Uma década de prosperidade e liberdade, animada pelo som das jazz-bands e
pelo charme das melindrosas - mulheres modernas da época, que
frequentavam os salões e traduziam em seu comportamento e modo de vestir
o espírito da também chamada Era do Jazz.
A silhueta dos anos 20 era tubular, com os vestidos mais curtos, leves e
elegantes, geralmente em seda, deixando braços e costas à mostra, o que
facilitava os movimentos frenéticos exigidos pelo Charleston - dança
vigorosa, com movimentos para os lados a partir dos joelhos. As meias
eram em tons de bege, sugerindo pernas nuas. O chapéu, até então
acessório obrigatório, ficou restrito ao uso diurno. O modelo mais
popular era o "cloche", enterrado até os olhos, que só podia ser usado
com os cabelos curtíssimos, a "la garçonne", como era chamado.
Anos 30 tempo de crise
Após uma década de euforia, a alegria dos "anos loucos" chegou ao fim
com a crise de 1929. A queda da Bolsa de Valores de Nova York provocou
uma crise econômica mundial sem precedentes. Milionários ficaram pobres
de um dia para o outro, bancos e empresas faliram e milhões de pessoas
perderam seus empregos.
Em geral, os períodos de crises não são caracterizados por ousadias na
forma de se vestir. Diferentemente dos anos 20, que havia destruído as
formas femininas, os 30 redescobriram as formas do corpo da mulher
através de uma elegância refinada, sem grandes ousadias.
As saias ficaram longas e os cabelos começaram a crescer. Os vestidos
eram justos e retos, além de possuírem uma pequena capa ou um bolero,
também bastante usado na época. Em tempos de crise, materiais mais
baratos passaram a ser usados em vestidos de noite, como o algodão e a
casimira.
Anos 40 A moda e a Guerra
Em 1940, a Segunda Guerra Mundial já havia começado na Europa. A cidade
de Paris, ocupada pelos alemães em junho do mesmo ano, já não contava
com todos os grandes nomes da alta-costura e suas maisons. Muitos
estilistas se mudaram, fecharam suas casas ou mesmo as levaram para
outros países.
A Alemanha ainda tentou destruir a indústria francesa de costura,
levando as maisons parisienses para Berlim e Viena, mas não teve êxito. O
estilista francês Lucien Lelong, então presidente da câmara sindical,
teve um papel importante nesse período ao preparar um relatório
defendendo a permanência das maisons no país. Durante a guerra, 92
ateliês continuaram abertos em Paris.
Apesar das regras de racionamento, impostas pelo governo, que também
limitava a quantidade de tecidos que se podia comprar e utilizar na
fabricação das roupas, a moda sobreviveu à guerra.
A silhueta do final dos anos 30, em estilo militar, perdurou até o final
dos conflitos. A mulher francesa era magra e as suas roupas e sapatos
ficaram mais pesados e sérios.
A escassez de tecidos fez com que as mulheres tivessem de reformar suas
roupas e utilizar materiais alternativos na época, como a viscose, o
raiom e as fibras sintéticas. Mesmo depois da guerra, essas habilidades
continuaram sendo muito importantes para a consumidora média que queria
estar na moda, mas não tinha recursos para isso.
Anos 50 A época da Feminilidade
Grace Kelly - Janela Indiscreta
Com o fim dos anos de guerra e do racionamento de tecidos, a mulher dos
anos 50 se tornou mais feminina e glamourosa, de acordo com a moda
lançada pelo "New Look", de Christian Dior, em 1947. Metros e metros de
tecido eram gastos para confeccionar um vestido, bem amplo e na altura
dos tornozelos. A cintura era bem marcada e os sapatos eram de saltos
altos, além das luvas e outros acessórios luxuosos, como peles e jóias.
Essa silhueta extremamente feminina e jovial atravessou toda a década de
50 e se manteve como base para a maioria das criações desse período.
Apesar de tudo indicar que a moda seguiria o caminho da simplicidade e
praticidade, acompanhando todas as mudanças provocadas pela guerra,
nunca uma tendência foi tão rapidamente aceita pelas mulheres como o
"New Look" Dior, o que indica que a mulher ansiava pela volta da
feminilidade, do luxo e da sofisticação.
