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08 agosto 2015

Anita Malfatti e suas obras

 Paisagem, 1915-1917 (EUA, Costa do Maine)

Um dos períodos de maior produção artística de Anita Malfatti foi durante sua estadia nos Estados Unidos, quando a artista se isolou numa ilha de pescadores na Costa do Maine chamada Monhegan Island (nome que serve de subtítulo a um dos quadros da época: Rochedos). Anita vivia com outros pintores que trabalhavam sob a orientação do pintor e filósofo Homer Boss, da Independent School of Art.


Rochedos (Monhegan Island). 1915. oléo s/ tela (60x74) .Col. Guilherme Malfatti, SP


Anita passava os dias pintando ao ar livre, e ao anoitecer ouvia as aulas inspiradas de Homer Boss. Nesse ambiente de liberdade e inspiração, a artista explorou as influências expressionistas adquiridas durante seu aprendizado anterior na Alemanha. Em obras como A Ventania e A Onda, a paisagem local é representada como uma força selvagem, agressiva e dinâmica, e o uso da deformação expressa certa inquietação do olhar humano diante da natureza.


A Ventania. 1915-17. óleo s/ tela (51x61). Col. Palácio dos Bandeirantes, SP.


A Onda. 1915-17. óelo s/ madeira (26,5x36). Col. Paulo Prado Neto, SP.

Uma das obras mais conhecidas desse período é O Farol. Nessa pintura, assim como em O Barco, a paisagem está mais harmonizada com a presença humana,  através das edificações que compõem o cenário. O uso da deformação é sensivelmente menor, em contrapartida Anita utiliza exemplarmente a principal característica do seu expressionismo: as cores abundantes e vivas, a chamada “Festa da Cor”.



O Farol. 1915. óleo s/ tela (46,5x61). Col. Chateaubriand Bandeira de Mello, RJ.


O Barco. 1915. óleo s/ tela (41x46). Col. Raul Sousa Dantas Forbes, SP.

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Retratos, 1915-17 (EUA).

Entre as obras que fomentaram as polêmicas em torno da lendária exposição de 1917,
certamente estão muitos dos retratos pintados por Anita.



A estudante russa. 1915. óleo s/ tela (76x61). Col. Mário de Andrade, Instituto de Estudos Brasileiros da USP, SP.

Tanto nas paisagens quanto nos retratos, a cor é o principal instrumento da jovem Anita Malfatti.
 A obra O homem de sete cores revela essa preocupação intensa, e essa técnica também
irá produzir grandes telas como A boba.


O homem de sete cores. 1915-16. Carvão e pastel s/ papel (60,7x45). Col. Roberto Pinto de Souza, SP.


A boba. 1915-16. Óleo s/ tela (61x50,5). Col. Museu de Arte Contemporânea da USP, SP.

Anita utilizava modelos que posavam na Independent School of Art em troca de alguns
dólares. Essas pessoas, sem nenhuma ligação com o mundo artístico, serviriam como
modelos para obras como A mulher de cabelos verdes e  O homem amarelo, obra
que fascinou Mario de Andrade, quando este sequer conhecia Anita.




A mulher de cabelos verdes. 1915-16. óleo s/ tela (61x51). Col. Ernesto Wolf, SP.





O homem amarelo. 1915-16. óleo s/ tela (61x51). Col. Mário de Andrade, Instituto de Estudos Brasileiros da USP, SP.

Nessas obras, assim como em Uma estudante, Anita revela o seu interesse em retratar o estado psicológico dos seus modelos. O uso de certa deformação moderada, fugindo dos modelos clássicos, causou grande alvoroço em Monteiro Lobato e na elite provinciana de São Paulo.


Uma estudante. 1915-16. óleo s/ tela (76,5x60,5). Col. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, SP.

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Retratos, 1921-27 (Brasil, França).

A recepção negativa da Exposição de 1917 fez com Anita recuasse nas suas propostas inovadoras para a pintura,  assim como afastou a possibilidade de alcançar o Pensionato Artístico do Estado de São Paulo, almejado pela artista desde 1914. No entanto, apesar do escândalo geral, algumas forças ansiosas por renovação cultural já procuravam apoiar e defender a artista. Entre eles está Mario de Andrade (retrato abaixo), grande admirador da pintora, que após a Semana de Arte Moderna de 22 cresceu em importância no cenário cultural paulista. Foi por intermédio de Mario de Andrade que Anita conseguiu o Pensionato Artístico do Estado de São Paulo, e em 1923 a pintora partiu para a França.


