Fonte: http://racabrasil.uol.com.br/
Por Edmea Ferreira
Deise Nunes, coroada Miss Brasil em 1986, mudou o conceito de misses no país ao colocar um ponto final na supremacia de loiras e morenas. Foi a primeira mulher negra a vencer o concurso. |
Deise entrou para a história com apenas 18 anos, no dia 17 de maio de 1986, mas o preconceito era tamanho que, na época, chegaram a cogitar o fato de ela não ser realmente gaúcha, só porque não seguia o estereótipo das mulheres de sua cidade, Porto Alegre, com traços predominantemente alemães, fruto da colonização europeia. Mas seus valores foram maiores do que qualquer manifestação de preconceito. A vitória de Deise serviu de referência para a valorização da beleza negra. "Uma miss precisa ter vários atributos, como simpatia, desenvoltura, charme na passarela e saber se expressar. Mesmo com tudo isso, acredito que o fator decisivo para a minha vitória foi o de ser negra", orgulha-se.
Aos 14 anos, ela já dava seus rasantes na passarela. Foi em 1984 que os olhos atentos de Paulo Franchini, então diretor do Sport Club Internacional, miraram a beleza de Deise pela primeira vez. Ele a convidou para representar o clube no concurso Rainha das Piscinas, o qual ela venceu. "Ouvi pessoas indignadas, dizendo como, no meio de tantas loiras, justo uma negra havia vencido!", conta. O Miss Brasil veio logo em seguida, realizado na época pelo programa Silvio Santos. Com a faixa e o cedro nas mãos, Deise percorreu o mundo participando de outros concursos. Em todos eles, raramente uma candidata negra fazia parte do casting. Durante o seu reinado, fez aparições em prol de causas sociais, desempenhando, frisa, o verdadeiro papel de uma Miss. "Aprendi muito com minha carreira. Viajei representando o nosso país no exterior e conheci diversas cidades do Brasil. Ser modelo exige demais de uma mulher. Trabalha-se muito e dorme-se pouco, não é nada fácil."
Deise Nunes, em 1986 foi a quarta representante do Rio Grande do Sul a ser coroada miss Brasil.Foi a primeira e única negra brasileira a disputar o Miss Universo, sendo uma das semifinalistas: sua classificação foi o sexto lugar |
Deise foi a única negra brasileira a disputar o Miss Universo, classificando-se em sexto lugar. Hoje, 25 anos depois, ela aplaude a vitória de Leila Lopes e comemora o novo momento da beleza universal. Leila tem os olhos negros e os cabelos longos, assim como Deise. Deise tem um sorriso contagiante e um jeito harmonioso de falar, assim como Leila. As semelhanças são maiores do que qualquer diferença. Mas, a maior virtude de ambas, certamente foi ter feito a chama da autoestima negra se ascender pelo mundo. "A primeira angolana eleita Miss Universo já mostrou por que venceu. Meiga, simpática e bem articulada, ela me pareceu centrada em seus objetivos", comenta Deise, que agora atua no backstage. Foi jurada, palestrante, apresentadora de programas locais sobre moda e deu aulas de passarela, oportunidades para dividir muito de sua experiência com as garotas que hoje sonham com o título. Casada e mãe de Pedro e Julia, ela pretende abrir uma escola de passarela e etiqueta no Rio Grande do Sul.
O que sentiu ao se tornar a primeira negra eleita Miss Brasil? Foi uma alegria e honra ter sido eleita a primeira Miss Brasil negra. Confesso que não esperava e a ficha só foi cair dois ou três dias depois. Vencer me mostrou que é possível acreditar e lutar por todos os sonhos. No início, quando fui vítima de preconceito, pensei em desistir, só não o fiz por estímulo de minha mãe.
Em um concurso como o Miss Brasil, no qual a maioria das vencedoras eram loiras, você sofreu preconceito?
Naquela época o preconceito racial era muito grande, quase nunca encontrávamos uma negra em concursos de beleza. Felizmente, não sofri preconceito no Miss Brasil, nem no Miss Universo. A minha pior experiência aconteceu em um concurso que participei em 1984, chamado Rainha das Piscinas do Rio Grande do Sul. Foi a primeira vez que sofri discriminação, ouvi de algumas pessoas o seguinte: "No meio de tanta loira foi ganhar justo uma negra". Sofri, mas depois me dei conta de que isso me deu força redobrada para lutar pelos meus objetivos.
Naquela época o preconceito racial era muito grande, quase nunca encontrávamos uma negra em concursos de beleza. Felizmente, não sofri preconceito no Miss Brasil, nem no Miss Universo. A minha pior experiência aconteceu em um concurso que participei em 1984, chamado Rainha das Piscinas do Rio Grande do Sul. Foi a primeira vez que sofri discriminação, ouvi de algumas pessoas o seguinte: "No meio de tanta loira foi ganhar justo uma negra". Sofri, mas depois me dei conta de que isso me deu força redobrada para lutar pelos meus objetivos.
Negra e gaúcha... As pessoas estranhavam?
Sem dúvida, fui muito questionada quando cheguei a São Paulo com a faixa de Miss Rio Grande do Sul. Muitas pessoas estranharam o fato de uma negra representar um estado colonizado, na sua maioria, por alemães e italianos. Isso só mostrou o quanto estavam desinformadas, afinal, no Sul existem todas as raças, como em qualquer outro lugar do Brasil.