E foi o mesmo Christian Dior quem liderou, até a sua morte em 1957, a
agitação de novas tendências que foram surgindo quase a cada estação.
Com o fim da escassez dos cosméticos do pós-guerra, a beleza se tornaria
um tema de grande importância. O clima era de sofisticação e era tempo
de cuidar da aparência.
A maquiagem estava na moda e valorizava o olhar, o que levou a uma
infinidade de lançamentos de produtos para os olhos, um verdadeiro
arsenal composto por sombras, rímel, lápis para os olhos e sobrancelhas,
além do indispensável delineador. A maquiagem realçava a intensidade
dos lábios e a palidez da pele, que devia ser perfeita.
Grandes empresas, como a Revlon, Helena Rubinstein, Elizabeth Arden e
Estée Lauder, gastavam muito em publicidade, era a explosão dos
cosméticos. Na Europa, surgiram a Biotherm, em 1952 e a Clarins, em
1954, lançando produtos feitos a base de plantas, que se tornaria uma
tendência a partir daí.
Era também o auge das tintas para cabelos, que passaram a fazer parte da
vida de dois milhões de mulheres - antes eram 500 -, e das loções
alisadoras e fixadoras.
Os penteados podiam ser coques ou rabos-de-cavalo, como os de Brigitte
Bardot. Os cabelos também ficaram um pouco mais curtos, com mechas
caindo no rosto e as franjas davam um ar de menina.
Dois estilos de beleza feminina marcaram os anos 50, o das ingênuas
chiques, encarnado por Grace Kelly e Audrey Hepburn, que se
caracterizavam pela naturalidade e jovialidade e o estilo sensual e
fatal, como o das atrizes Rita Hayworth e Ava Gardner, como também o das
pin-ups americanas, loiras e com seios fartos.
Entretanto, os dois grandes símbolos de beleza da década de 50 foram
Marilyn Monroe e Brigitte Bardot, que eram uma mistura dos dois estilos,
a devastadora combinação de ingenuidade e sensualidade.
As pioneiras das atuais top models surgiram através das lentes dos
fotógrafos de moda, entre eles, Richard Avedon, Irving Penn e Willian
Klein, que fotografavam para as maisons e para as revistas de moda, como
a Elle e a Vogue.
Durante os anos 50, a alta-costura viveu o seu apogeu. Nomes importantes
da criação de moda, como o espanhol Cristobal Balenciaga - considerado o
grande mestre da alta-costura -, Hubert de Givenchy, Pierre Balmain,
Chanel, Madame Grès, Nina Ricci e o próprio Christian Dior,
transformaram essa época na mais glamourosa e sofisticada de todas.
A partir de 1950, uma forma de difusão da alta-costura parisiense
tornou-se possível com a criação de um grupo chamado "Costureiros
Associados", do qual faziam parte famosas maisons, como a de Jacques
Fath, Jeanne Paquin, Robert Piguet e Jean Dessès. Esse grupo havia se
unido a sete profissionais da moda de confecção para editar, cada um,
sete modelos a cada estação, para que fossem distribuídos para algumas
lojas selecionadas.
Assim, em 1955, a grife "Jean Dessès-Diffusion" começou a fabricar
tecidos em série para determinadas lojas da França e da África do Norte.
O grande destaque na criação de sapatos foi o francês Roger Vivier. Ele
criou o salto-agulha, em 1954 e, em 1959 o salto-choque, encurvado para
dentro, além do bico chato e quadrado, entre muitos outros. Vivier
trabalhou com Dior e criou vários modelos para os desfiles dos grandes
estilistas da época.
Em 1954, Chanel reabriu sua maison em Paris, que esteve fechada durante a
guerra. Aos 70 anos de idade, ela criou algumas peças que se tornariam
inconfundíveis, como o famoso tailleur com guarnições trançadas, a
famosa bolsa a tiracolo em matelassê e o escarpin bege com ponta escura.
Ao lado do sucesso da alta-costura parisiense, os Estados Unidos estavam
avançando na direção do ready-to-wear e da confecção. A indústria
norte-americana desse setor estava cada vez mais forte, com as técnicas
de produção em massa cada vez mais bem desenvolvidas e especializadas.
