O
caluniador é uma pessoa que está sempre em conflito consigo mesmo. Quem está de
bem com a vida não tem sequer vontade de caluniar, quer apreciar as coisas boas
da vida.
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Roque Theophilo
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CALÚNIA é um termo que vem do latim, calumnia,
engodo, embuste. A calúnia não se confunde nem com a difamação nem com a
injúria, outros dois crimes contra a honra. A difamação (do latim diffamare)
significa desacreditar, sendo um crime que consiste em atribuir a alguém fato
ofensivo à sua reputação de pessoa fiel à moralidade e aos bons costumes. Não se
confunde com a calúnia, pois esta consiste numa imputação injusta de fato
tipificado como crime. Na difamação o que se busca é desacreditar a vítima,
embora sem apontá-la como autora de fato criminoso. Exemplo: afirmar que um
homem solteiro, de hábitos reconhecidamente morigerados, freqüenta prostíbulos.
Trata-se, enfim, de uma imputação de fato desairoso à reputação da
vítima.
Quanto à injúria do latim injuria, de in jus,
injustiça, falsidade, trata-se de um crime contra a honra consistente em
ofender, verbalmente, por escrito, ou fisicamente (injúria real), a dignidade ou
o decoro de alguém. A injúria ofende o moral, abate o ânimo da vítima, ao passo
que a calúnia e a difamação ferem a moral da vítima. Perceba-se a diferença
entre estas três afirmações: "Fulano é um peculatário!" (calúnia); "Beltrano é
um depravado!" (difamação); "Sicrano é um boçal!" (injúria). A injúria pode ser
manifestada não apenas mediante palavras, mas também por gesticulações
ultrajantes (injúria verbal) e, até, fisicamente, quando A, mais avantajado
corporalmente do que B, a fim de aviltá-lo, despe-o em público, embora sem lhe
causar dano físico. Temos, neste caso, a chamada injúria real. Outro exemplo: o
da bofetada que se aplica menos com o intuito de ferir do que
ridicularizar...
A
fofoca traduz um sentimento de maldade de disseminar como joio a intriga, ao
passo que a calúnia mostra o forte instinto maldoso de usurpação da dignidade do
outro pelo engodo e o embuste.
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FOFOCA é o mexerico, intriga, a bisbilhotice É um mal que para muitos é divertimento sem importância, mas que é extremamente destrutivo: A vontade de passar informações faz parte do homem, é a comunicação, é uma ação humana natural e normal, mas na maioria das vezes esquecemos do outro e não medimos as conseqüências das nossas palavras. Quando uma pessoa não controla a cobiça, o resultado é a inveja, que desperta o instinto animal de prejudicar o próximo pela difamação. O vaidoso que é infestado pelo orgulho e pela arrogância, é muito propenso a usar a fofoca. O egoísmo é o resultado da maldade, da indiferença para com o semelhante e, portanto, pela falta de escrúpulos pode-se criar as mais desalmadas mentiras com a idéia de prejudicar o semelhante. Os homens não têm escrúpulos e por isso estão se destruindo, com mentiras, murmurações, mexericos e fofocas e em todas elas o "ingrediente" principal é a vida do próximo. Existe uma verdadeira indústria por trás da fofoca. Revistas, programas de televisão especializados em fofocas, jornais sensacionalistas que vendem isso, milhares e milhares de pessoas envolvidas na indústria milionária do mexerico. Tudo mentira, falso testemunho, afinal o ditado não é este: "quem conta um conto aumenta um ponto"? E não para por aí. Pior que este são os que fazem isso todos os dias de graça, por puro prazer, pendurados em janelas, nos bares, nas ruas, no trabalho. Aliás, se dedicassem em seus afazeres o mesmo tempo que gastam com mexericos, já seriam chefes. A murmuração e o mexerico nos são impostos pela carne. Qual de nós não fica com a "língua coçando" para passar para frente uma notícia. No entanto, se vivemos com o nosso espírito em Deus, teremos um "filtro" que irá separar o que pode causar mal ao nosso semelhante.
Em resumo enquanto que fofocar significa
intrigar, caluniar consiste em difamar fazendo acusações falsas ou atribuindo
falsamente a alguém fato definido como crime. Na calúnia, portanto, há violência
maior. Ainda procuramos negar e esconder este fenômeno quando dele somos
vítimas. Sentimos vergonha de sermos caluniados quando a vergonha seria adequada
sentir por aquele que gera a calúnia. Por vezes, até mesmo nos submetemos ao
caluniador do grupo em que convivemos.
Afirmativas como "onde há fumaça há fogo", em
verdade são armas utilizadas pelos caluniadores. O correto é: "onde há fumaça há
um caluniador". Para bom entendedor, quem está sendo exposto não é o caluniado,
mas sim o caluniador: revela-se e desvenda um interior conflitado.
O caluniador é uma pessoa que está sempre
em conflito consigo mesmo. Quem está de bem com a vida não tem sequer vontade de
caluniar, quer apreciar as coisas boas da vida.
