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27 julho 2014

Inteligência espiritual: Todos temos um "Ponto de Deus" no cérebro


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No início do século 20, o QI era a medida definitiva da inteligência humana. Só em meados da década de 90, a descoberta da inteligência emocional mostrou que não bastava a pessoa ser um gênio se não soubesse lidar com as emoções. Hoje, novas descobertas apontam para um terceiro quociente, o da inteligência espiritual. Ela nos ajudaria a lidar com questões essenciais e pode ser a chave para uma nova era também no mundo dos negócios




Entrevista a Suzana Naiditch. Fonte: Revista Exame

No livro QS - Inteligência Espiritual, a física e filósofa americana Dana Zohar aborda um tema tão novo quanto polêmico: a existência de um terceiro tipo de inteligência que aumenta os horizontes das pessoas, torna-as mais criativas e se manifesta em sua necessidade de encontrar um significado para a vida. Ela baseia seu trabalho sobre o "quociente espiritual" (QS) em pesquisas só há pouco divulgadas de cientistas de várias partes do mundo que descobriram o que está sendo chamado "Ponto de Deus" no cérebro, uma área que seria responsável pelas experiências espirituais das pessoas. O assunto foi abordado em reportagens de capa pelas revistas americanas Neewsweek e Fortune. Afirma Dana: "A inteligência espiritual coletiva é baixa na sociedade moderna. Vivemos numa cultura espiritualmente estúpida, mas podemos agir para elevar nosso quociente espiritual".

Dana Zohar

Dana Zohar
Dana vive na Inglaterra com o marido, o psiquiatra Ian Marshall, co-autor do livro, e com dois filhos adolescentes. Formada em física pela Universidade de Harvard, com pós-graduação no Massachusetts Institute of Tecnology (MIT), ela atualmente leciona na universidade inglesa de Oxford. É autora de outros oito livros, entre eles, O Ser Quântico e A Sociedade Quântica, já traduzidos para português. QS – Inteligência Espiritual já foi editado em 27 idiomas, incluindo o português (no Brasil, pela Record). Dana tem sido procurada por grandes companhias interessadas em desenvolver o quociente espiritual de seus funcionários e dar mais sentido ao seu trabalho. Dana Zohar concedeu esta entrevista à Revista exame em Porto Alegre, durante o 30º Congresso Mundial de Treinamento e Desenvolvimento da International Federation of Training and Development Organization (IFTDO), organização fundada na Suécia, em 1971, que representa 1 milhão de especialistas em treinamento em todo o mundo. Eis os principais trechos da entrevista:

O que é inteligência espiritual?
É uma terceira inteligência, que coloca nossos atos e experiências num contexto mais amplo de sentido e valor, tornando-os mais efetivos. Ter alto quociente espiritual (QS) implica ser capaz de usar o espiritual para ter uma vida mais rica e mais cheia de sentido, adequado senso de finalidade e direção pessoal. O QS aumenta nossos horizontes e nos torna mais criativos. É uma inteligência que nos impulsiona. É com ela que abordamos e solucionamos problemas de sentido e valor. O QS está ligado à necessidade humana de ter propósito na vida. É ele que usamos para desenvolver valores éticos e crenças que vão nortear nossas ações.
De que modo essas pesquisas confirmam suas ideias sobre a terceira inteligência?
Os cientistas descobriram que temos um "ponto de Deus" no cérebro, uma área nos lobos temporais que nos faz buscar um significado e valores para nossas vidas. É uma área ligada à experiência espiritual. Tudo que influencia a inteligência passa pelo cérebro e seus prolongamentos neurais. Um tipo de organização neural permite ao homem realizar um pensamento racional, lógico. Dá a ele seu QI, ou inteligência intelectual. Outro tipo permite realizar o pensamento associativo, afetado por hábitos, reconhecedor de padrões, emotivo. É o responsável pelo QE, ou inteligência emocional. Um terceiro tipo permite o pensamento criativo, capaz de insights, formulador e revogador de regras. É o pensamento com que se formulam e se transformam os tipos anteriores de pensamento. Esse tipo lhe dá o QS, ou inteligência espiritual.




Qual a diferença entre QE e QS?
É o poder transformador. A inteligência emocional me permite julgar em que situação eu me encontro e me comportar apropriadamente dentro dos limites da situação. A inteligência espiritual me permite perguntar se quero estar nessa situação particular. Implica trabalhar com os limites da situação. Daniel Goleman, o teórico do Quociente Emocional, fala das emoções. Inteligência espiritual fala da alma. O quociente espiritual tem a ver com o que algo significa para mim, e não apenas como as coisas afetam minha emoção e como eu reajo a isso. A espiritualidade sempre esteve presente na história da humanidade.
Por que somente agora o mundo corporativo se preocupa com isso?
O mundo dos negócios atravessa uma crise de sustentabilidade. Suas atitudes e práticas atuais, centradas apenas em dinheiro, estão devastando o meio ambiente, consumindo recursos finitos, criando desigualdade global, conduzindo a uma crise de liderança nas empresas e destruindo a saúde e a moral das pessoas que trabalham ou cujas vidas são afetadas por elas. Espiritualidade nos negócios significa simplesmente trabalhar com um sentido mais profundo de significado e propósito na comunidade e no mundo, tendo uma perspectiva mais ampla, inspirando seus funcionários. Nós não sabemos mais o que é realmente a vida. Não sabemos qual é o jogo que jogamos nem quais são as regras. Falta-nos um sentido profundo de objetivos e valores fundamentais. Essa crise de significado é a causa principal do estresse na vida moderna e também das doenças.
A busca de sentido é a principal motivação do homem. Quando essa necessidade deixa de ser satisfeita, a vida nos parece vazia. No mundo moderno, a maioria das pessoas não está atendendo a essa necessidade.




