A França realizava neste sábado os primeiros exames em passageiros
provenientes de um país do oeste africano afetado pelo Ebola em meio a
um contexto de preocupação na Europa e nos Estados Unidos, onde o
presidente Barack Obama pediu que a população "não ceda à histeria".
Depois do último registro da epidemia ter mostrado que a doença
continua a avançar, com 4.555 mortes em 9.216 casos - principalmente na
Libéria, em Serra Leoa e na Guiné -, de acordo com os últimos números
divulgados na sexta-feira pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a ONU
e o Banco Mundial manifestaram grande preocupação com a falta de
solidariedade internacional com os países africanos afetados.
Pela primeira vez, os passageiros do voo diário da Air France ligando
a capital guineana Conacri a Paris foram examinados com um termômetro a
laser para detectar eventuais casos de febre, em sua chegada ao
aeroporto de Paris-Charles de Gaulle.
Este controle, já em vigor na Grã-Bretanha e em vários aeroportos
americanos, foi realizado apenas no voo proveniente de Conacri, única
ligação direta entre a França e um dos três países da África Ocidental
mais atingidos. Nenhum caso confirmado de Ebola foi registrado até o
momento na França.
Refletindo a intenção de várias autoridades mundiais de evitar a
psicose, o presidente Barack Obama pediu neste sábado que os americanos
não "cedam à histeria ou ao medo", pedindo que confiem nos fatos e
resistam à tentação de restringir os voos em direção ou provenientes da
África Ocidental.
O país não enfrenta uma "epidemia", garantiu o presidente dos Estados
Unidos, onde duas enfermeiras foram infectadas e um paciente liberiano -
que voltava de seu país - morreu vítima do vírus. Mas Obama admitiu que
novos casos "isolados" podem ser detectados.
Com o objetivo de acalmar a população americana, Obama nomeou na
sexta-feira um coordenador, o advogado Ron Klain, para garantir que "os
esforços para proteger os americanos, detectando, isolando e tratando os
pacientes de Ebola, sejam coordenados".
Mas o medo de um contágio em massa pelo vírus avança no mundo, apesar
dos apelos à calma e dos controles reforçados em vários países.
As autoridades portuárias mexicanas não permitiram na sexta-feira que
um transatlântico fizesse escala em Cozumel em razão da presença a
bordo de uma integrante de uma equipe médica de um hospital texano que
pode ter entrado em contato com o paciente liberiano que morreu de Ebola
em Dallas no dia 8 de outubro.
Na França, sindicatos de comissários de bordo da Air France exigiram
"o fechamento do serviço de Conacri" devido à preocupação causada pelo
"grave risco de propagação da epidemia". Eles querem que sejam seguidas
as medidas adotadas por outras companhias (British Airways e Emirates)
de suspender os voos para Conacri.
A única informação positiva está relacionada ao Senegal, que, depois
de ter registrado o seu último caso há mais de 40 dias, não é mais
considerado pela OMS um país afetado pelo Ebola. O mesmo anúncio deve
ser feito em relação à Nigéria, que registrou 20 casos, com oito mortes.
Mas a ajuda não está chegando, o que levou a ONU e o Banco Mundial a
fazerem um pedido para que as promessas internacionais de auxílio
financeiro e humano sejam transformadas em ação.
"Estamos prestes a perder a batalha" contra o vírus, lamentou na
sexta-feira em Paris o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim.
"Alguns países não estão preocupados com suas próprias fronteiras", o
que é "muito preocupante", segundo Kim, que considerou que "ainda não
se adquiriu a consciência da solidariedade necessária" em nível
internacional.
As Nações Unidas receberam até o momento 377 milhões de dólares dos
988 milhões solicitados, ou seja, 38%, indicou na sexta-feira um
porta-voz da OCHA (Agência de Assuntos Humanitários da ONU) em Genebra.
O porta-voz da OCHA, Jens Laerke, disse, no entanto, neste sábado à
AFP que o valor da ajuda reunida em apenas um mês é um sinal positivo:
"É estimulante ver o valor e a rapidez com que essas quantias foram
conseguidas", disse.
Já o fundo especial da ONU criado para a emergência sanitária, o
"Trust Fund",recebeu apenas 100.000 dólares dos 20 milhões solicitados.
Em resposta a esse apelo, o governo canadense, que havia anunciado
uma contribuição de 30 milhões de dólares canadenses (pouco menos de 27
milhões de dólares) no mês passado, comprometeu-se na sexta a enviar
mais 30 milhões.
O Programa Alimentar Mundial (PAM) anunciou na sexta o início
imediato da distribuição de ajuda a 265.000 habitantes de Freetown,
capital de Serra Leoa.
A Comunidade do Leste da África (EAC, na sigla em inglês) decidiu
enviar mais de 600 profissionais de saúde, incluindo 41 médicos, para o
oeste do continente.
Londres enviou para Serra Leoa um navio militar especialmente
equipado que deve chegar em duas semanas a Freetown. No total, o Reino
Unido pretende reunir 750 militares na ex-colônia para atuarem na
construção de centros de tratamento.