10 escritores brasileiros negros
Matéria
Dez autores brasileiros negros, grande maioria responsável por representar realidade vivida pelas pessoas negras em nosso país
Embora não tenha muito espaço nas grandes editoras e nos grandes
eventos literários, existe literatura de boa qualidade escrita por
negros e negras no Brasil. É importante haver essa literatura no país,
pois sua grande maioria tem como foco a representatividade, isto é, uma
literatura que retrata e explicita o cotidiano, os impasses e os
problemas sociais e históricos vivenciados pelas pessoas negras do país.
Esta lista busca indicar, de forma concisa, dez autores, romancistas,
poetas, contistas e cronistas. Claro que existem muito mais escritores
que igualmente merecem atenção e espaço no mundo literário brasileiro,
ainda tão branco e elitista. Abaixo são destacados autores, alguns já
muito conhecidos e outros nem tanto, altamente contemporâneos, bem como
suas produções literárias. Confira:
1. Maria Firmina dos Reis
A escritora Maria Firmina dos Reis, nascida em São Luís – MA, rompeu
barreiras no país e na literatura brasileira. Aos 22 anos, no Maranhão,
foi aprovada em um concurso público para a Cadeira de Instrução
Primária e, por isso, foi a primeira professora concursada do estado.
Seu romance Úrsula (1859) foi o primeiro romance abolicionista
brasileiro e, além disso, o primeiro escrito por uma mulher negra no
Brasil. No auge da campanha abolicionista, publicou A Escrava (1887), o que reforçou a sua postura antiescravista. Publicou ainda o romance Gupeva(1861); poemas em Parnaso maranhense (1861) e Cantos à beira-mar
(1871). Além disso, publicou poemas em alguns jornais e fez algumas
composições musicais. Quando se aposentou, em 1880, fundou uma escola
mista e gratuita.
2. Carolina Maria de Jesus
Carolina Maria de Jesus, moradora da antiga favela do Canindé, em São
Paulo, é conhecida por relatos em seu diário, que registravam o
cotidiano miserável de uma mulher negra, pobre, mãe, escritora e
favelada. Foi descoberta pelo jornalista Audálio Dantas, encarregado
certa vez de escrever uma matéria sobre uma favela que vinha se
expandindo próxima à beira do Rio Tietê, no bairro do Canindé; em meio a
todo rebuliço da favela, Dantas conheceu Carolina e percebeu que ela
tinha muito a dizer. Seu principal livro é Quarto de despejo (1960), no qual há relatos de seu diário. Também publicou Casa de Alvenaria (1961); Pedaços de fome (1963); Provérbios (1963); postumamente foram publicados Diário de Bitita (1982); Meu estranho diário (1996); entre outros.
3. Joel Rufino dos Santos
O carioca Joel Rufino dos Santos, além de escritor, foi historiador e
professor, um dos nomes de referência sobre o estudo da cultura
africana no país. Foi exilado por suas ideias políticas contrárias à
ditadura militar brasileira e, por isso, morou na Bolívia durante um
tempo, mas foi detido quando retornou ao Brasil, em 1973. Também
trabalhou como colaborador nas minisséries Abolição e República, de
Walter Avancini. Além disso, já ganhou diversas vezes o Prêmio Jabuti
de Literatura, o mais importante no país. Publicou os livros Bichos da Terra Tão Pequenos (2010); Claros Sussurros de Celestes (2012); Crônica De Indomáveis Delírios (1991); Na Rota dos Tubarões (2008); Quatro Dias de Rebelião (2007); além de outras publicações não literárias.
4. Machado de Assis
Joaquim Maria Machado de Assis quase dispensa apresentações, pois é
considerado o maior nome da literatura brasileira. Além de seus tão
conhecidos romances, publicou contos, poemas, peças de teatro e foi
pioneiro como cronista. Publicou em inúmeros jornais e foi o fundador da
Academia Brasileira de Letras, juntamente com escritor José Veríssimo.
Machado de Assis foi eleito presidente da instituição, ocupando este
cargo até sua morte. Escreveu mais de 50 obras, mas está para sempre
imortalizado por causa das obras Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881); Quincas Borba (1891); Dom Casmurro, (1899) e O Alienista (1882). Vale relembrar que até pouco tempo atrás, era representado como um homem branco em determinadas propagandas.