Na Inglaterra, empresas como Jaeger, Susan Small e Dereta produziam
roupas prêt-à-porter sofisticadas. Na Itália, Emilio Pucci produzia
peças separadas em cores fortes e estampadas que faziam sucesso tanto na
Europa como nos EUA.
Na França, Jacques Fath foi um dos primeiros a se voltar ao
prêt-à-porter, ainda em 1948, mas era inevitável que os outros
estilistas começassem a acompanhar essa nova tendência a medida que a
alta-costura começava a perder terreno, já no final dos anos 50.
Nessa época, pela primeira vez, as pessoas comuns puderam ter acesso às
criações da moda sintonizada com as tendências do momento.
Em 1955, as revistas Elle e Vogue dedicaram várias páginas de sua
publicação às coleções de prêt-à-porter, o que sinalizava que algo
estava se transformando no mundo da moda.
Uma preocupação dos estilistas era a diversificação dos produtos,
através do sistema de licenças, que estava revolucionando a estratégia
econômica das marcas. Assim, alguns itens se tornaram símbolos do que
havia de mais chique, como o lenço de seda Hermès, que Audrey Hepburn
usava, o perfume Chanel Nº 5, preferido de Marilyn Monroe e o batom
Coronation Pink, lançado por Helena Rubinstein para a coroação da rainha
da Inglaterra.
Dentro do grande número de perfumes lançados nos anos 50, muitos
constituem ainda hoje os principais produtos em que se apóiam algumas
maisons, cuja sobrevivência muitas vezes é assegurada por eles.
A Guerra Fria, travada entre os Estados Unidos e a então União Soviética
ficou marcada, durante os anos 50, pelo início da corrida espacial, uma
verdadeira competição entre os dois países pela liderança na exploração
do espaço.
A ficção científica e todos os temas espaciais passaram a ser associados
a modernidade e foram muito usados. Até os carros americanos ganharam
um visual inspirado em foguetes. Eles eram grandes, baixos e compridos,
além de luxuosos e confortáveis.
Os Estados Unidos estavam vivendo um momento de prosperidade e
confiança, já que haviam se transformado em fiadores econômicos e
políticos do mundo ocidental após a vitória dos aliados na guerra. Isso
fez surgir, durante esse período, uma juventude abastada e consumista,
que vivia com o conforto que a modernidade lhes oferecia.
Melhores condições de habitação, desenvolvimento das comunicações, a
busca pelo novo, pelo conforto e consumo são algumas das características
dessa época.
A televisão se popularizou e permitia que as pessoas assistissem aos
acontecimentos que cercavam os ricos e famosos, que viviam de luxo,
prazer e elegância, como o casamento da atriz Grace Kelly com o príncipe
Rainier de Mônaco.
A tradição e os valores conservadores estavam de volta. As pessoas
casavam cedo e tinham filhos. Nesse contexto, a mulher dos anos 50, além
de bela e bem cuidada, devia ser boa dona-de-casa, esposa e mãe. Vários
aparelhos eletrodomésticos foram criados para ajudá-la nessa tarefa
difícil, como o aspirador de pó e a máquina de lavar roupas.
Em contraposição ao estilo norte-americano de obsolescência planejada,
ao criarem produtos pouco duráveis, na Europa ressurgiu, especialmente
na Alemanha, o estilo modernista da Bauhaus, com o objetivo de fabricar
bens duráveis, com um design voltado a funcionalidade e ao futuro,
refletindo a vida moderna. Vários equipamentos, como rádios, televisores
e máquinas, foram criados seguindo a fórmula de linhas simples,
durabilidade e equilíbrio.
Ao som do rock and roll, a nova música que surgia nos 50, a juventude
norte-americana buscava sua própria moda. Assim, apareceu a moda
colegial, que teve origem no sportswear. As moças agora usavam, além das
saias rodadas, calças cigarrete até os tornozelos, sapatos baixos,
suéter e jeans.
O cinema lançou a moda do garoto rebelde, simbolizada por James Dean, no
filme "Juventude Transviada" (1955), que usava blusão de couro e jeans.
Marlon Brando também sugeria um visual displicente no filme "Um Bonde
Chamado Desejo" (1951), transformando a camiseta branca em um símbolo da
juventude.