Como se pode detectar os sintomas dessa crise na vida corporativa?
Desde o surgimento do capitalismo, há 200 anos, tudo que importa no mundo dos negócios é o lucro imediato. Isso criou uma cultura corporativa destituída de significado e de valores mais profundos. Nós apenas queremos mais dinheiro. Mas para quê? Para quem? Trabalhamos para consumir. É uma vida sem sentido. Isso afeta o moral, tanto dos dirigentes quanto dos empregados, sua produtividade e criatividade. E também afasta dos negócios preocupações mais amplas com o meio ambiente, a comunidade, o planeta e a sustentabilidade. O mundo corporativo é um monstro que se autodestrói porque lhe falta uma estrutura mais ampla de significado, valores e propósitos fundamentais. Há uma profunda relação entre a crise da sociedade moderna e o baixo desenvolvimento da nossa inteligência espiritual.
Quais companhias a têm chamado para desenvolver trabalhos que busquem elevar o quociente espiritual de dirigentes e empregados?
Não posso citar seus nomes, mas tenho atendido a bancos, financeiras, empresas de telecomunicações, de petróleo e montadoras de automóveis. Trabalhamos juntos para adquirir a compreensão de que as atitudes e práticas existentes são insustentáveis e como as empresas podem desenvolver tanto a sustentabilidade como os serviços cultivando as dez qualidades do quociente espiritual.
A senhora poderia citar exemplos de companhias ou empresários que estejam buscando mais sentido em seu trabalho?
Há muitos exemplos. Mats Lederhausen, o vice-presidente de estratégia global do McDonald s, é um deles. Sua função na empresa é ser a voz de protesto e consciência, sacudindo as pessoas, agitando o barco. Ele iniciou projetos como a distribuição gratuita de vacinas antipólio na África, a luta contra plantações geneticamente modificadas, o uso de gaiolas maiores para galinhas e um trabalho para restaurar ecossistemas danificados.
Outro exemplo é a Amul, empresa da Índia que distribui para o Estado de Gujarat o leite de 10 000 cooperativas. A Amul compra todos os dias o leite de camponeses que possuem apenas uma vaca, permitindo que indivíduos pobres possam competir com grandes fazendeiros. O Banco de Desenvolvimento da Ásia se dedica à erradicação da pobreza com programas de micro-crédito para pessoas muito pobres.
A British Petroleum adotou um novo slogan, "Além do Petróleo", e está colocando o grosso de seus fundos de pesquisa no desenvolvimento de tecnologias energéticas alternativas, menos agressivas ao meio ambiente. John Browne, o CEO da companhia, conseguiu aumentar o valor das ações enfatizando relações de longo prazo entre sua empresa e a sociedade.



Como é o líder espiritualmente inteligente?
É um líder inspirado pelo desejo de servir, uma pessoa responsável por trazer visão e valores mais altos aos demais e por lhes mostrar como usá-los. É uma pessoa que inspira as outras. Gente como o Dalai Lama, Nelson Mandela, Mahatma Gandhi. No mundo dos negócios, Richard Branson, da Virgin, é um líder espiritualmente inteligente. Ele está muito preocupado com o meio ambiente e a comunidade. É muito espontâneo, tem visão e valores, tem perspectivas amplas.
Como se pode desenvolver a inteligência espiritual?
Tomando consciência das dez qualidades comuns às pessoas espiritualmente inteligentes e trabalhando para desenvolvê-las. Procurando mais o porquê e as conexões entre as coisas, trazendo para a superfície as suposições que fazemos sobre o sentido delas, tornando-nos mais reflexivos, assumindo responsabilidades, sendo honestos conosco mesmos e mais corajosos. Tornado-nos conscientes de onde estamos, quais são nossas motivações mais profundas. Identificando e eliminando obstáculos. Examinando as numerosas possibilidades, comprometendo-nos com um caminho e permanecendo conscientes de que são muitos os caminhos.
De que forma as pessoas espiritualmente inteligentes podem beneficiar as corporações?
As pessoas com QS elevado querem sempre fazer mais do que se espera delas. Algo para além da empresa. Quem trabalha unicamente por dinheiro não faz o melhor que pode. Nas empresas em que se busca desenvolver espiritualmente os funcionários, a produtividade aumenta porque eles ficam mais motivados, mais criativos e menos estressados. As pessoas dão tudo de si quando se procura um objetivo mais elevado. Se as organizações derem espaço para as pessoas fazerem algo mais, se souberem desenvolver em cada indivíduo sua inteligência espiritual, terão mais resultados e mais rapidamente.



A senhora diz que o capitalismo como se conhece hoje está com os dias contados, mas que um novo capitalismo está nascendo. Como ficam as empresas com essa nova perspectiva?
Está surgindo um novo tipo de empresa. É uma empresa responsável. No novo capitalismo sobreviverão as companhias que têm visão de longo prazo, que se preocupam com o planeta, em desenvolver as pessoas que nelas trabalham. Que se preocupam, sim, com o lucro, mas que querem ganhar dinheiro para desenvolver as comunidades em que atuam, proteger o meio ambiente, propagar educação e saúde.
Dana Zohar identificou dez qualidades comuns às pessoas espiritualmente inteligentes. Segundo ela, essas pessoas:
1. Praticam e estimulam o autoconhecimento profundo.
2. São conduzidas por valores humanos. São idealistas e creem na vida.
3. Têm capacidade de encarar desafios e utilizar a adversidade a seu favor.
4. São holísticas - têm a visão do todo integrado e a percepção da unidade.
5. Celebram a diversidade como fonte de beleza e aprendizado.
6. Têm independência de pensamento e comportamento.
7. Perguntam sempre "por quê?" e "para que". São agentes de transformações.
8. Têm capacidade de colocar as coisas e os temas num contexto mais amplo.
9. Têm espontaneidade de gestos e atitudes, e são equilibradas emocionalmente.
10. São sensíveis, fraternas e compassivas.


 

Fonte http://www.brasil247.com/pt/247/revista_oasis/114890/Intelig%C3%AAncia-espiritual-Todos-temos-um-Ponto-de-Deus-no-c%C3%A9rebro.htm

24 julho 2014

Dia da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha é lembrado no Brasil

Criada em 1992, a data tem colaborado no debate sobre feminismo e afrodescendência; Para a escritora Raquel Almeida, as mulheres negras nas periferias estão se tornando protagonista da sua luta e o feminismo tradicional “está muito distante” da sua realidade; Nesta sexta (25) diversas atividades estão espalhadas pelo país.

