Este ano, a Chloe comemora seu 60º aniversário. A casa, fundada em 1952 por Gaby Aghion, abriu a era do estilo moderno de se vestir, levando roupas femininas e relativamente simples ao grande público. |
Este ano, a Chloe comemora seu 60º aniversário. A casa, fundada em 1952 por Gaby Aghion, abriu a era do estilo moderno de se vestir, levando roupas femininas e relativamente simples ao grande público. Um grande número de estilistas passou pela grife, mas sua natureza despreocupada sempre levou a melhor sobre sua estética.
Karl Lagerfeld
Durante sua épica carreira, Karl Lagerfeld passou 25 anos no comando da Chloe, em duas fases diferentes, e ajudou a definir seu espírito romântico e suave, inclusive com uma queda ocasional pela art déco.
A primeira começou em 1963, quando trabalhou ao lado de vários outros talentos arregimentados por Gaby Aghion, incluindo Graziella Fontana, Tan Giudicelli e Michele Rosier. Lagerfeld assumiu como única força criativa em 1966, aproveitando ao máximo a parceria com uma das pioneiras mais dinâmicas da moda.
"Gaby era divertida, vibrante, eloquente – muito culta e engraçada", ele relembrou numa entrevista. "Gosto de trocar ideias com mulheres quando crio vestidos e ela era muito franca, muito vivida."
"Fizemos muitas coisa interessantes. O que eu mais gostei foi a combinação de roupas femininas e peças pop bem malucas", concluiu ele.
Vestidos pintados à mão, peças em camadas e casacos grandes fazem parte do legado de Lagerfeld na Chloe, mas foram principalmente as coleções Art Déco que causaram um verdadeiro furor.
"Não gosto de retrospectivas", disse ele à Women's Wear Daily em 1969, "mas os anos 20 e 30 foram a última época relativamente próxima a nós em que as coisas ainda eram bem feitas, tinham qualidade".
Embora seja famoso hoje pelos cenários elaborados que cria para a Chanel, Lagerfeld na verdade introduziu o conceito enquanto trabalhava na Chloe, para "Casanova de Fellini" de 1977, no Palais de Congres, e outro desfile em 1978, no Palais de Chaillot, no qual as modelos, usando joias pesadas, surgiam trancafiadas em jaulas e soltas pela modelo Pat Cleveland.
Credit: WWD |
'Fiz coisas bem audaciosas para a Chloe. A Gaby não tinha medo de nada', revela Lagerfeld.
As estampas eram o ponto alto das coleções e era o próprio Lagerfeld que as criava. O trabalho era feito pela confecção italiana Bini.
Nos anos 70, Lagerfeld colocou a Chloe – criada sobre o conceito de prêt-à-porter de luxo como uma alternativa inovadora à alta costura – numa posição inédita de destaque. Embora seus vestidos de noite estivessem entre os mais caros da época e não saíssem por menos de US$ 1 mil cada um, eram vendidos com facilidade espantosa.
'É estranho, mas geralmente as peças mais caras – como as blusas Casanova – eram as que saíam mais', ele disse à Women's Wear Daily numa entrevista em 1977. 'Eu crio para uma mulher especial, que não tem necessariamente 17 anos nem 50. Não posso classificar minha clientela por tipo ou idade, mas dela fazem parte gente como Gaby van Zuylen, Veronique Peck e Margaux Hemingway.'
Ele estava a anos-luz dos joguinhos na tendência high-low de Sharon Stone, que ficou famosa por combinar uma blusa de gola alta de US$ 22 da Gap com uma saia Valentino na festa do Oscar de 1996; a atriz repetiria a dose em 1998, combinando uma camisa da Gap com uma saia Vera Wang.
'Gosto da ideia de combinar uma camisa de algodão ou uma jaqueta com um vestido de noite de seda, por exemplo, essa coisa de misturar tecidos caros com os mais baratos. Esse estilo denota bom humor', Lagerfeld comentou em 1977.
Para ele, foram as lojas de departamentos e especialidades norte-americanas ‒ incluindo Neiman Marcus, Bergdorf Goodman, Bloomingdale's e I. Magnin e lojistas como Sonja Caproni, Phillip Miller e o falecido Marvin Traub ‒ que criaram o nome e a reputação da Chloe no exterior. 'Eles fizeram um trabalho incrível', confessou.
A parceria entre o estilista e a casa se desfez em 1983, quando seu contrato acabou – mesmo ano quem que ele assinou com a Chanel. Segundo fontes seguras, a Chloe era um negócio robusto e para lá de saudável quando Lagerfeld saiu, vendendo quase tanto quanto prêt-à-porter quanto a Yves Saint Laurent.
Apesar disso, ele criticou abertamente a administração da casa, depois de ter batido de frente com o sócio de Aghion, Jacques Lenoir, durante muito tempo.
'Eles arranharam a minha reputação durante vários anos', lamentou ele para a Women's Wear Daily em 1982, acusando a marca de vender uma 'coleção horrível' no Oriente Médio e exibir peças nas campanhas publicitárias que ele nunca criou, violando assim seu contrato.
Em 1985, Aghion e Lenoir venderam a empresa para a Compagnie Financière Richemont SA, a antiga Dunhill Holdings. 'Tiveram que vender bem rápido depois que eu saí', explicou ele.