Já na Inglaterra, alguns londrinos voltaram a usar o estilo eduardiano,
mas com um componente mais agressivo, com longos jaquetões de veludo,
coloridos e vistosos, além de um topete enrolado. Eram os "teddy-boys".
Ao final dos anos 50, a confecção se apresentava como a grande
oportunidade de democratização da moda, que começou a fazer parte da
vida cotidiana. Nesse cenário, começava a ser formar um mercado com um
grande potencial, o da moda jovem, que se tornaria o grande filão dos
anos 60.
Anos 60 A Época que Mudou o Mundo
Catherine Deneuve
Os anos 50 chegaram ao fim com uma geração de jovens, filhos do chamado
"baby boom", que vivia no auge da prosperidade financeira, em um clima
de euforia consumista gerada nos anos do pós-guerra nos EUA. A nova
década que começava já prometia grandes mudanças no comportamento,
iniciada com o sucesso do rock and roll e o rebolado frenético de Elvis
Presley, seu maior símbolo.
A imagem do jovem de blusão de couro, topete e jeans, em motos ou
lambretas, mostrava uma rebeldia ingênua sintonizada com ídolos do
cinema como James Dean e Marlon Brando. As moças bem comportadas já
começavam a abandonar as saias rodadas de Dior e atacavam de calças
cigarette, num prenúncio de liberdade.
Os anos 60, acima de tudo, viveram uma explosão de juventude em todos os
aspectos. Era a vez dos jovens, que influenciados pelas idéias de
liberdade "On the Road" [título do livro do beatnik Jack Keurouac, de
1957] da chamada geração beat, começavam a se opor à sociedade de
consumo vigente. O movimento, que nos 50 vivia recluso em bares nos EUA,
passou a caminhar pelas ruas nos anos 60 e influenciaria novas mudanças
de comportamento jovem, como a contracultura e o pacifismo do final da
década.
Nesse cenário, a transformação da moda iria ser radical. Era o fim da
moda única, que passou a ter várias propostas e a forma de se vestir se
tornava cada vez mais ligada ao comportamento.
Conscientes desse novo mercado consumidor e de sua voracidade, as
empresas criaram produtos específicos para os jovens, que, pela primeira
vez, tiveram sua própria moda, não mais derivada dos mais velhos.
Aliás, a moda era não seguir a moda, o que representava claramente um
sinal de liberdade, o grande desejo da juventude da época.
Algumas personalidades de características diferentes, como as atrizes
Jean Seberg, Natalie Wood, Audrey Hepburn, Anouk Aimée, modelos como
Twiggy, Jean Shrimpton, Veruschka ou cantoras como Joan Baez, Marianne
Faithfull e Françoise Hardy, acentuavam ainda mais os efeitos de uma
nova atitude.
Na moda, a grande vedete dos anos 60 foi, sem dúvida, a minissaia. A
inglesa Mary Quant divide com o francês André Courrèges sua criação.
Entretanto, nas palavras da própria Mary Quant: "A idéia da minissaia
não é minha, nem de Courrèges. Foi a rua que a inventou". Não há dúvidas
de que passou a existir, a partir de meados da década, uma grande
influência da moda das ruas nos trabalhos dos estilistas. Mesmo as
idéias inovadoras de Yves Saint Laurent com a criação de japonas e
sahariennes [estilo safári], foram atualizações das tendências que já
eram usadas nas ruas de Londres ou Paris.
O sucesso de Quant abriu caminho para outros jovens estilistas, como
Ossie Clark, Jean Muir e Zandra Rhodes. Na América, Bill Blass, Anne
Klein e Oscar de la Renta, entre outros, tinham seu próprio estilo,
variando do psicodélico [que se inspirava em elementos da art nouveau,
do oriente, do Egito antigo ou até mesmo nas viagens que as drogas
proporcionavam] ou geométrico e o romântico.
Em 1965, na França, André Courrèges operou uma verdadeira revolução na
moda, com sua coleção de roupas de linhas retas, minissaias, botas
brancas e sua visão de futuro, em suas "moon girls", de roupas
espaciais, metálicas e fluorescentes. Enquanto isso, Saint Laurent criou
vestidos tubinho inspirados nos quadros neoplasticistas de Mondrian e o
italiano Pucci virou mania com suas estampas psicodélicas. Paco
Rabanne, em meio às suas experimentações, usou alumínio como
matéria-prima.