Por Bruno Pavan, da redação do Brasil de Fato/http://www.vermelho.org.br/noticia/246392-7


                 Reprodução
 Criada em 1992, a data tem colaborado no debate sobre feminismo e afrodescendência;  
Criada em 1992, a data tem colaborado no debate sobre feminismo e afro descendência;
 
No próximo dia 25 de julho será celebrado o Dia Internacional da Mulher Negra Latino -Americana e Caribenha. Com o objetivo de ampliar e fortalecer a união e a mobilização das mulheres negras no continente, a data foi criada após o I Encontro de Mulheres Afro -Latino -Americanas em Santo Domingo, na República Dominicana, em 1992.

Antes tímida no país, hoje ela é mais articulada e mobiliza diversos encontros, debates e atividades em geral em torno das questões da mulher negra na sociedade. Para a escritora e produtora cultural, Raquel Almeida, o aumento desta articulação tem colaborado para que mais mulheres tornem-se protagonistas da luta contra o machismo e o racismo.

“A importância é justamente mobilizar e articular a nossa galera que já é protagonista na luta. Lembro que há cinco anos, poucos eventos pelo Brasil marcavam essa data. Lutamos muito pra que ela fosse celebrada nas periferias e hoje os grupos liderados por mulheres negras têm aumentado muito”, comemorou.

Nesta linha de avançar na repercussão da data e, consequentemente, no debate de suas pautas, o cineasta Avelino Regicida, lançou, ano passado, o documentário “25 de Julho – Feminismo negro contado em primeira pessoa”, em parceria com o Espaço Cultural do Morro. O filme conta a história de 12 mulheres negras da periferia e a luta diária contra a opressão em São Paulo.

“A ideia é de 2011, quando o Espaço Cultural do Morro começou a realizar um evento chamado ‘Feminina Resistência’ para discutir questões voltadas à mulher negra. Aí percebemos que a data é pouco conhecida pelas pessoas e pensamos que o documentário pudesse ser algo que ajudaria na divulgação. Eu imaginei sim que o filme rodaria bastante, por isso optamos pela divulgação na internet. Mas o ver ficar conhecido fora de São Paulo é algo que nos agrada muito”, explicou.

“O feminismo está muito distante das mulheres negras periféricas”

Um debate que se acirra cada vez mais está em torno das diversas nuances do que pode se chamar de feminismo - feminismo negro, periférico, tradicional, entre outros. Segundo Raquel, ainda há um feminismo que precisa sair “dos quatro muros da intelectualidade” para conseguir entender melhor a realidade das mulheres da periferia.

“Existem várias questões dentro do feminismo negro que são específicas e que muitas vezes entram em choque com alguns pensamentos na corrente feminista. Se trata de questões que uma mulher branca burguesa feminista não vai entender, não adianta chegar na quebrada empurrando goela abaixo um feminismo padrão. É importante se aproximar mais, respeitando as nossas particularidades”, analisou.

Atividades pelo país

Entre as atividades que acontecem pelo país nesta sexta-feira estão:

São Paulo – capital: “Virada Cultural Mulher Negra e CIA” que terá debates em diversos pontos da cidade e contará com oficinas culturais e diversos shows, entre eles, o da cantora Negra Li.

Brasília: Festival Latinidades, no Museu da República. Começou nesta terça (23) e vai até o próximo dia 28.

Salvador (Bahia): Semana da Mulher Negra, do dia 19 ao dia 25, no Solar da Boa Vista.

Rio de Janeiro – capital: A mulher Negra no Brasil de hoje”, no Parque Madureira, no dia 25.

Recife (Pernambuco): Oficina Guaianases de gravuras: um olhar feminino o “, no Museu de Abolição. Fica em cartaz até o dia 30/09.

Minas Gerais: eventos acontecerão simultaneamente em 10 cidades do estado do dia 25 ao dia 31/07.
Porto Alegre (Rio Grande do Sul): “Mulher Negra em Foco”, no auditório do Banco Central acontece dia 25.

Curumbá (Mato Grosso do Sul): IV Encontro da Mulher Negra do Pantanal, no dia 25, na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul

Manaus (Amazonas): III encontro de Mulheres Afro ameríndias e caribenhas para discutir o racismo institucional na Universidade Federal do Amazonas, que acontece do dia 23 ao dia 25/07.

20 julho 2014

Inteligência da alma

 

 O que é Inteligência Espiritual?

A Inteligência Espiritual* é a inteligência da alma, aquela que impulsiona abordar e solucionar os problemas. Faz com que nos tornemos verdadeiramente íntegros para inserir os atos da nossa vida em um contexto mais amplo, rico e gerador de significado. Algo que dê mais sentido e valor aos seres humanos para conceder o sentimento de totalidade. O líder do movimento pela Independência da Índia, Mahatma Gandhi (1869-1948), o Prêmio Nobel da Paz e ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela (1918) e o músico John Lennon (1940-1980), são dotados de alto QS. *QS ou Spiritual Quocient. Foto: Getty Images / Arte Terra

 Como saber se temos Inteligência Espiritual?

As indicações de quem tem a Inteligência Espiritual desenvolvida incluem:

- Capacidade de enfrentar o sofrimento e ser flexível
- Celebração da diversidade
- Compaixão
- Espontaneidade
- Grau elevado de autopercepção
- Qualidade de ser inspirado por visão e valores
- Relutância em causar danos desnecessários
- Respeito a outros pontos de vista (ter humildade)
- Revisão constante de seus valores
- Faz perguntas do tipo “por que” e procurar respostas fundamentais
- Visão das conexões entre coisas diversas (ser holístico)
- Viver o presente. 

Carência de Inteligência Espiritual

A autoconsciência é um dos critérios mais importantes da Inteligência Espiritual. Desde os primeiros dias na escola somos treinados a olhar para fora e não para dentro, a focalizar os fatos e problemas práticos do mundo externo. Quase nada na educação ocidental encoraja a refletir sobre nós mesmos e nossa vida interior. Por isso, somos tão carentes de Inteligência Espiritual.

Cultura da multidão

Nossa cultura é uma “cultura de multidão”. A mídia nos encoraja a ter os mesmos pensamentos e as mesmas opiniões. Um dos principais critérios da Inteligência Espiritual é o que os psicólogos chamam de “independência de campo”, ser capaz de erguer-se contra a multidão e defender uma opinião. 'Ser quem acredita ser'. Isso não é egoísmo, mas individualidade autêntica e isso requer coragem.
Por exemplo, em 1955, no Alabama, a costureira negra Rosa Parks sentou-se em um banco de um ônibus (era proibido para negros) e se recusou a sair quando foi intimidada por um homem branco para que sentasse no banco dos fundos. Foi presa, julgada e condenada. A partir daí, começou o processo do Movimento dos Direitos Civis dos Negros nos Estados Unidos.

