El
sociólogo Pierre Bourdieu, uno de los más influyentes en la
disciplina durante las últimas décadas y activista contra el
liberalismo económico, murió en París, 23 de janeiro de 2002 de enero a los 71 años,
de cáncer.
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Catedrático de Sociología en el Colégio de Francia de París
desde 1981, Bourdieu comenzó a destacarse dentro del escenario
intelectual francés en 1964 con la publicación “Les Hérieters”(Los
Herederos), obra en la que coloca una crítica contra la enseñanza
universitária y sus privilegios.
A
comienzos de los sesenta viaja con destino a París; allí
sería director de estudios de la Escuela de Altos Estudios en
Ciencias
Sociales de 1964 a 1980.
Sociales de 1964 a 1980.
Su pasión por la investigación lo condujo a profundizar
autores como Marx, Sartre, Merleau-Ponty o Husserl; también mantuvo
contactos con el estructuralismo de princípios de los 60, del que
le atrajeron su preocupación por el lenguaje y su vocasión
etnológica.
La práctica pedagógica lo llevó a reflexionar sobre el
sistema educativo, lo que se tradujo en obras como “La
Reproduction”, “Lês Regles de Lárt”, Noblese d´etat, “La
Distinction”, donde analizaba los mecanismos culturales de
diferenciación social, más allá de los puramente económicos.
En los últimos diez años, Bourdieu se destacó por asumir
la línea de frente del movimiento antoglobalización; él afirmaba
que vivíamos una época de desigualdades crecientes: “Durante el
capitalismo salvaje hubo límites, contra el capitalismo hubo paros,
etc. Ahora, se va para el capitalismo ilimitado; se introducen
formas de gerenciamiento que antes eran inimaginables. Es la lógica
del lucro sin límites. Eso es muy peligroso. Nos puede llevar a la
barbárie".
Dentro de su faceta de activista político, uno de los libros
más conocidos fue
“La Misere du Monde” de 1993, donde denunciaba el sufrimiento social, y en 1996 fundó la asociación Líber Raisons d´agir que editaba libros en los que se cuestionaba el liberalismo.
“La Misere du Monde” de 1993, donde denunciaba el sufrimiento social, y en 1996 fundó la asociación Líber Raisons d´agir que editaba libros en los que se cuestionaba el liberalismo.
Bourdieu
reflexionó en los últimos años sobre el papel de los medios de
comunicación y la responsabilidad de los periodistas en la
construcción de una realidad dada por supuesta de forma acrítica y
fruto de ese trabajo fueron estudios como “L´emprise du
jornalisme” o “Sur la telévision”.
Como lo recordara el primer ministro francés, Lionel Jospin,
frente a la noticia de la muerte del sociólogo: “Bourdieu era un
maestro de la Sociologia contemporánea, una gran figura de la vida
intelectual de nuestro país” y un hombre “que vivió
personalmente la dialéctica entre el pensamiento y la acción”.
Bourdieu:
relato de uma aula inaugural
Por
o professor Clovis de Barros
O
aviso no mural era claro. A primeira aula de sociologia do ano
estava prevista para as nove horas, em quatro anfiteatros
diferentes. Cheguei meia hora antes. Fingi não saber de nada e
perguntei a um funcionário sobre o local e horário. Ele me
indicou, sem hesitar, o número de um deles. Tranqüilizado,
encaminhei-me. Primeiro, seguindo flechas. Depois, o próprio
fluxo dos alunos. Já na sala, não percebi, de imediato, a tela
no lugar da cátedra. O esclarecimento do colega ao lado se impôs:
“Para assistir onde ele está, é preciso chegar antes das sete.
Ainda mais no começo do curso. Depois vai melhorando”.
Alguns
minutos antes das nove, a luz do projetor faz o silêncio. A
primeira imagem é de uma mesa vazia e uma cadeira. Atrás, uma
porta que se abre, segundos depois. O professor sobe os degraus do
estrado e se aproxima da mesa. Teatro para uns, cinema para
outros. O rito de uma prática incorporada, em anos de docência,
dispensa o ensaio. Seus gestos contrastam com a solenidade do cenário.
Um assistente de ensino fundamental que entrasse numa sala de aula
pela primeira vez não agiria diferente.
Ainda
de pé, abre a mala e retira uma folha de papelão dobrada ao meio
que lhe serve como pasta de papéis. Senta-se. Ao desdobrá-la,
acusa o equívoco franzindo a testa. Levanta-se e troca de pasta.
