Mais um livro de Monteiro Lobato será investigado pelo Supremo
Tribunal Federal (STF) por suspeita de racismo. Desta vez, “Negrinha” –
adquirido em 2009 pelo Programa Nacional da Biblioteca (PNBE) do MEC, é
apontado pelo Instituto de Advocacia Racial (Iara) como uma obra de
conteúdo preconceituoso. A denúncia surgiu no mesmo dia em que o Supremo
se reuniu para debater “Caçadas de Pedrinho”, denunciado há alguns
meses atrás.
O Iara e o pesquisador de gestão educacional Antônio Gomes da Costa
Neto são contra o parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE), que
liberou distribuição da publicação nos colégios. O MEC defendeu que uma
nota explicativa nas edições futuras seria suficiente para
contextualizar a obra. Já os membros querem interromper a distribuição
do livro nas escolas.
- Não diminuímos 1 milímetro sequer do pedido inicial. As políticas
públicas não estão de acordo com a realidade. Achamos que estão sendo
feitas, mas é muito pouco – disse o advogado do Iara, Humberto Adami,
que está disposto a acionar cortes internacionais. – O negro não pode
ser visto como eterno escravizado. Vamos buscar a Organização dos
Estados Ibero-americanos (OEA) no caso de não conseguirmos resolver no
Poder Judiciário brasileiro essa questão.
As informações da reunião serão encaminhadas ao ministro Luiz Fux, do Supremo, que também deverá decidir sobre o tema.
Para muitos estudiosos da obra de Monteiro Lobato, o conto
“Negrinha”, publicado em livro do mesmo nome no ano de 1920, é uma
denúncia do autor contra as desigualdades entre negros e brancos. Mas o
Iara vê na obra traços de racismo. Na representação, o instituto afirma
que “o texto demonstra que a prática de lesões físicas contra os negros
(escravizados) além de costumeiro, não trazia qualquer constrangimento” e
que “o objetivo do conto não é denunciar o racismo, ou mesmo
desconstruí-lo, trata-se da realidade que o autor e a sociedade da época
tem para com relação ao negro”.
Um trecho de “Negrinha
“Damião olhou para a pequena: (Lucrécia) era uma negrinha, magricela,
um frangalho de nada, com uma cicatriz na testa e uma queimadura na mão
esquerda. Contava onze anos. Negrinha era uma pobre órfã de sete anos.
[...] Assim cresceu Negrinha – magra, atrofiada [...] O corpo de
Negrinha era tatuado de sinais, cicatrizes, vergões.
Caçadas de Pedrinho
Publicado em 1933, “Caçadas de Pedrinho” relata uma aventura da turma
do Sítio do Picapau Amarelo à procura de uma onça-pintada. Entre os
trechos que justificariam a conclusão de racismo estão alguns em que Tia
Nastácia é chamada de negra. Outra parte diz: “Tia Nastácia, esquecida
dos seus numerosos reumatismos, trepou que nem uma macaca de carvão”.
Em 2010, o CNE chegou a determinar que “Caçadas de Pedrinho” não
fosse mais adotado, mas voltou atrás depois de o MEC pedir ao conselho
que reconsiderasse a decisão. O CNE indicou, então, que as novas edições
da obra apresentassem uma nota técnica que instruísse o professor a
explicar o livro no contexto histórico em que foi escrito. A posição do
governo é contrária à censura ou suspensão do livro. Fonte http://www.revistaafro.com.br
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