Golpes em relacionamentos com estrangeiros |
O começo da história é sempre
parecido. Você conhece um estrangeiro pelo Facebook ou Whatsapp, muitas
vezes por um pedido de amizade vindo do nada. Vocês começam a conversar.
No início é só amizade, mas aos poucos vocês passam a se falar todos os
dias. Não demora, ele diz que te ama. Faz promessas de fidelidade,
compromisso e paixão. Nunca conheceu uma mulher como você. Essas
conversas acabam chegando a uma proposta de casamento.
Homens de diversas nacionalidades buscam
o “amor” de uma brasileira. O problema é que, por trás dessas promessas
de amor e compromisso que parecem tão sinceras e apaixonadas, pode vir
também muita dor, golpes e situações desagradáveis.
Não se passa um dia sem que o 360 fique
sem receber comentários de mulheres que se relacionam com estrangeiros à
distância. Eu até já contei uma história
que envolveu muitas mudanças na vida da pessoa, mas deu certo. Nesse
mesmo post, fiz alertas sobre casos reais de golpes que acontecem com
muita frequência às brasileiras nessa situação.
Resolvi então escrever outro texto, para
deixar mais claro quais os golpes mais comuns que ocorrem com
brasileiras que se envolvem com um estrangeiro pela internet. E algumas
precauções que as pessoas deveriam tomar antes de embarcar para outro
país para conhecer alguém que nunca viram.
O Itamaraty tem um alerta especial para esses casos:
“Alerta – Relacionamentos com estrangeiros pela internet
Brasileiros e brasileiras devem se precaver contra situações de risco.
O Ministério das Relações Exteriores
vem recebendo numerosas queixas de cidadãs brasileiras vítimas de
roubos, fraudes e violência cometidos por cônjuges estrangeiros que
conheceram pela internet e com os quais tiveram pouco ou nenhum convívio
presencial antes do casamento. De acordo com os relatos recebidos, que
incluem denúncias de cárcere privado, é frequente, nesses casos, que os
maridos estrangeiros mudem completamente de comportamento, logo após a
formalização do matrimônio, tornando-se agressivos e manipuladores ou
interrompendo repentinamente o contato com as vítimas, após obterem
visto de permanência no Brasil.
Nessas condições, recomenda-se às
brasileiras e aos brasileiros especial cuidado com os relacionamentos
virtuais mantidos com estrangeiros com o propósito de celebrar
casamento, a fim de protegerem-se contra golpes e situações de risco.
Sugere-se, entre outras precauções, buscar obter referências do cidadão
estrangeiro por parte de terceiras pessoas de conhecimento comum, além
de evitar manter o contato restrito aos meios de comunicação à
distância, previamente ao matrimônio.” (Fonte)
Foto: Ed Yourdon – CC BY-NC-SA 2.0 – Flickr |
Ele não está apaixonado, só quer sexo
Há vários países que são extremamente
conservadores. Neles, homens e mulheres não podem se falar ou se tocar
antes do casamento. Por isso, algumas vezes os homens criados nessas
culturas veem estrangeiras como uma forma de conseguir sexo. O cara que
você está conversando não vai te dizer isso, obviamente. Ele vai parecer
legal, vai dizer que está apaixonado, talvez até insista em dizer em
como ele é diferente dos outros. Mas pode ser mentira.
Não há problema nenhum em ter um
relacionamento apenas sexual (não somos moralistas aqui, hein). O
problema é quando há falta de honestidade e respeito. Em muitos casos,
esses homens estão em busca de estrangeiras que consideram sexo fácil:
depois que as mulheres oferecem o que eles procuram, elas
são maltratadas e vistas como lixo. Ou sofrem diversos tipos de
violência por se recusarem a transar com o cara. De qualquer maneira,
vira uma situação terrível.
Ele quer um visto brasileiro
Pessoas de diversas nacionalidades
ambicionam uma visto de residência permanente no Brasil. E uma das
formas de conseguir essa autorização é se casando com uma brasileira.
Essas pessoas se aproveitam de mulheres carentes ou em situação
vulnerável que vão cair em suas palavras carinhosas e juras de amor
vazias. Depois de casadas, o tal marido desaparece ou pode se
transformar em uma outra pessoa – da qual você não vai gostar nem um
pouco.
Ele quer seu dinheiro
Desde que esse mundo é mundo, sempre vai
ter algum espertinho tentando arrancar dinheiro de alguém que confia
fácil demais. Golpes desse tipo não vêm só daqueles telefonemas de
sequestro falsos feitos de uma penitenciária. Vêm também de gente que
diz que te ama muito. Desconfie se alguém que você nem conhece
direito pede seu dinheiro, mesmo que a história seja convincente. Em
geral o valor pedido inicialmente é pequeno, uma conta que não vai fazer
falta para você, mas que vai crescendo com o tempo. De acordo com essa matéria do Fantástico,
o perito em segurança digital Wanderson Castilho já atendeu mais de 200
casos de mulheres que foram extorquidas por homens que prometeram amor
eterno pela internet. E esse golpe não é praticado apenas por
estrangeiros, mas também por brasileiros em sites de relacionamentos na internet.