Volta a sentar-se. A mala, ainda aberta, é colocada no chão.
Pela primeira vez, o professor contempla, de relance, os ouvintes.
As folhas, manuscritas, escapam pelas bordas da pasta. São
reempilhadas.
As orelhas das páginas não parecem incomodar. Passados
alguns segundos das nove, Pierre Bourdieu toma a palavra.
Para
alguém acostumado com longas apresentações e votos de boas-
vindas, os primeiros minutos produzem desconforto. Sem recorrer
aos jargões introdutórios tão comuns na academia, a intervenção
não marca simbolicamente seu início. A tal ponto que cogitei
tratar-se de um trecho de aula
gravada. Ingenuidade de que se pouparam os mais madrugadores,
copresenciais ao mestre.
A
aula apresentaria duas partes. A essa conclusão só cheguei
depois de transcrevê-la por completo. Num primeiro momento, faz
abordagem sociológica da própria produção e das referências
filosóficas de seus principais conceitos. Na segunda parte, mais
curta, propõe reflexão também sociológica sobre uma aula, uma
aula inaugural, no Collège
de France.
A sociologia da produção
Uma
profissão de fé metodológica, em retórica mais inflamada do
que de hábito, punha em alerta a audiência. A preocupação de
todo pai fundador em garantir especificidades, definindo-as
sistematicamente. O imperativo categórico é objetivar o sujeito
objetivador. Tomar, desta forma, na análise da própria produção
científica, as cautelas epistemológicas de qualquer investigação.
Objetos, quadros teóricos de referência, instâncias de produção
e divulgação científica decorrerão deste rigor metodológico
singular.
Inscrevendo-se
num campo de produção das ciências sociais, o professor se
esforça, passo a passo, para marcar fronteiras, em relação a
outros campos, e posições, em relação a alguns membros do
campo. As rupturas propostas não são neutras. Primeiro, Marx.
“Discorrer sobre a importância de Marx para o estágio atual
das ciências sociais é fazê-los perder tempo”, sentencia.
Refuta, no entanto, com veemência, o rótulo de
“neo-marxista”, como redutor e gerador de equívocos.
Alonga-se sobre a relação entre campo e classe, o que o afasta
da sua literatura publicada até então. Critica o caráter
substancialista do conceito de classe. Contrapõe-lhe a lógica
reflexiva das posições do campo. Esclarece: se o burguês é
objetivamente burguês, em função dos meios de produção, as
posições de dominante e dominado no campo só existem e tem
sentido umas em relação às outras.
Introduz,
sutilmente, para a melhor compreensão desta reflexividade, a
dimensão não calculada de muitos dos deslocamentos e tomadas de
posição em qualquer campo. Menciona o habitus
e recomenda a leitura dos gregos, sobretudo Aristóteles. Aponta
na Metafísica o hábito
como condicionante da percepção. Estende seu alcance à percepção
da prática social que se incorpora em trajetórias singulares.
Comenta,
com entusiasmo, a aplicação moderna desta reflexão objetivada
no conceito de jogo em Wittgenstein. Observa que alguns filósofos
pragmáticos americanos “parecem também ver, no hábito, matriz
geradora de comportamento”. Recusa-se a maiores digressões por
conhecer “muito pouco” autores como Dewey e James. Estranho
que ignorasse obra específica de Durkheim, relacionando o
pragmatismo e a sociologia.
A
dicotomia indivíduo-sociedade, útil para alimentar disputas
ideológicas, esbarra nesses esquemas corporais de percepção e
classificação do mundo. Sugere a Fenomenologia da Percepção. Por intermédio de Merleau-Ponty,
alude a uma de suas principais vítimas: Sartre.
Mais
tarde, em Méditations
Pascaliennes (1997), detalharia a importância do
“intelectual total” na constituição do campo universitário
francês no século XX. Na aula, já o fazia, muitos anos antes:
“a oposição a Sartre me fez ler autores e forjar reflexões
que teriam sido distintas fossem outros os dominantes”. Ataca o
ultra-subjetivismo de L´Être
et le néant, destaca a relevância das condições
propriamente sociais de definição do “projeto original” e
diz não compreender o real alcance do conceito de “má-fé”.
Na
seqüência de Sartre, tendo citado muitos outros autores e
conceitos que decidimos suprimir para atender ao propósito deste
artigo, o professor interrompe abruptamente a reflexão. Indaga a
si mesmo, inquirindo o público: “Mas, enquanto participantes
desta aula, que posição estamos ocupando neste espaço de produção?”