5. Elisa Lucinda
Elisa Lucinda dos Campos Gomes é uma poeta brasileira, jornalista,
cantora e atriz brasileira. É muito conhecida por suas atuações em
novelas da Rede Globo, pelo prêmio que recebeu pelo filme A Última Estação
(2012), de Marcio Curi, e pelos seus inúmeros espetáculos e recitais em
empresas, teatros e escolas de todo o Brasil. Publicou inúmeros livros,
dentre eles A Lua que menstrua (1992); O Semelhante (1995); Eu te amo e suas estreias (1999); A Fúria da Beleza (2006); A Poesia do encontro (2008), com Rubem Alves; Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada (2014). Além disso, lançou CDs de poesias.
6. Cruz e Sousa
João da Cruz e Sousa, também conhecido como Dante Negro ou Cisne
Negro, foi o único poeta de pura raça negra, não tinha nada de mestiço,
segundo Antonio Candido (grande estudioso da literatura brasileira e
sociólogo). Era filho de escravos alforriados, mas recebeu a tutela e
uma educação refinada de seu ex-senhor, o marechal Guilherme Xavier de
Sousa – de quem adotou o nome de família, Sousa. Aprendeu línguas como
francês, latim e grego. Além disso, aprendeu Matemática e Ciências
Naturais. Seus poemas simbolistas são marcados pela musicalidade, pelo
individualismo, pelo espiritualismo e pela obsessão pela cor branca.
Publicou os livros Broquéis (1893); Missal (1893) Tropos e Fantasias (1885), com Virgílio Várzea; postumamente foram publicados Últimos Sonetos (1905); Evocações (1898); Faróis (1900); Outras evocações (1961); O livro Derradeiro (1961) e Dispersos (1961).
7. Mel Adún
Mel Adún é uma escritora afro-baiana que reside em Salvador. Além
disso, é pesquisadora e assessora de imprensa e comunicação do Coletivo
Ogum’s Toques. Iniciou sua carreira literária no ano de 2007, escrevendo
textos dos mais variados gêneros para diversas idades, sempre
retratando a presença do lugar feminino na sociedade brasileira, em
especial do feminino negro. Publicou o livro A lua cheia de vento (2015), participou da Coletânea Ogums Toques Negros (2014) e de alguns números da antologia Cadernos Negros.
8. Conceição Evaristo
A escritora brasileira Conceição Evaristo foi criada em uma favela da
zona sul de Belo Horizonte. Em sua vida teve de conciliar os estudos
com a vida de empregada doméstica, formando-se somente aos 25 anos. No
Rio de Janeiro, passou em um concurso público para o magistério e
estudou Letras (UFRJ). É mestra em Literatura Brasileira (PUC-RJ) e
doutora em Literatura Comparada (UFF). Atualmente, leciona na UFMG como
professora visitante. Estreou na literatura em 1990, com obras
publicadas na antologia Cadernos Negros. Suas obras abordam tanto a questão da discriminação racial quanto as questões de gênero e de classe. Publicou o romance Ponciá Vicêncio (2003), traduzido para o inglês e publicado nos Estados Unidos em 2007; Poemas da recordação e outros movimentos (2008) e Insubmissas lágrimas de mulheres (2011).
9. Fátima Trinchão
A escritora baiana Fátima Trinchão, graduada em Letras – Francês,
publicou seu primeiro texto literário, o poema “Contemplação”, no jornal
A tarde. Desde então, várias outras publicações aconteceram.
Seus poemas fazem referência a fatos vividos por povos africanos e seus
descendentes brasileiros e seus poemas e crônicas estão sempre ligados
às questões sociais relevantes para os afrodescendentes. Participou da
antologia Hagorah (1984), da antologia Baia de Todos os Encantos (2011), da antologia Versos e Contos (2010), da antologia Versatilavra (2010) e de três números da antologia Cadernos Negros, com contos e poemas. Publicou Contos, crônicas e artigos (2009) e Ecos do passado (2010).
10. Elizandra Sousa
Elizandra Sousa é uma escritora paulista, formada em Comunicação
Social – habilitação em Jornalismo (Mackenzie). É editora e jornalista
responsável da Agenda Cultural da Periferia – Ação Educativa, editora do
Fanzine Mjiba e poeta da Cooperifa desde 2004. Publicou o livro Águas da Cabaça (2012),
com ilustrações de Salamanda Gonçalves e Renata Felinto (a obra faz
parte do projeto Mjiba – Jovens Mulheres Negras em Ação) e Punga (2007), coautoria de Akins Kintê. Participou das antologias Cadernos Negros, Sarau Elo da Corrente, Negrafias; entre outras publicações.
Fonte http://homoliteratus.com/10-escritores-brasileiros-negros/
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