(Um presente para os meus ouvidos! (Kelly Cristiane)
Foto by timeout.com.br
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"Craziness", loucura em inglês, é um termo que Rachel Jesuton Amosu, 27, repete com frequência ao falar sobre seus últimos sete meses.
Neste período, ela deixou sua Londres natal para realizar um antigo desejo de morar no Brasil, mudou-se para o Rio com o marido, um chef de cozinha argentino, e foi viver no Chapéu Mangueira, favela no Leme (zona sul).
Para ganhar a vida, muniu-se de um amplificador --"Me custou R$ 2.700, o que era quase todo o dinheiro que eu tinha àquela altura"-- e foi cantar nas ruas da cidade, em locais movimentados como o largo da Carioca e a Lapa (no centro), Ipanema e Largo do Machado (zona sul).
Não demorou a atrair a atenção e os trocados dos passantes com sua voz poderosa, que lembra a de artistas populares que ela cantava, como Adele ("Someone Like You") e Amy Winehouse ("Back to Black").
As pessoas começaram a gravar suas cantorias públicas e a jogar os vídeos no YouTube --os primeiros são de quatro meses atrás.
O burburinho foi crescendo, assim como o número de fãs no Facebook (até a última quinta, eram mais de 25 mil "likes"), e de repente ela estava no programa de Luciano Huck, para onde voltou duas vezes.
Hoje, Jesuton tem gravadora (Som Livre), empresária, duas músicas à venda no iTunes (versões de "Wild Horses", dos Rolling Stones, e "Same Mistake", de James Blunt) e um disco a caminho, programado para outubro.
Ela começou a tocar em rádios cariocas e a ter uma agenda de shows --na próxima terça, se apresenta ao lado de Ana Carolina no Prêmio Multishow, cantando "The Blower's Daughter", de Damien Rice. Chega a São Paulo em novembro, com apresentações no Tom Jazz.
"Quem poderia imaginar essa loucura que está acontecendo? Eu não planejei vir ao Brasil para cantar nas ruas e gravar um disco", diz ela à Folha, num português com sotaque, mas compreensível e razoavelmente articulado.
Se não planejou nada do que lhe aconteceu nos últimos meses, é certo que essa filha de um nigeriano com uma jamaicana sempre teve clara vontade de cantar.
"Eu canto desde criança e sempre gostei da sensação física que me dá. Não importava quão tensa ou deprimida eu estivesse, quando eu começava a cantar era uma experiência purificadora."
A timidez excessiva somada a uma criação que valorizou o foco nos estudos, no entanto, fizeram com que ela não sonhasse com uma carreira de cantora.
Graduada em ciências humanas pela universidade de Oxford, na Inglaterra, e mestre em desenvolvimento internacional pela George Washington University (EUA), Jesuton ("filha de Jesus", no idioma nigeriano de seu pai) passou um tempo no Peru fazendo trabalho voluntário.
Morando em Cuzco, começou a cantar em bares e desenvolveu a confiança para encarar uma plateia.
Também começou a alimentar a ideia de viver no Brasil e, quem sabe, de música; voltaria a Londres para acumular dinheiro antes de se mudar para o Rio.
A cantora se vê em um momento "interessante" para começar a carreira.
EXEMPLAR
"Antes, o poder estava todo com as gravadoras, que escolhiam quem queriam apresentar ao público. Hoje, as pessoas podem colocar um vídeo no YouTube e as gravadoras têm de prestar atenção ao que o público está vendo. Meu caso é exemplar."
Seu primeiro álbum mostrará os hits que ela já vinha cantando --de Adele, Amy, Stones--, mas também terá "Sodade", da cabo-verdiana Cesaria Évora, "O Mundo É um Moinho", de Cartola, e uma versão em inglês, feita por ela, para um sucesso de Cássia Eller, "Nós".
Quando mira o futuro, mantém os pés no chão. "Isso é o que está acontecendo hoje, amanhã provavelmente as coisas vão mudar. Eu vou seguindo o fluxo." Folha
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