Um
estudo divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) mostra que as
mulheres negras no Brasil têm as piores condições de acesso à saúde e
chegam a ter uma taxa de mortalidade materna 66% maior do que a das
mulheres brancas. Os negros também são mais afetados por doenças como a
hanseníanse e tuberculose. O levantamento, realizado em parceria com a
Universidade Federal do Rio de Janeiro e divulgado ontem, compilou uma
série de indicadores já produzidos pelo governo brasileiro. A diferença é
que os pesquisadores focaram no recorte racial.
O Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil 2009 – 2010
mostra que entre mulheres brancas a taxa de mortalidade materna é de
40,5. Já entre negras ela sobe para 67. As mães afro-descendentes têm
menos acesso ao pré-natal, sendo que apenas 42,5% realizam ais de sete
consultas durante a gestação – porcentual que chega a 70% entre as
brancas.
A
prevenção também tem acesso diferenciado. As mulheres negras fazem
menos exames preventivos de câncer de mama e colo do útero e vão menos
ao dentista. A hanseníase, ainda, afeta duas vezes mais a população que
se define como preta ou parda. A violência – uma das principais causas
de mortalidade no Brasil – também vitimiza mais a população negra. Entre
2006 e 2007, 63% das pessoas assassinadas eram pretas ou pardas.
Quando
há uma análise sobre as condições socioeconômicas, os afro-descendentes
também têm os piores indicadores. A renda média é a metade e a taxa de
analfabetismo 13 pontos porcentuais maior. A expectativa de vida entre
brancos é 5 anos maior.
Entre
os avanços apontados há a quase universalização do ensino fundamental
para crianças negras e pardas e o crescente reconhecimento de
comunidades quilombolas. Hoje pretos e pardos representam 50,3% da
população brasileira e os brancos, 48,8%.
Para
a procuradora federal da Fundação Palmares, Dora Lúcia Bertúlio, o
relatório de 300 páginas mostra que o progresso das últimas décadas não
foi significativo para diminuir as desigualdades raciais. Ela lembra
que, em média, a população negra fica 50% abaixo nos indicadores em
relação aos brancos. “A sociedade brasileira é racista e parece que os
números não são relevantes.”
Críticas
Levantamentos
que fazem apenas o recorte racial e não de renda recebem críticas de
alguns especialistas. De acordo com eles, os brancos pobres sofreriam a
mesma desigualdade que negros pobres. O historiador e professor da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) José Roberto Pinto de
Góes é um dos críticos. “Não acho que os brasileiros possam ser
classificados em negros ou brancos”, afirma.
Góes
diz que acredita em direitos iguais para todos. “Privilégios apenas
para quem deles precisa, como os deficientes físicos e os idosos. Que
importância pode ter a cor da pele de alguém?” Para ele, é lamentável
que a ONU se preste a chancelar um documento cujo título dá a entender
que é lícito recorrer à ideia de raça para tratar dos assuntos humanos.
(GP)
Fonte http://molinacuritiba.blogspot.com.br |
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