Para quem gosta de morrer mais cedo, o cigarro é arma de eficácia incomparável. Ele reduz de tal forma a duração da vida que nenhuma medida isolada de saúde pública tem tanto impacto na redução da mortalidade quanto parar de fumar.
Acaba de ser publicado o levantamento mais completo sobre os índices de
mortalidade em fumantes e ex-fumantes. Os dados foram colhidos entre
113.752 mulheres e 88.496 homens, de 25 a 79 anos de idade, acompanhados
durante 7 anos.
Em média, os fumantes consumiam mais álcool, tinham nível educacional
mais baixo e índice de massa corpórea menor do que o dos ex-fumantes e
daqueles que nunca fumaram.
Cerca de 2/3 dos que foram ou ainda são fumantes adquiriram a
dependência antes dos 20 anos, dado que explica o esforço criminoso da
publicidade dirigida para viciar crianças e adolescentes.
As curvas de mortalidade revelaram que:
1 - Continuar fumando encurta 11 anos na vida de uma mulher e 12 anos na vida do homem.
2 - Comparado com os que nunca fumaram, o risco de morte de um fumante é
três vezes maior. Mulheres correm riscos iguais aos dos homens,
confirmando o adágio
"mulher que fuma como homem, morre como homem".
"mulher que fuma como homem, morre como homem".
3 - Uma pessoa que nunca fumou tem duas vezes mais chance de chegar aos
80 anos. Na mulher de hoje, a probabilidade de sobreviver até essa idade
é de 70%, número que cai para 38% nas fumantes. Nos homens esses
valores são de 61% e 26%, respectivamente.
4 - A diferença de sobrevida é explicada pela incidência mais alta de
câncer, doenças cardiovasculares, doenças pulmonares obstrutivo-crônicas
(como o enfisema) e outras enfermidades provocadas pelo fumo. As causas
de morte mais frequentes são câncer de pulmão, infarto do miocárdio e
derrame cerebral.
5 - Na faixa de 25 a 79 anos de idade, cerca de 60% de todas as mortes são causadas pelo cigarro.
6 - O risco de desenvolver doenças pulmonares obstrutivo-crônicas nas
mulheres que fumam é 22 vezes mais alto; nos homens é 25 vezes maior.
Foi analisado também o impacto de parar de fumar na redução da mortalidade.
1 - Quanto mais cedo alguém deixa de fumar, mais tempo vive.
2 - As curvas de sobrevida dos que se livraram do cigarro entre os 25 e
os 34 anos de idade são praticamente idênticas às dos que jamais
fumaram. Parar nessa faixa etária faz ganhar pelo menos 10 anos de vida.
3 - As curvas dos que pararam dos 35 aos 44 anos são um pouco mais
desfavoráveis. Ainda assim, largar de fumar nessa fase permite viver
nove anos mais.
4 - Comparados com os que nunca fumaram, ex-fumantes que pararam ao
redor dos 39 anos ainda apresentam mortalidade 20% mais alta. Embora
significante, esse número é pequeno em relação ao risco 200% maior que
correriam se continuassem fumando.
5 - Parar de fumar dos 45 aos 54 anos reduz 2/3 da mortalidade geral e
faz ganhar em média seis anos de vida. Os que o fazem entre 55 e 64 anos
vivem em média quatro anos mais.
6 - O câncer de pulmão está associado ao maior risco de morte entre os ex-fumantes.
O fato de nas últimas décadas os fumantes terem aderido em massa aos
assim chamados cigarros de baixos teores não alterou em nada a
mortalidade.
No caso das doenças pulmonares obstrutivas, que evoluem com falta de ar
progressiva, foi até pior: a incidência mais do que duplicou desde a
década de 1980.
A explicação se deve às mudanças que a indústria introduziu na produção
de cigarros: o uso de variedades de fumo geneticamente selecionadas para
reduzir o pH da fumaça, o emprego de papel mais poroso e filtros com
mais perfurações, tornaram menos aversivas, mais profundas e prolongadas
as inalações, expondo aos efeitos tóxicos grandes extensões do tecido
pulmonar.
Como o cigarro perde espaço no mundo industrializado, e em países como o
Brasil, as multinacionais têm agido com agressividade nos mercados
asiáticos e africanos, valendo-se da falta de instrução das populações
mais pobres e da legislação frouxa que permite a publicidade predatória.
Os epidemiologistas estimam que essa estratégia macabra fará o número de
mortes causadas pelo cigarro --que foi de 100 milhões no século 20--
saltar para 1 bilhão no século atual.
Dr.Drauzio Varella é médico cancerologista. Por 20 anos dirigiu o
serviço de Imunologia do Hospital do Câncer. Foi um dos pioneiros no
tratamento da Aids no Brasil e do trabalho em presídios, ao qual se
dedica ainda hoje. É autor do livro "Estação Carandiru" (Companhia das
Letras). Escreve aos sábados, a cada duas semanas, na versão impressa de
"Ilustrada".
Fonte http://www1.folha.uol.com.br/colunas/drauziovarella/1243031-o-fumo-e-a-sobrevivencia.shtml
Fonte http://www1.folha.uol.com.br/colunas/drauziovarella/1243031-o-fumo-e-a-sobrevivencia.shtml
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