Os tecidos apresentavam muita variedade, tanto nas estampas quanto nas
fibras, com a popularização das sintéticas no mercado, além de todas as
naturais, sempre muito usadas.
As mudanças no vestuário também alcançaram a lingerie, com a
generalização do uso da calcinha e da meia-calça, que dava conforto e
segurança, tanto para usar a minissaia, quanto para dançar o twist e o
rock.
O unissex ganhou força com os jeans e as camisas sem gola. Pela primeira
vez, a mulher ousava se vestir com roupas tradicionalmente masculinas,
como o smoking [lançado para mulheres por Yves Saint Laurent em 1966].
A alta-costura cada vez mais perdia terreno e, entre 1966 e 1967, o
número de maisons inscritas na Câmara Sindical dos costureiros
parisienses caiu de 39 para 17. Consciente dessa realidade, Saint
Laurent saiu na frente e inaugurou uma nova estrutura com as butiques de
prêt-à-porter de luxo, que se multiplicariam pelo mundo também através
das franquias.
Com isso, a confecção ganhava cada vez mais terreno e necessitava de
criatividade para suprir o desejo por novidades. O importante passaria a
ser o estilo e o costureiro passou a ser chamado de estilista.
Nessa época, Londres havia se tornado o centro das atenções, a viagem
dos sonhos de qualquer jovem, a cidade da moda. Afinal, estavam lá, o
grande fenômeno musical de todos os tempos, os Beatles, e as inglesinhas
emancipadas, que circulavam pelas lojas excêntricas da Carnaby Street,
que mais tarde foram para a famosa King"s Road e o bairro de Chelsea,
sempre com muita música e atitude jovens.
Nesse contexto, a modelo Jean Shrimpton era a personificação das
chamadas "chelsea girls". Sua aparência era adolescente, sempre de
minissaia, com seus cabelos longos com franja e olhos maquiados.
Catherine Deneuve também encarnava o estilo das "chelsea girls", assim
como sua irmã, a também atriz Françoise Dorléac. Por outro lado,
Brigitte Bardot encarnava o estilo sexy, com cabelos compridos soltos
rebeldes ou coque no alto da cabeça [muito imitado pelas mulheres].
Twiggy, o rosto dos 60
Entretanto, os anos 60 sempre serão lembrados pelo estilo da modelo e
atriz Twiggy, muito magra, com seus cabelos curtíssimos e cílios
inferiores pintados com delineador.
A maquiagem era essencial e feita especialmente para o público jovem. O
foco estava nos olhos, sempre muito marcados. Os batons eram clarinhos
ou mesmo brancos e os produtos preferidos deviam ser práticos e fáceis
de usar. Nessa área, Mary Quant inovou ao criar novos modelos de
embalagens, com caixas e estojos pretos, que vinham com lápis, pó, batom
e pincel. Ela usou nomes divertidos para seus produtos, como o "Come
Clean Cleanser", sempre com o logotipo de margarida, sua marca
registrada.
As perucas também estavam na moda e nunca venderam tanto. Mais baratas e
em diversas tonalidades e modelos, elas eram produzidas com uma nova
fibra sintética, o kanekalon.
O estilo da "swinging London" culminou com a Biba, uma butique
independente, frequentada por personalidades da época. Seu ar romântico
retrô, aliado ao estilo camponês, florido e ingênuo de Laura Ashley,
estavam em sintonia com o início do fenômeno hippie do final dos anos
60.
A moda masculina, por sua vez, foi muito influenciada, nos início da
década, pelas roupas que os quatro garotos de Liverpool usavam,
especialmente os paletós sem colarinho de Pierre Cardin e o cabelo de
franjão. Também em Londres, surgiram os mods, de paletó cintado,
gravatas largas e botinas. A silhueta era mais ajustada ao corpo e a
gola rolê se tornou um clássico do guarda-roupa masculino. Muitos
adotaram também a japona do pescador e até mesmo o terno de Mao.
No Brasil, a Jovem Guarda fazia sucesso na televisão e ditava moda.