Quem tem Inteligência Espiritual significa que é religioso?

Ser religioso não garante ter uma Inteligência Espiritual elevada. Diversos humanistas e ateus têm essa inteligência, enquanto alguns indivíduos religiosos podem não apresentá-la. Ela se manifesta, por exemplo, quando um empresário tem a consciência holística de organizar sua empresa fazendo com que seus funcionários se conscientizem quanto à preservação da natureza e repassem isso aos produtos oferecidos.

Como podemos usá-la?

A Inteligência Espiritual nos leva ao âmago das coisas, a unidade atrás da diferença, ao potencial além de qualquer expressão concreta. Também a usamos na religião ou espiritualidade para praticá-las sem estreiteza, exclusividade, fanatismo ou preconceito.

Qual a diferença entre Inteligência Intelectual (QI), Inteligência Emocional (IE) e Inteligência Espiritual (QS)?

Para medir um tipo de organização neural, permitir ao homem que realize um pensamento racional, lógico e avaliar a inteligência de alguém, é usado o QI.
A Inteligência Emocional permite reconhecer os próprios sentimentos, dos outros e compreender outras qualidades do indivíduo. Artistas, oradores, músicos ou jogadores de futebol têm um alto IE, por exemplo.
A Inteligência Espiritual permite meditar acerca de uma situação em particular, ou seja, o que a minha vida profissional, familiar, conjugal, entre outros, significam verdadeiramente para minha alma.

Por que usamos a Inteligência Espiritual?

A Inteligência Espiritual concede a capacidade de escolha, nos presenteia com nosso senso moral, ameniza normas rígidas e nos fortalece por meio de uma maior compreensão e compaixão. É importante entender que o homem é um ser espiritual, pois existe em seu coração algo maior do que ele mesmo. Usamos para lutar com questões acerca do bem e do mal, além de imaginar possibilidades irrealizadas, tais quais: sonhar, aspirar ou superar situações difíceis.

Como desenvolver nossa Inteligência Espiritual?

Nossa alma está sempre pronta a reconsiderar. Para isso, precisamos recapturar nossa criança interna, aprimorar o senso de humildade e gratidão diante do Todo. A Inteligência Espiritual age como “o olho do coração”. Por meio de experiências perceptivas, faz com que o poder transformador seja exercido diariamente, como um “senso de ressurreição”. Isso não ocorre apenas na mente, mas na sua nova forma de saber e ser, capaz de transformar por completo o entendimento da vida (o nascimento de um filho, uma viagem marcante ou uma nova amizade podem melhor desenvolver essa inteligência).

Ser espiritualmente inteligente concede uma vantagem evolutiva?

Uma alta Inteligência Espiritual não precisa manter uma conexão com a religião. Nos sentimos bem quando possuímos uma crença profunda. A existência do ponto de Deus no cérebro indica a capacidade de experimentar algo religioso (ou crença), conferindo, de certo modo, uma vantagem evolutiva à nossa espécie.

O que você quer, é o que necessita?

Ao contrário do QI, que é linear, lógico e racional, a Inteligência Espiritual não pode ser quantificada. Em uma cultura espiritualmente embotada, ocorre uma distorção de valores. As pressões sociais e econômicas nos levam a confundir o que “queremos” com o que de fato “necessitamos”. Uma das maneiras para sermos espiritualmente mais inteligentes consiste em procurar a realidade por trás de qualquer desejo superficial.

Como anda seu “eu profundo”?

Existe um “eu profundo” que vive em todos nós, ancorado no Cosmo como um “Todo”. Tem origem na necessidade humana de sentido, visão e calor. Nem sempre é possível sentir realmente o que nos motiva. Esse “eu profundo” se manifesta em momentos de amizade calorosa, alegria, espanto e até mesmo quando enfrentamos os piores medos.

Qual é o primeiro passo para desenvolver a Inteligência Espiritual?

Consiste em assumir a responsabilidade por sua vida, reagir honesta e inovadoramente ao ambiente e à situação em que se encontra agora. Compreender seu papel e construir uma atitude sólida em relação às coisas que acontecem à sua volta.

Quais são os outros passos para aprimorar a Inteligência Espiritual?

O segundo passo consiste em mudar e assumir um compromisso. Está disposto a reduzir o cigarro ou a bebida? Escutar os outros com mais atenção?
O terceiro é uma reflexão quanto aos obstáculos da sua vida e que o impediram de segui-la, como a cobiça, a culpa, o medo, a preguiça, o comodismo, entre outros.
A busca pela bem-aventurança torna você um pai iluminado, um professor iluminado, um cozinheiro iluminado e assim por diante. Só dessa forma obteremos a graça inacreditável do dia a dia.

Fonte: Inteligência Espiritual. Aprenda a desenvolver a inteligência que faz a diferença. Danah Zohar (física e pós-graduada em religião, filosofia e psicologia pela Universidade de Harvard) e Ian Marshall (psiquiatra e psicoterapeuta); editora Record.

15 julho 2014

Para começar um projeto de pesquisa


Por José Luiz Braga




Fazer pesquisa solicita uma diversidade de reflexões e gestos mais ou 
menos complexos. É por isso que não vamos diretamente a campo para investigar – fazemos antes um cuidadoso planejamento, o qual se expressa em um 
projeto de pesquisa. Como o projeto vai se desenvolvendo ao longo do próprio 
trabalho de investigação (não paramos nunca de planejar), podemos chamar 
as fases iniciais de pré-projeto – ou, mais inicialmente ainda, de uma proposta 
de pesquisa. Assinalo que estou enfocando particularmente esse planejamento 
inicial: a proposta.
Quero enfatizar a particular centralidade, nesse planejamento, do problema 
de pesquisa. Só pesquisamos porque temos dúvidas a respeito de alguma questão 
do mundo. É lógico portanto que as dúvidas que temos (e que serão expressas 
no problema da pesquisa a realizar) devem comandar todo o trabalho de investigação – desde a busca das teorias e conceitos relevantes até a observação 
da realidade (coleta de dados), o tratamento desses dados e as conclusões ou 
inferências –, que correspondem ao conhecimento desenvolvido a partir do 
problema que nos moveu a investigar.