Mario de Andrade I. 1921-22. óleo s/ tela (51x41). Col. Particular, SP.

Anita também retratou outros de seus amigos, inclusive a escritora portuguesa Fernanda de Castro. No entanto, muitas de suas composições eram inspiradas em anônimos, vistos ao acaso pela rua, que chamavam a atenção da artista. Entre elas estão a Chanson de Montmartre e Mulher do Pará.



Fernanda de Castro. 1922. óleo s/ tela (73,5x54,5). Col. Marta Rossetti Batista, SP.



Chanson de Montmartre. 1926. óleo s/ tela (73,3x60,2). Col. Roberto Pinto de Souza, SP.


MulherdoPará(nobalcão).1927.óleostela.80x65.Col.JennerAugustoSilveira.Salvador.
Mulher do Pará (no balcão). 1927. óleo s/ tela (80x65). Col. Jenner Augusto Silveira, Salvador.

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Paisagem, 1924-26 (França, Pensionato Artístico).

Ao receber o Pensionato Artístico do Estado de São Paulo, graças ao seu apoiador Mario de Andrade, Anita parte para a França, para retomar seus estudos e dedicar-se unicamente à pintura (no Brasil, ela lecionara artes plásticas e pintara sob encomenda para sobreviver).



Porto de Mônaco. 1925-26. óleo s/ tela (80x64,5). Col. Jenner Augusto Silveira, BA.

A artista também viajaria para a Itália, onde iniciaria um processo de estudo dos clássicos, inclusive realizando réplicas e versões de pintores renascentistas, além de retratar a paisagem local.


Paisagem dos Pirineus (Cauterets). 1926. óleo s/ tela (45,8x54,8). Col. Liliana Maria Assumpção, SP.


Veneza (Canaleto). 1924. óleo s/ tela (51,5x63). Col. Museu de Arte Brasileira da FAAP, SP.

Apesar do recuo da atitude de vanguarda, Anita ainda era capaz de produzir grandes obras, sem abandonar a sua influência do humanismo expressionista, revelando a preocupação introspectiva e psicológica da artista.


La rentrée (interior). 1925-27. óleo s/ tela (88x115). Col. Pedro Tassinari Filho, SP.

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Paisagem, 1940-49 (Brasil).

No final da sua carreira, Anita transforma radicalmente seu jeito de pintar. Ela declara querer abandonar as fórmulas internacionais, e pintar de forma cada vez mais simples. A temática também muda: a instrospecção, e os retratos de forte expressão psicológica são substituídos pela representação da “alma brasileira”. Segundo a própria artista: “É verdade que eu já não pinto o que pintava há trinta anos. Hoje faço pura e simplesmente arte popular brasileira. É preciso não confundir: arte popular com folclore. (…) eu pinto aspectos da vida brasileira, aspectos da vida do povo. Procuro retratar os seus costumes, os seus usos, o seu ambiente. Procuro transportá-los vivos para as minhas telas. Interpretar a alma popular (…) eu não pinto nem folclore, nem faço primitivismo. Faço arte popular brasileira”


As duas Igrejas (Itanhaém). 1940. óleo s/ tela (53,8x66). Col. Particular, SP.



Cambuquira. 1945. óleo s/ tela (50x61,1). Col. Museu de Arte Contemporânea da USP, SP.

Anita procurava transmitir a “ternura brasileira” que não encontrava na arte da época. Para transmitir essa mensagem, achou que a sua técnica antiga era “muito violenta, inacessível à massa” – assim, procurava uma técnica simples, acessível a todos. Procurou cada vez mais esquecer escolas, teorias. Chegaria a declarar, em 1957, que estava “tentando pintar apenas a vida, sem quaisquer preocupações artísticas”, concluindo mesmo: “Se conseguir fazer isso, estarei satisfeita”.



Itanhaém. 1948-49. óleo s/ tela (72x92). Col. Manuel Alceu Affonso Ferreira, SP.


Samba. 1943-45. óleo s/ tela (39,9x49,3). Col. Gabriel de Castro Oliveira, SP.

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