O Dia Mundial de Luta Contra a Aids foi criado para relembrar o combate à doença e despertar nas pessoas a consciência da necessidade da prevenção, aumentar a compreensão sobre a síndrome e reforçar a tolerância e a compaixão às pessoas infectadas.
Foi a Assembléia Mundial de Saúde, com o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU), que instituiu a data de 1º de dezembro. A decisão foi tomada em outubro de 1987. No Brasil, a data passou a ser comemorada a partir de 1988, por decisão do Ministro da Saúde.
A cada ano, diferentes temas são abordados, destacando importantes questões relacionadas à doença. Em 1990, por exemplo, quando a Aids ainda era mais disseminada entre os homens, o tema foi "A Aids e a Mulher". Em 1997, foi a vez de as crianças infectadas serem lembradas. A importância da família e da união de forças também já foram destacadas como importantes aliados da luta contra a Aids.
Aids após os 50 anos preocupa os médicos
Só no Brasil, os números referentes à contaminação pelo HIV provam mais uma vez que a aids não escolhe vítimas. Também justificam a nova campanha do Programa Nacional de DST e Aids, lançada hoje, no Dia Mundial de Luta contra a Aids: "Sexo não tem idade. Proteção também não".
O objetivo é conscientizar a terceira idade (mais ativa do que nunca) sobre a importância do uso de preservativos nas relações sexuais, além de tentar reduzir algumas estatísticas recentes que têm preocupado os especialistas.
De acordo com o Boletim Epidemiológico Aids/DST de 2008, divulgado pelo Programa Nacional de DST e Aids, o aumento do número total de casos de aids notificados no Brasil, nos últimos dez anos, foi de 23,7% (ou seja, cresceu de 27.225 para 33.687). Enquanto isso, no mesmo período, o aumento de vítimas entre a população com mais de 50 anos foi de quase 140% (saltou de 1.966 casos para 4.715).
Entre as mulheres nessa faixa etária, os números foram ainda mais alarmantes: de 651 para 1.837 casos, representando um aumento de 182% na população do sexo feminino. Já entre os homens com 50 anos ou mais o crescimento foi menor (119%), saltando de 1.315 casos para 2.878.
Os médicos garantem que boa parte dessas novas estatísticas se deve à preocupação das pessoas em cuidar mais da saúde - independentemente da idade. Por isso, os diagnósticos têm revelado a presença dessa e de outras doenças. Quanto à diferença em relação aos sexos, segundo a geriatra Sílvia Pereira, também tem a ver "com a maior expectativa de vida registrada entre as mulheres".
O peso de uma "revolução" cultural
Os especialistas, porém, não descartam a contribuição das últimas mudanças culturais no aumento de casos de aids entre as pessoas mais maduras. De acordo com Ivo Brito, coordenador da unidade de prevenção do Programa Nacional de DST e Aids, não há como negar a preocupação dos "idosos" em melhorar a qualidade de vida e, conseqüentemente, manter a atividade sexual.
A médica Sílvia Pereira, secretária-geral da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, concorda. Não é à toa que boa parte das vítimas com mais de 50 anos tem boas condições financeiras. "São eles que se cuidam mais e têm mais acesso a medicamentos para melhorar a vida sexual. As viúvas, hoje, tendem a procurar prazer com outros parceiros e algumas até chegam a pagar por sexo", garante Sílvia que atende idosos com mais de 65 anos.
Outra razão, para os médicos, que pode ter contribuído para ampliar os riscos de infecção nessa população, é o fato dessa faixa etária ser mais resistente aos métodos de prevenção. "Essa é uma geração que não vivenciou o impacto da epidemia da aids. Ela viveu o babyboom e a liberação sexual, e esse hiato de tempo faz com que eles tenham uma resistência maior. Muitos afirmam que o preservativo diminui a atividade erétil e pode prejudicar a relação sexual", conta Ivo Brito.
O infectologista Jorge Senise, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), vai além. "Eles não têm o hábito de usar camisinha e ainda acreditam que não correm o risco de se infectar nesse estágio da vida. Não sabem que, hoje, não existem mais grupos de risco. Todos estão sujeitos", alerta o médico.
Cuidados extras após os 50
A prevenção contra a aids, independentemente da idade, é ainda o melhor remédio. Mas essa regra vale especialmente para quem já passou dos 50 anos. Nessa fase da vida, o tratamento fica cada vez mais difícil com o passar do tempo. Por isso, é preciso investir também em um diagnóstico precoce.
Mesmo que os medicamentos indicados sejam os mesmos, as doses receitadas muitas vezes são menores, por conta do risco de uma interação medicamentosa (reação negativa entre dois ou mais remédios). Ou ainda para não piorar o quadro de alguma outra doença do paciente. Quanto aos esfeitos dos medicamentos do coquetel anti-aids, "eles são igualmente eficazes, pelo que observei em tratamentos especializados", garante a geriatra Sílvia.
"Nessa faixa etária, a probabilidade de as pessoas desenvolverem doenças crônicas são maiores", explica Ivo Brito. "Alguns anti-retrovirais aumentam um pouco o colesterol e isso pode criar um efeito colateral grave se o paciente tiver uma doença cardiovascular aguda, por exemplo."
A geriatra Sílvia comenta que existe também um problema de falta de adesão ao tratamento. "A pessoa idosa já usa outros medicamentos e acaba falhando na manipulação dos remédios para aids - esquece-se ou não adere às orientações recebidas. Eles não querem sentir mais náuseas decorrentes de alguns remédios, então, se o medicamento começa a alterar sua disposição, eles simplesmente suspendem o uso e não comunicam os médicos. Não temos como controlar."
Ainda de acordo com a médica, os efeitos colaterais dos remédios são acentuados pela fisiologia dos idosos. "Eles têm funções renal e hepática diminuídas", alerta. "Isso sem contar aqueles que têm outras doenças que podem dificultar a ação dos remédios para aids ou reagirem mal à presença deles. A solução seria começar com uma dose mais baixa de medicação e ir controlando, junto com um acompanhamento individual", finaliza Sílvia.
fonte: http://saude.terra.com.br
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