Geralmente os manuais de metodologia de pesquisa enfatizam como ponto 
de partida para investigação uma hipótese de pesquisa. Esta se baseia na afirma-
ção (hipotética, justamente) que seria investigada a fim de confirmarmos, ou 
não, se efetivamente corresponde aos fatos. Consideramos que, nas pesquisas 
qualitativas, essa insistência pode levar a equívocos.
A pretendida necessidade da hipótese de pesquisa leva a um esforço do pesquisador para apresentar alguma coisa que seja aceita como tal. Como nós sempre 
temos idéias, impressões e propostas referentes aos temas que nos interessam 
(e que nos motivam a pesquisar), é fácil decidir que uma dessas proposições é 
nossa hipótese. Tipicamente, entretanto, se trata de premissas ou de sacações (no 
dicionário Houaiss: “idéia, invenção, lampejo”. Refere-se ao habitual anglicismo 
insight). Os lampejos correspondem àquelas idéias explicativas ou interpretativas que acabamos descobrindo de modo espontâneo por nos envolvermos continuadamente com um tema, por experiência prática ou por leituras.


O processo do insight, ou lampejo, seria o seguinte. Trabalhamos com um 
assunto qualquer (por exemplo, questões referentes à estética publicitária ou 
à violência na TV, entre outras). Observamos o que as pessoas fazem e dizem, 
lemos a respeito. De repente percebemos perspectivas que ninguém parece ter 
ainda notado – é o nosso insight. Como estamos pretendendo fazer uma pesquisa, a forte tendência é tomar essa idéia como nossa hipótese – nos propomos 
a pesquisar para ver se é ou não verdadeira.

Dificilmente seria uma boa hipótese. Trata-se talvez de um bom ponto de 
partida. Mas se o final da investigação nos levar de volta a ele, apenas fizemos um 
círculo para chegar ao lugar de onde saímos, confirmando o que já sabíamos.
Seria possível dizer (alguns pesquisadores nessa situação efetivamente o 
dizem): “Mas talvez a gente acabe provando que a hipótese não é verdadeira 
e, portanto, há realmente alguma coisa a investigar”. Além de ser frustrante 
fazer uma pesquisa apenas para provar que estamos errados, isso dificilmente 
ocorrerá. Primeiro, porque, motivados pelo insight, trabalharemos tendencialmente para provar essa idéia – gerando uma cegueira involuntária para todos os 
dados que a contrariem. Segundo, porquanto provavelmente uma idéia gerada 
por forte envolvimento com a situação é mesmo verdadeira (isto é, válida para 
o espaço e conjuntura em que foi proposta) e se sustenta pela própria constatação 
ao vivo, sem precisar de pesquisa para o demonstrar.

Não estou sugerindo que se jogue fora aquela idéia brilhante (seria frustrante, não é?), mas apenas que ela não seja usada como hipótese de pesquisa. 
Mais adiante faremos sugestões de bom uso para os insights (se eles existirem). 
Contudo, desde já assinalamos que não é preciso ter idéias brilhantes iniciais, 
fulgurações conceituais ou propostas salvadoras.
Às vezes você tem em mãos (se tiver, mas não é necessário) uma hipótese 
de trabalho. Esta, diferente da hipótese de pesquisa, é usada como base para organizar a observação. A questão (ou problema da pesquisa) pode tomar então a 
seguinte forma: se esta hipótese é verdadeira (e trabalharemos como se fosse), 
o que poderemos descobrir sobre os processos em pauta, estando munidos de 
tal afirmação? Note que aqui não vamos investigar a hipótese, mas sim tomá-la 
de antemão como verdadeira e usá-la como modo ou instrumento para direcionar as observações.
Para evitar, em uma proposta de pesquisa, confundir premissas, lampejos 
e hipóteses de trabalho com hipóteses de pesquisa, talvez a melhor tática, para 
o iniciante, seja a de não apresentar nenhuma hipótese pretendida como “de 
pesquisa”. Em vez disso, apresente diretamente seu problema de pesquisa.


A DÚVIDA E A CURIOSIDADE COMO BASE

Dissemos que ter lampejos, idéias brilhantes iniciais e hipóteses de pesquisa 
não é necessário. Outra coisa, entretanto, é fundamental: curiosidade. É preciso 
estar curioso a respeito de uma situação ou tema. Ou seja: deve-se ter dúvidas, 
reconhecer que não sabemos alguma coisa sobre a questão de nosso interesse.290
comunicação & educação • Ano X • Número 3 • set/dez 2005
É por isso que um problema de pesquisa toma, freqüentemente, a forma de 
uma pergunta. “O que será que...?”; “Como tal coisa se caracteriza?”; “Que sentido tem...?”; “Por que tal processo acontece?”; “Que diferenças existem entre...?”; 
“Quais as formas diversificadas e variações de tal processo comunicacional?”.
No espaço da comunicação ou da educação, não é difícil encontrar problemas, situações problemáticas, dificuldades, estímulos à curiosidade. O espaço da 
comunicação, para você, pode estar relacionado a uma formação em determinada 
área (jornalismo, publicidade, relações públicas, audiovisuais); a um campo 
de interface (outras formações sociais/culturais com percepção de questões 
comunicacionais); a uma experiência profissional correlata; a leituras sobre 
questões pertinentes; ou até mesmo à simples situação de usuário interessado 
da mídia (espectador de programas de TV, leitor de jornal, usuário da internet, 
aficionado de filmes cinematográficos etc.). Na educação, os problemas práticos 
de obter aprendizagem, de aprender, de organizar e gerir atividades de ensino 
podem estar ligados a todas as atividades humanas e sociais.
Ora, não é qualquer não saber que pode gerar diretamente pesquisa. Vamos afastar alguns não saberes a fim de evitar riscos. Primeiro, aqueles que, 
para serem supridos, basta uma ida à biblioteca. Eu não sei uma porção de 
coisas, entretanto, posso prever que alguém saiba (tipicamente: o especialista, o 
professor, os livros). Nossas dúvidas, aí, não levam à pesquisa, mas ao estudo. 
Claro que, em uma pesquisa, aparecem também questionamentos, que serão 
resolvidos na biblioteca ou em consulta a especialistas. Mas não formam o eixo
da pesquisa. São complementares.


