada” lançado do Sartre cinco anos antes.
Os ensaios ‘A busca do absoluto’ e ‘As pinturas de Giacometti’ tratam
de uma análise sobre o imaginário criador de Alberto. No primeiro,
Sartre escreveu sobre e evolução histórica da escultura. Os antigos
cadáveres – alguns sem vida – eram agora, na obra Giacometti, segundo
Sartre - o encontro do absoluto. Não a eternidade física e sim - como
toda a humanidade - sua temporalidade. O efêmero sopro de vida paralelo à
atemporalidade da arte.
No ensaio ‘As pinturas de Giacometti’, Sartre versa sobre o vazio na
obra de Giacometti. A distância entre nós e a escultura como ponto ideal
de visualização dimensional da própria razão filosófica desta arte. Ao
passo que, a aproximação com uma possível real dimensão de uma estética
intrínseca a nós como expectadores de um objeto estático no tempo, não
menos, intemporal.
Os anos cinquenta trouxeram de volta às evidências da arte de Alberto
Giacometti para o grande público. Particularmente as Bienais de Veneza
foram importantes para esta constatação. Neste período também surge os
trabalhos Femme de Venise com barro e gesso e o apoio
assistencial do irmão Diego. Que continuava sendo seu modelo, além de
Yanaihara Isaku (1918-1989), um amigo, filósofo japonês e também modelo
durante anos de Giacometti. É dele um dos mais importantes livros sobre o
escultor suíço. Um livro de memórias sobre aquela época, Yanaihara Isaku, Avec Giacometti,
pela editora Allia. Outras obras importantes sobre o artista são
‘L'Atelier d'Alberto Giacometti’ de Jean Genet (éd. L'Arbalète, 1958) e
‘Un Portrait par Giacometti’ de James Lord (éd. Gallimard , 1991).
A arte de Alberto Giacometti lhe rendeu grandes exposições, prêmios
diversos e foi de grande inspiração para a escultura do século XX.
Considerado o maior escultor surrealista da história - na verdade -
Giacometti foi muito mais além. Alguns estudiosos viram na sua arte um
passo à frente na então estética escultural clássica.
As estruturas tênues, alongadas, os braços finos - homens isolados em
petrificações paradoxalmente cheia de vida – mesmo que esta - fosse em
muitos casos, vazia existencialmente e distante - não da realidade e sim
da própria realidade da escultura. Um sobre salto mágico e filosófico.
Entretanto, adequada às nossas profundas questões filosóficas. Nossos
dilemas pessoais e nosso dialogo com o tempo-espaço.
Alberto Giacometti faleceu em 11 de janeiro de 1966, em Chur e foi
enterrado ao lado de seus pais em Borgonovo-Stampa. Em 1986 a viúva
Annette Giacometti começou a trabalhar na criação de uma fundação. Assim
nasceu anos depois a Alberto et Annette Giacometti que desde
2003 - oficialmente - passou a fazer parte do ministério da cultura da
França. Estava mais do que Reconhecido a utilidade pública da
Instituição e mais, o legado cultural e imprescindível de toda a obra do
mestre Giacometti.
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