Ele já é casado ou espera que você se adapte ao estilo de vida muito diferente
Você está disposta a ser a segunda
esposa de alguém ou a nunca mais sair de casa sozinha? A se converter a
outra religião? A nunca ser aceita pela família do seu marido?
Dependendo da cultura e religião, tudo isso pode acontecer se o seu
relacionamento com um estrangeiro pela internet se concretizar. Não é
exatamente um golpe, mas um alerta sobre situações às quais você pode se
sujeitar.
“Ah, mas nem todas as histórias são
assim. Comigo é diferente!” Você pode pensar isso, mas a verdade é que
as histórias de terror acontecem com a mesma facilidade que as com
finais felizes. Antes de dar um passo maior em um relacionamento com
estrangeiros pela internet, leia tudo o que puder sobre a cultura dele.
Não só o que há de romântico e exótico. Como é o dia a dia no país. Como
as mulheres são tratadas. Como é a religião, as relações familiares e o
mercado de trabalho.
Que tipo de mudanças você estaria
disposta a sofrer por esse relacionamento? Vale a pena abrir mão de tudo
o que você construiu e acredita nessa vida por essa pessoa? Por que é
você quem tem que deixar para trás sua família e costumes para que esse
relacionamento funcione? Questione-se bastante sobre isso antes de se
jogar em um romance cego.
Tráfico humano
Esse é o caso mais extremo e o mais
perigoso. O tráfico humano, ou tráfico de pessoas, é uma das atividades
criminosas mais lucrativas no mundo inteiro – e 98% das vítimas são
mulheres. O Brasil é o país com o maior número de mulheres traficadas da
América do Sul. Essas mulheres vão para o exterior com a promessa de
melhores oportunidades de vida e acabam sendo presas em uma condição
semelhante à escravidão e sofrendo vários tipos de abuso. Uma das formas de atrair mulheres para
serem traficadas é, entre outras, a promessa de casamento com um
estrangeiro rico. Outras vezes, pode ser um trabalho como modelo,
dançarina e atriz, ou mesmo a promessa de imigração fácil para algum
lugar desejado.
Como identificar golpes de falsos namorados
1. A vida não é um filme da Jennifer
Aniston. Desconfie de juras de amor pouco tempo depois que vocês
começarem a conversar e não acredite que uma promessa de casamento é a
prova que ele te ama de verdade. Antes de aceitar se casar, proponha que
se conheçam melhor primeiro e passem um tempo juntos, para que você
tenha certeza que não está caindo num golpe. É assim em qualquer
relacionamento. No seu não precisa ser diferente.
2. Fique atenta a comportamentos
suspeitos. Guarde todos os emails e históricos de conversas e releia-os
procurando por inconsistências e contradições. Converse sobre seu
relacionamento com amigas de confiança (e sensatas), peça a opinião
delas sobre atitudes e conversas que você teve com essa pessoa.
.
3. Cheque as referências da pessoa.
Busque pelo nome dela na internet, veja se ele realmente trabalha onde
diz que trabalha, quem é sua família, seus amigos. Desconfie se você não
encontrar nada sobre ele no Google e mais ainda se as informações forem
confusas e inconsistentes. Ainda que seu namorado pareça ser uma pessoa
muito real, lembre-se de que existem quadrilhas especializadas nesse tipo de golpe e que elas são profissionais em criar personagens com uma riqueza de detalhes impressionante.
4. Por que é você quem deve se colocar
em uma situação vulnerável de viajar para um país estrangeiro (de
cultura muitas vezes conservadora), onde você não conhece ninguém além
do seu namorado virtual e muitas vezes sequer fala a língua? Peça que
ele venha te visitar no Brasil primeiro, assim você pode conhecê-lo
melhor em um território que você controla, perto da sua família e
pessoas nas quais você confia. E não se esqueça de marcar os primeiros
encontros em lugares públicos e de avisar alguém sobre o seu paradeiro.
5. Se você resolver que realmente quer
ir para outro país em busca desse romance, deixe sua família e amigos
informados do seu roteiro, com endereços e telefone dos lugares onde
você vai se hospedar. Outra boa ideia é avisar a embaixada brasileira da
sua estada ali. Se possível, não vá sozinha, leve alguém da sua família
com você e fique hospedada em um hotel.