Além disso, faça outra triagem: distinga problemas de conhecimento de problemas práticos. São os primeiros que direcionam à pesquisa. Um problema prático 
pede solução, a qual é geralmente desenvolvida por meio de interferências no 
ambiente mesmo das situações problemáticas, tipicamente profissionais (“O que 
fazer para que...?”; “Como obter mais qualidade em tal processo?”; “Como evitar 
equívocos de tal tipo?”; “Como resolver com mais eficiência este processo?”).
Quando tais problemas de situação são mais complexos, talvez seja necessário 
mais do que agir diretamente – e aí queremos trazer aportes científico-tecnológicos. 
Podemos então escrever elaboradas propostas, bem baseadas em conhecimento 
acadêmico, para o encaminhamento de soluções. Ainda assim, não se trata de 
pesquisa. Certamente podemos pensar em pesquisas de desenvolvimento, feitas 
em zona intermediária entre a pesquisa de conhecimento e ações propositivas 
práticas. Essa possibilidade não será entretanto aqui estudada.
Ficaremos, então, com os problemas de conhecimento: “o que é preciso saber
sobre tal situação?”; “O que deveremos descobrir sobre ela para que nosso conhecimento da realidade em foco seja ampliado?”.

Como se pode perceber, podemos derivar um problema de pesquisa de um 
problema prático. Dada uma situação-problema na realidade, se essa situação 
é suficientemente complexa, em vez de procurar e propor soluções concretas 
imediatas, tentaremos direcionar a reflexão para: “como aprofundar meu conhecimento sobre essa situação antes de buscar soluções?”.
O trabalho de aprofundar conhecimentos seria a pesquisa acadêmica. No 
caso de um mestrado, resultará em uma dissertação. As soluções concretas 
podem ser decorrentes da dissertação, mas já não fazem parte dela. Serão, se 
for o caso, expectativa para depois; e resultado de aplicações posteriores dos 
conhecimentos obtidos sobre a realidade social.


Por outro lado, não precisamos partir diretamente de situações problemáticas 
da realidade. Podemos começar com preocupações e curiosidades mais abstratas 
ou conceituais, com dúvidas sobre o sentido das coisas. Neste caso, porém, não se 
esqueça – em algum momento na elaboração de seu projeto – de relacionar essas 
questões com uma realidade específica. Pois não se investigam abstrações. Salvo nas 
pesquisas especulativas (mais próprias do trabalho em Filosofia ou nos espaços 
mais rarefeitos das fronteiras epistemológicas das Ciências Humanas e Sociais, 
que exigem longa formação e experiência prévia em pesquisa), trabalharemos 
tipicamente com investigações sobre questões relacionáveis diretamente à realidade social/expressional da comunicação ou da educação.
Muito bem... até aqui tivemos exclusões (do tipo não faça isto). O que não 
permite avançar-se muito, porque a questão não é o que não fazer, mas sim o 
que fazer sobre o que não sabemos, sobre nossa curiosidade, que se deve expressar 
em um não saber especificado, para gerar pesquisa.


PARA COMEÇAR A CONSTRUIR O PROBLEMA DA PESQUISA

Sabemos, então (aproximadamente), o tipo de problema que nos interessa 
para fazer pesquisa, em torno de um tema de nosso interesse. Mas ainda não 
temos certeza de como elaborar e expressar um problema de pesquisa.
É claro que naturalmente não há receitas para isso. Constrói-se um problema de pesquisa de muitas e muitas formas diferentes. Além disso, construir 
um problema de pesquisa não corresponde simplesmente a descobrir a questão
e a escrever. É um processo de elaboração que se pode desenvolver em várias 
fases diferentes da própria pesquisa – evoluindo à medida que estudamos 
autores, fazemos pré-observações e pensamos metodologicamente sobre como 
abordar nosso objeto.
Mas nossa questão aqui – felizmente – é bem mais simples. Trata-se apenas 
de prefigurar um problema de pesquisa; em dar a partida, em ter um questionamento inicial em que se agarrar para poder depois, já na pesquisa, dar outros 
passos.
Façamos então o seguinte.
Como primeiro passo, escreva tudo o que você já sabe sobre o tema de 
seu interesse. Inclua aí dados de experiência prática, observações casuais que 
tenha feito sobre o objeto que lhe chama a atenção, leituras recentes, leituras 
ad hoc (ou seja, já realizadas em decorrência de estar pretendendo elaborar 
uma proposta sobre o tema). Não se esqueça de incluir, é claro, aquelas idéias 
fulgurantes, as sacações referidas antes (se existirem, mas lembrando que não 
são necessárias).

Lembre-se também de identificar as diferentes origens do que você já 
sabe (leituras, experiência etc.). No caso de leituras, não se esqueça de citar 
os autores, livros, número das páginas.
Note: esse texto não é ainda o seu projeto. É apenas um documento preparatório, uma peça para ficar nos bastidores e que não irá à cena. Sinta-se livre, 
portanto, para escrever o que quiser, da forma que preferir. Nenhum professor 
vai ler isso – você estará escrevendo para si mesmo.
Só o fato de ter alinhado essas proposições, se você tem sorte, já lhe 
terá deixado cheio de dúvidas. Supere aquelas existenciais, as referentes a sua 
competência para tratar do assunto e para fazer pesquisa, e selecione apenas 
as que dizem respeito ao próprio objeto.

Passemos então ao segundo passo da elaboração – sempre nos bastidores, 
sempre escrevendo apenas para você. Utilize as dúvidas percebidas, mobilize 
sua curiosidade e comece a escrever perguntas; tudo que você consiga perguntar. 
Nesse momento, não se preocupe se são relevantes ou não, se são brilhantes ou 
simples. É uma fase de brainstorm (se não sabe o que é, que tal ir ao dicionário?). 
O prêmio aqui não é para as boas questões, mas para a maior diversidade.
Você poderá então passar ao terceiro passo, que é, naturalmente, a crítica das perguntas. Distinga as que expressam apenas falta de informação e de 
maiores estudos. Você desconfia que esse conhecimento já existe em algum 
lugar e que precisará dele para fazer avançar a pesquisa, mais tarde. Guarde 
cuidadosamente tais perguntas para que o ajudem a procurar informações, mas 
perceba que elas não comporão diretamente seu problema de pesquisa.
Separe ainda as questões práticas, isto é, aquelas que pedem soluções 
concretas, ações, propostas diretas sobre o que fazer. Esse conjunto não tem 
uso central para a construção do problema de pesquisa. Mas reserve-as para 
uma segunda rodada de brainstorming. Verifique aí se não é possível derivar
delas dúvidas de conhecimento. Além disso, se são perguntas práticas complexas 
e relevantes, podem servir como meta posterior à pesquisa, ou seja, a pesquisa buscará conhecimentos que sejam depois úteis para encaminhar soluções 
para os problemas de realidade (e isso deve, mais tarde, ser indicado em sua 
proposta).


