Renata Werneck
renata.werneck@jornaldebrasilia.com.br
Em um país onde mais da metade da população se declara negra,
espera-se que essas pessoas sejam representadas em todos os aspectos
sociais. Nem sempre é isso o que acontece, mas, timidamente, surgem
mudanças. O concurso Miss Brasil deste ano, que ocorrerá neste sábado,
tem a maior quantidade de candidatas negras da história: seis vão
concorrer com mais 21 mulheres ao título de mais bonita do País. Até o
momento, apenas uma negra venceu.
As candidatas deste ano representam Bahia (Victoria Esteves),
Espírito Santo (Beatriz Leite Nalli), Maranhão (Deise D’Anne), Paraná
(Raissa Santana), Rondônia (Mariana Theol) e São Paulo (Sabrina Paiva).
Segundo o IBGE, 54% dos brasileiros se consideram pretos ou pardos.
Ainda de acordo com a pesquisa, 26% da população brasileira é formada
por mulheres que se declaram negras.
Nossa representante
No Miss Brasil 2015, Amanda Balbino defendeu o Distrito Federal e foi
a única negra na maior competição de beleza do País. “A
representatividade é importante para que as pessoas que estão aqui
saibam que elas também têm um lugar lá fora e que elas podem ocupar esse
espaço, porque também é delas”, afirma a modelo.
Para a miss, o brasileiro ainda não aceita sua diversidade e os
vários tipos de beleza que compõem a nação e, por isso, demorou tanto
para que uma negra fosse eleita Miss Brasil. Deise Nunes foi vencedora,
em 1986.
Na avaliação de Amanda, o brasileiro se inspira em outros países e
esquece de olhar para dentro. “Eu acho que demora não porque somos
incapazes, mas porque as barreiras vêm antes”, diz ela ao afirmar que,
até mesmo nos concursos de menor visibilidade, negras, índias e mestiças
são barradas por não serem consideradas belas o suficiente para chegar à
final.
Com tantas portas fechadas e dificuldades impostas, muitas desistem
de seguir seus sonhos. Amanda diz ter duvidado do seu potencial já que,
em meio a tantas críticas do mundo dos concursos, deixou de se sentir
forte. “Eu, por muito tempo, esqueci do que era importante pra ser
feliz”, desabafa.
No universo da moda, chegaram a pedir que Amanda alisasse o cabelo e
afinasse o nariz. “Mas ter consciência da minha beleza, do meu potencial
e das minhas metas fez com que não me sujeitasse e aceitasse qualquer
comentário”, conta. “Falando de medidas, a pessoa pode até tentar
emagrecer, se ajustar, mas os traços são imutáveis”, completa.
Para a modelo, o importante é ter confiança no próprio potencial no
meio de tanta crítica. “No passado, eu tinha essa vontade de chegar até o
final do concurso para insistir e mostrar pra cada princesa negra que
ela poderia chegar lá. Neste ano, eu tenho certeza de que elas vão ver
porque as negras estão com toda a força, com todo o poder e estão em
peso. Sinto imensa gratidão”, alegra-se.
Saiba mais
Segundo Amanda, trazer mulheres com características diversas minimiza
a diferença entre o que é considerado belo e a real característica da
população. Assim, quem está em casa
se sente bonita, representada e capaz
de chegar lá.
se sente bonita, representada e capaz
de chegar lá.
“Quando você coloca na televisão essas mulheres que são consideradas
belas e elas são sempre do mesmo padrão, você acaba passando a mensagem
de que quem não é daquele jeito deve se adequar àquele padrão para ser
considerada bela também”, afirma a modelo.
Racismo no cenário da moda
A modelo Amanda Balbino já presenciou e sofreu racismo no cenário da
moda. Profissionais chegaram a afirmar que cabelo cacheado não era
elegante e que não tinham maquiagem específica para a pele negra, caso
este que ela viveu, inclusive, durante o confinamento do Miss Brasil
2015. As candidatas iriam participar de um desafio de maquiagem e os
patrocinadores não forneceram produtos para seu tipo de pele.
“Na caixinha, todos os utensílios eram para pele clara. Pedi, então,
que fosse trocado para pele escura e eles falaram que não tinham. Eu
fiquei pensando como lançam uma linha de maquiagem no maior concurso de
beleza do Brasil e não tem nada para a pele negra, sabendo que as
brasileiras são tão diversas”, reflete. Mesmo sem os produtos adequados,
a modelo ganhou o desafio e pôde sugerir que tais materiais fossem
acrescentados à linha.
No início, amigos e familiares falavam que seria um diferencial ela
ser a única negra da competição, e, assim, teria mais chances de ganhar.
Porém Amanda disse ter se sentido triste. “Eu só conseguia pensar: ‘Que
concurso era esse que a gente nem chega perto?’. Não era só questão do
resultado. As mulheres negras não podiam ser eleitas porque elas não
estavam lá.”
“Era 1/27 de chance de uma negra ser a Miss Brasil. Eu queria ter
outras irmãs ali do meu lado, e assim, a gente teria mais chances de
ganhar esse concurso que tem visibilidade no país inteiro. Eu, na
verdade, me senti em desvantagem e desvalorizada.”
Amanda de diz orgulhosa da maior representatividade negra neste ano: “Ainda falta mais, mas estou extremamente feliz”.
http://www.jornaldebrasilia.com.br/cidades/miss-brasil-2016-universo-um-pouco-menos-desigual/
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