A lição sobre a aula
Desculpa-se
por retomar temática já discutida em outros cursos. Refere-se,
sobretudo, à sua primeira aula inaugural no Colégio em 1981.
Fala da instituição como instância de consagração. Da
consagração como definidora do valor social de uma conferência.
Da conferência como produtora de legitimidade. Da sua
legitimidade como porta-voz. Do capital específico do campo acadêmico.
Das formas de investimento e incremento deste capital. Das estratégias,
definidas em função de um saber prático incorporado ao longo de
uma trajetória propriamente universitária. De um saber prático
objetivado em disposições de agir. De disposições
constitutivas de um habitus
propriamente acadêmico. Da força simbólica da lição, como
dominação, decorrente de uma autoridade reconhecida. Deste
reconhecimento, possível graças ao desconhecimento das suas
reais causas. Das causas sociais de fatos sociais.
A
seqüência de frases permite o desfile articulado de seus
principais conceitos. Seus sentido e alcance exigem outros como
referencial. O repertório presumido do ouvinte é rico. Os
exemplos do cotidiano são raros. Para explicar o habitus
como sistema de competências, no duplo sentido de habilidades
interiorizadas e de autorização social para agir, o professor
recorre ao conceito de campo, isto é, de um espaço social de
posições, com regras e troféus específicos e, portanto,
relativamente autônomo dos demais campos. “Os conceitos de habitus
e de campo compõem um todo ontológico”, enfatiza o professor.
Ao insistir que o habitus é uma forma de subjetivação das estruturas, ou seja, das
relações de força em ação no campo, o professor torna sua
fala auto-referencial. Qualquer fratura na atribuição de sentido
pode representar minutos de incompreensão. Pior para os não
iniciados.
Apesar
do hermetismo, a lição não é interrompida nenhuma vez. Um
acordo tácito de disposições ao silêncio garante fluidez e
dispensa qualquer determinação expressa. Socializações
semelhantes tendem a gerar práticas orquestradas, sem qualquer
batuta visível. Assim explicaria o mestre a reverência muda com
que foi acolhido.
No
final da aula, duas horas e trinta e quatro minutos após o seu início,
as imagens flagraram a abordagem de alguns alunos. Troquei de sala
e esperei pelas outras indagações. Autorizado por um olhar,
aproximo-me procurando não acusar, em demasia, os efeitos da carência
de recursos sociais, decorrente da combinação de fatores como o
calourismo e a estrangeiridade. “Être mal dans sa peau”
(estar mal na própria pele), fruto de um ineditismo radical, da
falta de qualquer síntese passiva, de um não-sujeito para a
situação, da ausência de experiências ao longo da trajetória
que, aprendidas e interiorizadas, garantissem alguma reação
espontânea, sem cálculo, e oportuna.
“Não
ficou claro em que medida os circuitos de consagração são tanto
mais eficazes quanto maior a distância social do objeto
consagrado”, perguntei. “Isto é claro”, corrigiu o mestre.
“Imagine-se publicando um livro. Três comentários idênticos e
elogiosos: um da sua mãe, outro de um colega da universidade e,
um terceiro, de um professor que, em outro país, deu-se ao
trabalho de traduzi-lo. Qual dos três comentários será mais
valorizante para você?”, perguntou-me com ternura.
A
resposta óbvia tornou o constrangimento indisfarçável. Talvez
por isso tenha buscado um incentivo. “A pergunta foi ótima”,
continuou, sorrindo. “Normalmente as pessoas fazem das perguntas
em palestras um uso legitimador, de autoconsagração. Ao esperar
a saída de todos, você reduziu muito este efeito”, atalhou com
descontração. Este artigo, quatorze anos depois, relata a
pergunta, desmente o mestre e estende para além dos muros da
escola a homenagem que o autor lhe faz a cada aula. Pierre
Bourdieu virou-se e partiu, pondo termo à primeira, mais curta e,
para mim, mais significativa de nossas conversas.
Clóvis
de Barros Filho fazia no ano letivo 1988-89 um D.E.A (Diplôme d´Études
Approfondies) na Universidade de Paris III (Sorbonne Nouvelle).
Hoje é professor do departamento de jornalismo da Faculdade Cásper
Líbero, da ESPM, e de ética e legislação na ECA-USP e na
Universidade Santa Cecília (Santos)
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