Discrimine também as perguntas para as quais você já tem resposta. É 
fundamental ser muito sincero com você mesmo. A resposta pode ser aquela 
sacação que você gostaria muito que fosse a conclusão da pesquisa – mas aí não 
vale, porque esta já estaria concluída antes de ser começada. Pode ser, ainda, 
que a resposta seja uma proposição argumentativa elegantemente direcionada 
pela pergunta. Nesse caso, trata-se do que chamamos de pergunta retórica, ou 
seja, ela não pede uma resposta, como uma questão comum, apenas encaminha 
um argumento. Exemplo: “Seriam os usuários de TV passivos diante da programação que recebem?” – encaminhando a resposta: “Não, pois percebemos 
que cada espectador reage diferentemente aos programas, gerando variadas 
interpretações. Logo, estão ativamente fazendo interagir seus repertórios pessoais 
(variados) com o que diz e mostra a programação”.293
Para o caso das perguntas que já têm ou presumem respostas, veja se as 
proposições feitas na primeira fase de nosso exercício (alinhar tudo o que você 
já sabe sobre o tema) mais ou menos coincidem com as respostas implícitas. Em 
caso negativo, pense em transferir esse material para aquele documento preparatório, já agora na forma de propostas afirmativas e não mais interrogativas.
Separe ainda as questões amplas demais, muito genéricas e vagas, que você 
não consiga relacionar a uma busca especificada de conhecimento. Lembre-se de 
que você vai investigar (ou seja: vai olhar sistematicamente um pedaço da realidade) para procurar encaminhamentos para seu problema. Assim, perguntas 
muito amplas ou vagas não são pertinentes – ou você não saberia o que olhar 
na realidade; ou teria que observar uma realidade muito ampla, diversificada 
e complexa (e não daria tempo).

Por exemplo: “Como a comunicação midiática modifica os processos de 
aprendizagem tradicionalmente ancorados no livro?”. Interessantíssima questão. 
Entretanto, não é diretamente pesquisável. Se eu tiver suficiente experiência na 
área (interface comunicação/educação) e as leituras adequadas, poderei escrever um belo ensaio em, digamos, dois meses de trabalho. Mas não conseguirei 
investigar a questão diretamente nesse nível de abrangência, nem mesmo em 
dez anos de pesquisa.
Distinga o conjunto acima, mas não jogue fora essas perguntas. Elas talvez 
tenham forte utilidade para definir o horizonte em função do qual o problema 
pode ser construído. É por isso que insisti antes na palavra diretamente. Pois 
quem sabe indiretamente signifique questões relevantes. Você poderá então 
tentar derivar perguntas mais específicas a partir delas – nesse caso, mantenha 
as questões gerais como seu horizonte e construa o problema em torno das 
específicas.

É possível que você tenha, no seu elenco, algumas perguntas do tipo sim/
não. São aquelas que oferecem apenas uma possibilidade binária exclusiva de 
resposta: ou uma coisa, ou outra. É raro (embora não impossível) que essas 
questões sejam bom eixo de pesquisa. Primeiro porque, quando são tão dramaticamente contrapostas, já temos uma preferência por uma das alternativas (o 
que nos remete às perguntas com respostas prontas). Depois, porque a realidade sociocultural e o sentido das coisas dificilmente são tão simplificados para 
permitir dualidades mutuamente excludentes. Alternativamente: ou a contraposição é justamente simples, e não exige pesquisa, ou é caso antes de tomada 
de posição do que de busca de conhecimento, e não exige pesquisa.
O mais freqüente é que uma pergunta desse tipo na verdade esteja reduzindo uma realidade mais complexa, que não deveria portanto estar sendo 
apreendida em termos de ou isso ou aquilo. E aí, qualquer que seja a alternativa resultante da investigação – sim ou não –, torna-se pobre ou claramente 
falseadora da situação.

Assim, se você tem alguma pergunta elaborada dessa forma, em vez de 
descartá-la, procure derivar dela questões mais sutis ou complexas – do tipo 
Como? –, que se mantêm abertas, pois podemos encontrar diversos como em 
vários níveis (ou seja, diferentes modos e formas de um processo ou fato). Ou, 
ainda, tente perguntas como: “Que diferenças podem ser percebidas [em alguma 
coisa que parece em geral monolítica]?”. E também: “Que semelhanças podemos 
encontrar [em coisas que parecem diferentes ou isoladas entre si]?”. É claro 
que interrogações dessa natureza dependem de que já estejamos desconfiados 
das diversidades (ou das similaridades, na segunda alternativa). Mas note que 
a questão não é “Há diferenças internas na situação dada como monolítica?” 
(resposta sim ou não). Procurar diferenças e variações decorre da prévia perspectiva do sim – e a busca será de quais?, questão aberta à descoberta.
Feitas as distinções anteriores, você deve ter agora um conjunto (mesmo 
pequeno) de perguntas mais ou menos específicas, mais ou menos indicadoras 
para o trabalho de investigação (observação, trabalho de campo, exame de 
textos e materiais audiovisuais – obtenção de dados).
Se forem muito poucas e você sentir que estão ainda fraquinhas, tente uma 
segunda rodada de geração de perguntas – novas ou derivadas das perguntas 
amplas, das perguntas práticas e das do tipo sim/não. Ao final de um certo 
exercício nessa direção, tendo chegado a um conjunto de questões mais ou 
menos aceitas (por você mesmo, é claro), passaremos ao exercício seguinte – 
que será nossa quarta fase, a de sistematização das perguntas.
Note que não é preciso ter um grande número de interrogações para construir 
um problema de pesquisa. É melhor mesmo que sejam poucas, pois o importante 
é a consistência do conjunto e, particularmente, sua relevância e possibilidade de 
efetivamente demarcar a curiosidade que você tem sobre o assunto.
Como quarto passo, procure então organizar as perguntas – mais relevantes e secundárias; mais amplas e mais específicas; independentes entre si ou 
relacionadas; relacionadas em paralelo ou por subordinação; mais teóricas ou mais 
voltadas para a busca de dados etc.