Wanderléa de minissaia, Roberto Carlos, de roupas coloridas e como na
música, usava botinha sem meia e cabelo na testa [como os Beatles]. A
palavra de ordem era "quero que vá tudo pro inferno".
Os avanços na medicina, as viagens espaciais, o Concorde que viaja em
velocidade superior à do som, são exemplos de uma era de grande
desenvolvimento tecnológico que transmitia uma imagem de modernidade.
Essa imagem influenciou não só a moda, mas também o design e a arte que
passaria a ter um aspecto mais popular e fugaz.
Trabalho de Andy Warhol, símbolo da pop art
Nesse contexto, nenhum movimento artístico causou maior impacto do que a
Arte Pop. Artistas como Andy Warhol, Roy Lichetenstein e Robert Indiana
usaram irreverência e ironia em seus trabalhos. Warhol usava imagens
repetidas de símbolos populares da cultura norte-americana em seus
quadros, como as latas de sopa Campbell, Elvis Presley e Marilyn Monroe.
A Op Art [abreviatura de optical art, corrente de arte abstrata que
explora fenômenos ópticos] também fez parte dessa época e estava
presente em estampas de tecidos.
No ritmo de todas as mudanças dos anos 60, o cinema europeu ganhava
força com a nouvelle vague do cinema francês ["Acossado", de Jean-Luc
Godard, se tornaria um clássico do movimento], ao lado do neo-realismo
do cinema italiano, que influenciaram o surgimento, no início da década,
do cinema novo [que teve Glauber Rocha como um dos seus iniciadores] no
Brasil, ao contestar as caras produções da época e destacar a
importância do autor, ao contrário dos estúdios de Hollywood.
No final dos anos 60, de Londres, o reduto jovem mundial se transferiu
para São Francisco (EUA), região portuária que recebia pessoas de todas
as partes do mundo e também por isso, berço do movimento hippie, que
pregava a paz e o amor, através do poder da flor [flower power], do
negro [black power], do gay [gay power] e da liberação da mulher
[women"s lib]. Manifestações e palavras de ordem mobilizaram jovens em
diversas partes do mundo.
A esse conjunto de manifestações que surgiram em diversos países deu-se o
nome de contracultura. Uma busca por um outro tipo de vida,
underground, à margem do sistema oficial. Faziam parte desse novo
comportamento, cabelos longos, roupas coloridas, misticismo oriental,
música e drogas.
No Brasil, o grupo "Os Mutantes", formado por Rita Lee e os irmãos
Arnaldo e Sérgio Batista, seguiam o caminho da contracultura e
afastavam-se da ostentação do vestuário da jovem guarda, em busca de uma
viagem psicodélica.
A moda passou a ser as roupas antes reservadas às classes operárias e
camponesas, como os jeans americanos, o básico da moda de rua. Nas
butiques chiques, a moda étnica estava presente nos casacos afegãos,
fulares indianos, túnicas floridas e uma série de acessórios da nova
moda, tudo kitsch, retrô e pop.
Toda a rebeldia dos anos 60 culminaram em 1968. O movimento estudantil
explodiu e tomou conta das ruas em diversas partes do mundo e contestava
a sociedade, seus sistemas de ensino e a cultura em diversos aspectos,
como a sexualidade, os costumes, a moral e a estética.
No Brasil, lutava-se contra a ditadura militar, contra a reforma
educacional, o que iria mais tarde resultar no fechamento do Congresso e
na decretação do Ato Institucional nº 5.
Talvez o que mais tenha caracterizado a juventude dos anos 60 tenha sido
o desejo de se rebelar, a busca por liberdade de expressão e liberdade
sexual. Nesse sentido, para as mulheres, o surgimento da pílula
anticoncepcional, no início da década, foi responsável por um
comportamento sexual feminino mais liberal. Porém, elas também queriam
igualdade de direitos, de salários, de decisão. Até o sutiã foi queimado
em praça pública, num símbolo de libertação.
Os 60 chegaram ao fim, coroados com a chegada do homem à Lua, em julho
de 1969, e com um grande show de rock, o "Woodstock Music & Art
Fair", em agosto do mesmo ano, que reuniu cerca de 500 mil pessoas em
três dias de amor, e música.
Fonte http://dessavintage.no.comunidades.net