Por vezes, as pessoas lidam de forma inadequada
com suas perturbações. Por exemplo, passam a ingerir muita bebida de álcool, ou
mergulham num mundo imaginário e se afastam da vida real. Outra forma inadequada
é a calúnia. O caluniador procura transferir seu desequilíbrio para outra
pessoa. Lançando uma calúnia ele percebe que o interior da pessoa atingida
começa a se desorganizar. Para que isso ocorra, a calúnia deve ser impactante,
deve penetrar no interior da vítima e estourar como uma bomba. Portanto, agora
quem está desequilibrado é o outro e não mais ele. Ou há mais alguém perturbado
e em sofrimento como ele. Como este artifício é fantasioso, não promove um
alívio duradouro ao caluniador, como um vício ele sente necessidade de repetir e
repetir o ato de caluniar. É uma falsa saída para seu desequilíbrio. É
como se alguém pegasse o lixo de sua casa e jogasse no pátio do vizinho. Por
alguns momentos tem a sensação de estar limpo. Mas o lixo reaparece na sua casa,
pois ela é o gerador de lixo.
Existem dois tipos de caluniadores: aquele que
calúnia sistematicamente e aquele que o faz num momento em que sua vida não vai
bem.
E existem também as pessoas que levam adiante a
calúnia gerada por outro. É um fenômeno que acompanha a humanidade desde sempre.
Um dramaturgo romano, Plauto, escreve em uma de suas peças: "Os que
propalam a calúnia e os que a escutam, se prevalecesse minha opinião, deveriam
ser enforcados, os primeiros pela língua e os outros pela orelha". Brincadeiras à parte, temos que aprender a lidar
com estes fenômenos. Todos estamos sujeitos a ele. Scheakespeare escreveu:
"Mesmo que sejas tão puro quanto a neve, não escaparás à calúnia".
A recuperação de quem sofre a calúnia se faz a
medida em que a pessoa não se submete ao fenômeno, encara-o de frente, conversa
com seus amigos. Preserva sua auto-estima, desvinculando-se desta agressão
verbal e psicológica da qual está sendo vítima. Poderá buscar ajuda profissional
numa psicoterapia de cura duração de tipo Interpessoal.
Aquele que se percebe gerando calúnia,
também se beneficiará de uma ajuda profissional para procurar lidar de uma
maneira mais eficaz com seus desequilíbrios.
O mecanismo da fofoca e da calunia pode ser
avaliado por uma experiência subliminar que em psicologia é um estímulo que não
é suficientemente intenso para que o indivíduo tome consciência dele, mas que,
repetido, atua no sentido de alcançar um efeito desejado. Salomon Asch (citado por Joan Ferrés em Televisão
Subliminar. Porto Alegre: ArtMed., 1998. p. 50.) fez uma pesquisa com estudantes
universitários nova-iorquinos com a finalidade de destacar o caráter
contaminante das idéias, sobretudo do pensamento associativo, menos por seu
conteúdo e bem mais pela forma como é apresentado e é possivelmente esse
mecanismo um grande exacerbador da virulência com que as fofocas se propagam
numa total distorção do fato verdadeiro.
Faça uma experiência extremamente simples com
dois grupos de pessoas que não se conheçam. Ao iniciar o teste da fofoca, diga
que passará algumas referências a respeito de uma personagem que é seu amigo
chamado Ronaldinho. Passe, então, a informação: ao primeiro grupo, dizendo que o
seu amigo Ronaldinho é muito competente, honesto, ordeiro, teimoso, mentiroso,
impulsivo e fofoqueiro; e ao segundo grupo, passe as mesmas informações,
alternado a ordem dos adjetivos que caracterizam a personagem. Assim, Ronaldinho
é um fofoqueiro, impulsivo, mentiroso, teimoso, ordeiro, honesto e competente.
Espere passar uma semana e indague uma ou mais pessoas de cada um dos grupos o
que lembram de Ronaldinho. Poderão ocorrer tipos de resposta diferentes, porém
será mais provável que o primeiro grupo lembre mais as qualidades positivas de
Ronaldinho e o segundo, as negativas. Ainda que aspectos positivos e negativos
tenham sido apresentados em igual quantidade e, literalmente, tenham sido os
mesmos, a ordem em sua apresentação despertou o pensamento primário e, dessa
forma, condicionou um preconceito que contaminará todo o resto da informação. Se
esse fato não ocorrer, provavelmente, a pessoa associou Ronaldinho a um
conhecido seu e guardou na memória os adjetivos com os quais associa esse amigo.
Caso contrário, lembrará primeiro dos adjetivos positivos ou negativos, que
tenham sido priorizados na apresentação. Essa pequena mostra como as
comunicações podem distorcer os fatos o que acontece normalmente nas fofocas.
Longe de ser apenas um prosaico experimento, os estudos que se seguiram àquele
mostram a imensa importância da hierarquia de idéias que deve estar presente em
todo tipo de apresentação que fazemos de um fato. Embutem-se idéias centrais
fortes, decisivas, conclusivas e essenciais e outras idéias periféricas, bem
menos relevantes, meramente auxiliares. Se sua apresentação não enfatizar e
ordenar as primeiras.
Provavelmente, graças a esse poder contaminante
do pensamento primário é que, muitas vezes, julgamos uma causa por sua
aparência, brigamos com amigos por detalhes fúteis e esquecemos o imprescindível
para guardar o periférico. Então no caso da fofoca esquecemos as qualidades boas
da pessoa e exaltamos as más.
PÍLULA DA FRATERNIDADE
A fofoca traduz um sentimento de maldade de
disseminar como joio a intriga, ao passo que a calúnia mostra o forte instinto
maldoso de usurpação da dignidade do outro pelo engodo e o embuste.
* Psicólogo e Jornalista Profissional, é
autor do título « O Amigo Psicólogo ® ». Presidente das Academia Brasileira de
Psicologia e Academia Internacional de Psicologia, e um dos pioneiros da
Psicologia no Brasil.
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