Os modos de organizar vão depender, é claro, do conjunto específico de 
questões que você gerou. O objetivo principal, aqui, é ultrapassar o nível de 
perguntas soltas e chegar a um padrão de consistência em que se perceba um 
conjunto integrado, internamente relacionado, de perguntas.
Faça isso como um jogo de armar – tente uma alternativa, um “desenho”, 
e depois outro e outro, até ficar satisfeito. Não fique, porém, satisfeito cedo 
demais: brinque um pouco com as possibilidades.
No decorrer do processo, é possível que você tenha a tendência de reformular algumas questões, de criar outras, de substituir alguma coisa. Sinta-se à 
vontade: as perguntas são suas.
No quinto passo, quando tiver chegado a um conjunto mais ou menos 
consistente, veja se consegue escrever um pequeno texto para “explicar” o que 
é tal conjunto, por que ele é interessante, como efetivamente configura sua 
curiosidade sobre o tema.

Não é preciso insistir que esses exercícios são iterativos, isto é, podem (e 
devem) ser reiterados, em um processo de ida e volta entre: as proposições 
iniciais sobre o tema; as perguntas (em sua variedade de tipos); a crítica das 295
perguntas; o conjunto de construção de consistência no questionamento; e o 
texto sobre o interesse das perguntas.
Os documentos elaborados nas diferentes fases do exercício não são ainda
a proposta de pesquisa, porém constituem aqueles documentos preparatórios, de 
bastidores. Mas ao chegar a um conjunto consistente de perguntas (para sua 
satisfação) e conseguir o texto explanatório sobre seu questionamento, você 
terá então os materiais necessários para começar a escrever a proposta. Faça, 
assim, um texto claro, pensando em um leitor que possa compreender seu 
projeto. Use o que for possível e interessante, dos documentos preparatórios, 
no texto da proposta. Lembre-se de que você não está escrevendo um artigo; 
dessa forma, evite respostas antecipadas e um tom de terminalidade. Mantenha 
o texto aberto para futuros desenvolvimentos e não esconda suas dúvidas.
Não se preocupe excessivamente com o atendimento desses passos, como 
se fossem uma receita rígida. Tome suas próprias decisões. Tais indicações são 
genéricas, e sua construção de problema é específica. Você pode, então, se sentir 
mais produtivo deixando de lado alguma coisa e inventando outras táticas.


RELAÇÕES ENTRE PROBLEMA E OBSERVAÇÃO

Em uma fase inicial, os desenvolvimentos teóricos e o planejamento da 
observação podem ser ainda bastante preliminares. No momento – e com rela-
ção à construção do problema de pesquisa –, quero apenas chamar a atenção 
para duas ou três idéias básicas sobre relações entre o problema de pesquisa 
e o trabalho concreto de investigação.
Deve haver uma forte coerência entre o problema de pesquisa e a percepção da realidade (investigação propriamente dita). Mesmo que a previsão 
detalhada das verificações a serem feitas corresponda a uma etapa posterior 
de planejamento, é importante pensar desde já no que você pretende observar 
sistematicamente.
Primeiro, para prefigurar o que será seu trabalho de campo. Você vai entrevistar pessoas? Quantas? Onde? Examinará produtos midiáticos (programas 
de TV, sites de internet, fotografias)? Acompanhará experiências pedagógicas? 
Quais, quantas, segundo que perspectivas? Irá observar diretamente pessoas em 
atividade no mundo real (interagindo na internet, o público de um festival de 
cinema, uma redação de jornal, uma escola)? Que situações específicas interessam? Como vai observar (participando do grupo, apenas olhando, fazendo 
perguntas)? Para obter que tipos de dados?
Como se vê, uma listagem seria infinda. Pensar em suas alternativas específicas é relevante, porque essa vai ser a investigação propriamente dita. Você 
ocupará uma boa parte do seu tempo fazendo tais coisas – e não deve ser 
apanhado de surpresa, na hora da investigação, sem saber direito o que fazer, 
nem descobrir de última hora que aquele problema exige certas observações.
Mas há uma outra razão para pensar nisso desde o começo. Você deve 
decidir se as observações que está pensando em fazer são coerentes com o 
problema de pesquisa que começou a construir. Aquele problema, apresentado 
daquele modo, será adequadamente gerador de conhecimentos através dessas 
observações?
Assim, prefigurar as observações é um bom teste para a qualidade da 
construção do problema. Caso as observações imaginadas não pareçam estar 
bem articuladas com o problema, tente decidir se outras seriam melhores, 
mais ajustadas. Mas também é possível que as observações pretendidas sejam 
interessantes. Neste caso, faça uma boa revisão em suas perguntas para ajustá-
las ao trabalho investigativo que está querendo fazer. Elas serão aperfeiçoadas, 
ajudando a desenvolver o problema de pesquisa.
Você terá, assim, iniciado – concretamente – seu projeto de pesquisa. A 
partir daí, as buscas teóricas virão – a serviço do projeto e não como abstração 
desconectada. Pode ser um bom começo.

Resumo:
O presente artigo, dirigido a 
estreantes em pesquisa, trata dos movi­
mentos reflexivos e construtivos iniciais 
para desenvolver um projeto. Depois 
de propor que a habitual insistência em 
hipóteses de pesquisa pode levar a equí­
vocos, quando se trata de pesquisas qua­
litativas, enfatiza o trabalho preliminar de 
construção do problema de pesquisa. 
Explicita características mínimas de um pro­
blema adequado, afastando tipos de proble­
ma pouco promissores. Apresenta então, 
sobre esta base, indicações práticas para 
tal construção, através de um exercício em 
cinco passos ou fases. Finalmente relaciona 
a previsão da observação (investigação 
propriamente dita) com a construção do 
problema.
Palavras-chaves: projeto de pesquisa, 
problema de pesquisa, investigação.

KELLY MODELS MAGAZINE

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