Relato de uma leitora
Uma leitora do blog, que vou identificar
por Kyara, me enviou um relato de um relacionamento que ela iniciou com
um indiano que conheceu numa festa junina, na cidade dela. “No primeiro
dia em que nos conhecemos, ele disse que tinha gostado muito de mim,
que queria me ver mais vezes e que não sabia explicar aquele sentimento
que ele teve por mim. Ele só sabia que era coisa do coração e não sabia
explicar, porque era sentimento. Ele era MUITO carinhoso e MUITO doce.
Eu sou carente de natureza, confesso, e naquela época eu estava muito
mais carente que o normal”. Todas as histórias sempre começam com o cara
parecendo ser o príncipe do filme da Xuxa. Gente, príncipes só existem
em conto de fadas! A Kyara continua a história: “Ele era 10
anos mais novo que eu, não trabalhava e veio parar no Rio de Janeiro,
segundo ele, porque tinha terminado uma relação e além disso ele queria
muito conhecer a cidade. Até porque ele dizia que iria encontrar o amor
da vida dele aqui. Logo vi que era treta, mas eu não me importei (…). Eu
estava tentando sair de uma relação e me agarrei nele. Durante o tempo em que ficamos juntos,
ele sempre me pedia dinheiro e jogava várias indiretas dizendo que
ninguém o ajudava porque ele era pobre. Se fazia de vítima, de
coitadinho, mas como ele viu que isso não colava comigo, passou a dizer
que a família tinha muito dinheiro na Índia e que, a hora que ele
quisesse, ele tinha dinheiro. No entanto, ele não queria o dinheiro da
família de jeito nenhum.
Quando ele me pedia dinheiro, dizia que
era pra comer porque ele não tinha de onde tirar, já que não estava
trabalhando, mas eu não dava. Sempre que ele estava com fome, eu o
levava pra comer em restaurante. Até que um dia eu dei 30 reais e ele
comprou 2 latas de cerveja e 1 maço de cigarro. Eu disse pra ele que o
dinheiro não era para isso, que eu tinha dado para ele comer no dia
seguinte. Ele disse que no dia seguinte ia ver o que ia fazer. Ele arrumou um trabalho num hostel e
vivia dizendo que o patrão não pagava. Por isso, continuou me pedindo
dinheiro, me pediu roupa, me pediu pra levá-lo para a casa dos meus
pais” Ela morava sozinha, mas não contou para ele.
“O visto dele tinha vencido e ele me
pediu em casamento. Disse: ‘eu preciso casar no papel pra continuar no
Brasil. Eu só preciso que você acredite em mim, eu amo você, eu gostei
de você de verdade, eu quero ter uma família com você, você é a mulher
da minha vida. Não estou te enganando, tudo o que eu te falei é verdade.
Acredite em mim, se você não quiser casar comigo não tem problema, eu
fico ilegal no Brasil e eu vou continuar com você do mesmo jeito, eu não
vou te deixar por isso’.
Eu queria muito ter acreditado que tudo aquilo
era verdade e até hoje quando me lembro disso eu penso: Será? Será
mesmo que em algum momento ele foi sincero comigo? A dúvida é a pior do
que a certeza! Eu disse que não ia me casar com ele,
porque eu não acreditava nele. Mesmo assim eu iria ajudá-lo no que ele
precisasse. Falei para que ele voltasse para Índia e tirasse um novo
passaporte, porque ele perdeu o antigo aqui. O consulado indiano comprou
a passagem dele de volta e, quando ele chegou na Índia, eu contratei um
advogado aqui pra que o governo indiano liberasse o passaporte dele. No último dia antes do embarque, nós
passamos a noite juntos num hotel. Ele disse que voltaria para ficar
comigo. Eu falei a verdade: disse que eu morava sozinha e que eu não o
levei para minha casa porque ele era um estranho. Ele não gostou e,
depois que ele chegou lá, brigamos muito por isso. Ele dizia que eu
tinha obrigação de tê-lo ajudado. Que eu deveria tê-lo levado para minha
casa, porque ele passou fome, não tinha onde morar e dormia na rua por
minha culpa. Eu falei que não tinha obrigação nenhuma com ele e que eu
não iria colocá-lo na minha casa. Caso ele voltasse para o Brasil, ele
tinha que crescer como homem e como ser humano, amadurecer, estudar, ter
uma faculdade, uma profissão e parar de se fazer de vítima, de ficar
pedindo dinheiro para as pessoas e viver de esmolas. Por fim, depois que o governo liberou o
passaporte dele, nunca mais nos falamos. Depois que ele foi embora nossa
relação piorou, não sei se ele era meu amigo de verdade. Eu disse pro
advogado que era para dar um recado para ele dizendo que a, partir
daquele momento, eu não queria saber de mais nada da vida dele e que era
para ele me esquecer. O advogado me retornou e disse que ele mandou um
recado para mim me agradecendo por tudo o que fiz por ele e que eu tinha
feito coisa demais.”
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