Lagerfeld voltou para a Chloe em 1992, período durante o qual criou várias campanhas publicitárias de sonho estreladas por Linda Evangelista – e brigou com o então CEO Mounir Moufarrige. 'Cinco anos foram mais que suficientes', disse Lagerfeld.
Em 1997, ele foi substituído por Stella McCartney, cujo trabalho para a grife aprendeu a admirar, bem como a visão 'mais romântica' da sucessora de Stella, Phoebe Philo.
Martine Sitbon
Quando Martine Sitbon chegou na Chloe, em 1987, o conceito do estilista jovem contratado para reavivar uma grife já estabelecida ainda estava engatinhando.
Mesmo assim, foi exatamente isso que ela fez nos quatro anos seguintes, ajudando a pôr a Chloe de volta no mapa da moda depois da turbulência que a saída de Karl Lagerfeld causou em 1983.
Sitbon, que tinha lançado uma grife própria no ano anterior, a princípio se mostrou empolgada com o trabalho e acabou produzindo algumas das coleções prêt-à-porter mais caras do mercado na época.
'Para mim foi fascinante porque pude trabalhar com bordadores como François Lesage e Montex. Adorei a experiência', ele relembra. 'Tudo feito na França, era quase alta costura.'
Porém, a parceria começou a vacilar quando ela percebeu que faria parte de uma equipe de três diretores criativos ao lado de Samy Shalom, de 33 anos, que já tinha trabalhado com o estúdio de criação da prêt-à-porter da Pierre Balmain, e David Chaumont, de 25, ex-assistente de Christian Lacroix na Jean Patou.
'A forma como eles trabalhavam na época hoje seria impensável – havia um estilista responsável por uma parte de cada uma das coleções', relembra Sitbon. 'Era um verdadeiro balaio de gatos.'
Sitbon estava pronta para pedir a conta depois de apenas seis meses quando uma mudança na direção da Dunhill (que já pertencia à Compagnie Financière Richemont), dona da grife, anunciou novidades na estratégia. O novo CEO, Jaime Rovira, a escolheu para ser a única responsável pela criação, dando-lhe poderes para estabelecer sua combinação tradicional de alfaiataria conservadora e elementos femininos mais suaves.
'A reação da imprensa foi imediata e muito positiva, anunciando que a Chloe estava de volta com uma energia nova e muito feminina', disse ela. 'Foi uma das primeiras casas, se não a primeira, a contratar uma estilista jovem e dar-lhe carta branca para fazer uma coleção que redefinisse a identidade da grife.'
O período também coincidiu com o surgimento das top models, embora Sitbon faça questão de notar que sua musa pessoal de longa data, Kirsten Owen, foi considerada 'descolada demais' pela diretoria e acabou sendo rejeitada. A estilista, por sua vez, não gostava das modelos muito populares, que desviavam a atenção das roupas.
'Uma vez eu simplesmente me recusei a usar a Claudia Schiffer porque durante o desfile inteiro só se ouvia os fotógrafos berrando: 'Claudia! Claudia!'', confessa, 'mas a verdade é que as modelos davam uma energia fantástica aos desfiles e faziam parte do sucesso'.
Stella McCartney
A busca que terminou com Stella McCartney sucedendo Karl Lagerfeld na Chloe foi longa e muito significativa ‒ afinal, o estilista estava acomodado na casa há anos e já se sabia que o trabalho de seu substituto seria esmiuçado nos mínimos detalhes.
Em 1997, Stella tinha 25 anos e acabara de se formar em moda pela Central Saint Martins de Londres; da noite para o dia, ganhou o cargo de diretora criativa, um ateliê em Paris – e ficou à mercê do escrutínio do mundo da moda.
'Eu era supernovinha e tive que organizar meus primeiros desfiles em Paris', relembra a estilista.
'Quando cheguei, tinha a impressão de que a casa tinha uma base sólida, além de muita história e tradição. Só que precisava também de renovação, de um sopro de ar fresco, de mudanças.'
'Acho que abri a grife para um público totalmente novo, joguei um tempero mais masculino numa marca cuja base sempre foi muito menininha.'
McCartney criou um impacto imediato com suas jaquetas bem cortadas e calças de cintura baixa, sua estética um tanto andrógina, seus looks inspirados em lingerie e sua visão romântica – e, às vezes, até simples demais – da moda.
Sua primeira coleção arrancou elogios tanto das lojas como dos críticos. A Women's Wear Daily a considerou 'charmosa', 'puro deleite, uma brincadeira positiva com clima de festa' e embora não tenha 'estabelecido novos rumos para a moda', ela 'sem dúvida criou um novo caminho – jovial e com um toque da excentricidade inglesa'.
A estilista, que sempre foi vegetariana e defensora da causa animal, se disse orgulhosa de manter seus princípios intactos durante a temporada em que trabalhou na casa. 'Nunca usamos couro e pele e tenho muito orgulho disso', anunciou ela.
Stella deixou a Chloe em 2001.
E disse que saiu de lá com uma bagagem incrível: 'De repente eu tinha um ateliê, onde as roupas eram feitas à mão, com arte e cuidado. Tive a oportunidade de conferir a habilidade das costureiras e o trabalho de uma casa de moda em primeira mão, com toda a sua tradição, talento e conhecimento'.
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