"NO MEIO DE TANTA LOIRA FOI GANHAR JUSTO UMA NEGRA". SOFRI, MAS DEPOIS ME DEI CONTA DE QUE ISSO ME DEU FORÇA REDOBRADA PARA LUTAR PELOS MEUS OBJETIVOS
Qual o verdadeiro papel de uma miss?
Acho que o papel de uma miss é estar sempre engajada. Ajudar quem necessita é a melhor coisa do mundo. Saber que um sorriso, um abraço ou até mesmo a simples presença em um evento faz alguma diferença, é maravilhoso. Quem consegue se doar, recebe mais do que imagina. Eu trabalhei em prol de diferentes causas.
Acho que o papel de uma miss é estar sempre engajada. Ajudar quem necessita é a melhor coisa do mundo. Saber que um sorriso, um abraço ou até mesmo a simples presença em um evento faz alguma diferença, é maravilhoso. Quem consegue se doar, recebe mais do que imagina. Eu trabalhei em prol de diferentes causas.
A vitória de Leila Lopes no Miss Universo tem um significado especial?
A Leila é a quarta negra a ser eleita Miss Universo. A primeira foi de Trinidad e Tobago, em 1977. Em 1998, outra negra de Trinidad e Tobago levou a coroa e, no ano seguinte, em 1999, uma representante de Botsuana. Tudo isso mostra que as pessoas começaram a aceitar as diferenças. Ainda estamos longe de um mundo perfeito, onde cada um se importe realmente com a sua vida, mas não podemos desistir de lutar para que isso aconteça o mais rápido possível. A vitória da Leila veio acender a chama da autoestima das negras pelo mundo. A primeira angolana eleita Miss Universo já mostrou porque venceu o concurso. Meiga, simpática e bem articulada, em poucas entrevistas já deixou o seu recado. Ela me parece focada. Segundo li, vai trabalhar em prol das crianças com Aids em Angola e pelo mundo.
A Leila é a quarta negra a ser eleita Miss Universo. A primeira foi de Trinidad e Tobago, em 1977. Em 1998, outra negra de Trinidad e Tobago levou a coroa e, no ano seguinte, em 1999, uma representante de Botsuana. Tudo isso mostra que as pessoas começaram a aceitar as diferenças. Ainda estamos longe de um mundo perfeito, onde cada um se importe realmente com a sua vida, mas não podemos desistir de lutar para que isso aconteça o mais rápido possível. A vitória da Leila veio acender a chama da autoestima das negras pelo mundo. A primeira angolana eleita Miss Universo já mostrou porque venceu o concurso. Meiga, simpática e bem articulada, em poucas entrevistas já deixou o seu recado. Ela me parece focada. Segundo li, vai trabalhar em prol das crianças com Aids em Angola e pelo mundo.
O que você mudou do seu tempo de miss até hoje? Acredita que Leila Lopes sofrerá menos preconceito?
Desejo que ela sofra menos preconceito, ou melhor, não sofra nenhum. Ninguém merece ser discriminado pela raça, pela cor, pelo credo ou mesmo pela opção sexual. Precisamos aprender a conviver e a respeitar as diferenças, só assim construiremos um mundo mais humano. Quanto à moda, é visível a mudança, a começar pelo perfil das candidatas. A cada ano que passa elas estão mais parecidas com modelos. Hoje, as mulheres não têm tantas curvas, são mais longilíneas.
Desejo que ela sofra menos preconceito, ou melhor, não sofra nenhum. Ninguém merece ser discriminado pela raça, pela cor, pelo credo ou mesmo pela opção sexual. Precisamos aprender a conviver e a respeitar as diferenças, só assim construiremos um mundo mais humano. Quanto à moda, é visível a mudança, a começar pelo perfil das candidatas. A cada ano que passa elas estão mais parecidas com modelos. Hoje, as mulheres não têm tantas curvas, são mais longilíneas.
Você ainda tem envolvimento com o mundo das misses?
Sempre estive envolvida com misses, seja como jurada de concursos ou mesmo palestrante. E tenho planos de abrir uma escola em que eu possa ensinar passarela, postura e etiqueta. E isso não serve somente para misses, ajudará também todas as pessoas que almejam subir na vida, desejam ser reconhecidas no trabalho ou até mesmo levantar a autoestima. Ter dado aulas de passarela e etiqueta para as misses foi muito importante, tiro proveito das dúvidas das alunas e das tendências para estar em constante aperfeiçoamento profissional.
Sempre estive envolvida com misses, seja como jurada de concursos ou mesmo palestrante. E tenho planos de abrir uma escola em que eu possa ensinar passarela, postura e etiqueta. E isso não serve somente para misses, ajudará também todas as pessoas que almejam subir na vida, desejam ser reconhecidas no trabalho ou até mesmo levantar a autoestima. Ter dado aulas de passarela e etiqueta para as misses foi muito importante, tiro proveito das dúvidas das alunas e das tendências para estar em constante aperfeiçoamento profissional.
Parabéns pela ótima matéria no túnel do tempo e estarei divulgando em algumas Redes Sociais em especial no dihitt, ok!
ResponderExcluirOlá Charles! Agradeço a sua visita, que bom que você gostou do post! Espero vê-lo frequentemente por aqui. Um abraço!
ResponderExcluirParabens!
ResponderExcluirNos sabemos que ainda tem muito preconceito escondido!
Nos sabemos que muitos ligam mais para o politicamente correto!
Ja vou lhe avizando faço questão de divulgar!