Não era como imaginava:
cresce número de brasileiros que pedem ajuda para voltar de Portugal
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Não era como imaginava:
cresce número de brasileiros que pedem ajuda para voltar de Portugal
Francisco Seco / AP Photo
Pessoas caminham no centro de Lisboa Imagem: Francisco Seco / AP
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Após
perder o emprego em Pernambuco, o engenheiro civil Daniel (o nome foi
alterado a pedido dele), 32, decidiu fazer o mesmo caminho de pelo menos
85 mil brasileiros que, atraídos pelas perspectivas de estabilidade
financeira e de segurança, adotaram Portugal como casa. Mas as coisas
não saíram como ele imaginava. "Você lê muita coisa por aí e vê tanta
gente vindo, que acredita que vai ser fácil. Mas a realidade é
diferente”, disse ao UOL.
Sem conseguir exercer a
profissão e com dificuldades até para comprar comida, Daniel prepara-se
para integrar outra estatística, também em expansão: a de brasileiros
que pedem ajuda para voltar para o país de origem.
Nos últimos
cinco anos, o Programa de Apoio ao Retorno Voluntário e à Reintegração
(Árvore), ligado à Organização Internacional para Migrações (OIM) e ao
governo português, financiou a viagem de volta de 1.639 brasileiros.
Apesar de corresponderem a 20% dos estrangeiros morando em Portugal, os brasileiros respondem por 86% dos pedidos de auxílio para voltar para casa. Após ter o benefício concedido, o imigrante fica impedido de entrar em Portugal por três anos.
Em
2013, no auge da crise econômica portuguesa, registrou-se pico de
concessão desse tipo de ajuda para brasileiros: 593 viagens pagas. O
número diminuiu nos anos seguintes, mas, de 2017 para cá, mostra
tendência de aumento: foram 222 embarques de janeiro a junho de 2018,
aproximando-se dos 232 retornos financiados em todo ano passado.
Na reunião da OIM em Lisboa em que a reportagem esteve presente, a maioria dos participantes se recusou a dar entrevista.
Ninguém quer falar do sonho que não deu certo
Daniel, 32 - que concordou em contar sua história, mas pediu para ter o nome alterado
O Brasil redescobre Portugal
O
bom momento vivido por Portugal e a crise econômica que se arrasta no
Brasil fizeram da terra de Fernando Pessoa uma espécie de Eldorado no
imaginário dos brasileiros.
De 2016 para 2017, o Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras concedeu mais de 4 mil novas autorizações de
residência para brasileiros, que já somam mais de 85.426 no país -- a maior comunidade estrangeira.
O
número ainda é menor do que o registrado em 2014, quando a comunidade
brasileira passava de 87 mil pessoas, mas chama a atenção pela tendência
de crescimento, após anos de retração.
Além disso, estima-se que a
população brasileira em Portugal seja ainda maior: há ao menos 2 mil no
país com passaporte italiano, contingentes não contabilizados de
brasileiros com outros passaportes europeus e ainda os imigrantes
ilegais. São pessoas que entraram com visto de turista, válido por 90
dias, e não foram embora, como é o caso de Daniel.
Sem visto de
residência, o engenheiro só conseguiu trabalho como entregador de
pizza ou vendendo pacotes de TV a cabo de porta em porta. Não tinha
salário fixo, só a promessa de receber comissões que nunca chegavam.
"Falta até para comer, que dirá o aluguel. Por isso resolvi procurar o programa [de retorno voluntário]”, diz.
Há pouco mais de um ano em Portugal, agora Daniel espera terminar o processo junto à OIM para retornar ao Brasil.
Passagem e 2.000 euros para recomeçar a vida
Histórias
como as de Daniel são comuns nas reuniões informativas do programa
Árvore. A maioria dos participantes são brasileiros - que têm facilidade
para entrar na Europa, uma vez que não é preciso tirar visto antes de
embarcar.
“Têm-se registrado mais pessoas a pedir apoio após uma
estadia curta, motivados pela dificuldade em regularizar a situação,
pelo desemprego, ou trabalho precário associado, e consequentes
dificuldades de subsistência no país. A grande maioria possuía um nível
de escolaridade médio”, afirmou Patrícia Cunha, assistente de projeto
da OIM Lisboa.
O programa auxilia na regularização de documentos
de viagem, dá a passagem de volta e 50 euros (equivalente a R$ 220) para
despesas durante a viagem. A iniciativa também ajuda a pessoa, já de
volta no seu país de origem, a se inserir no mercado de trabalho,
financiando cursos técnicos. É possível também solicitar uma verba de
2.000 euros (R$ 8.700) para iniciar um novo negócio.
“A falta de
informação e planejamento é a principal causa para a vulnerabilidade
econômica e até psicossocial das pessoas que chegam à OIM. Muitos vêm a
Portugal com passagem de volta para uma semana, mas [quando querem
voltar ao Brasil] não é possível ou é muito caro reagendar", diz Cunha.
De volta para casa
Vivian
e Odirlei Domingues, ambos de 38 anos, já utilizaram o programa. O
casal retornou para Mauá (SP), em junho do ano passado.
“Meu
marido não conseguiu arrumar emprego fixo e salário bom. Ele foi com uma
vaga de lavador de carro e, no futuro, pegaria um contrato para se
legalizar”, conta Vivian.
Mas o plano não funcionou, e Odirlei,
com nível superior e uma carreira de analista financeiro, também
trabalhou na limpeza de uma academia. Ainda assim, a conta não fechava.
Vivian
também lavou carros e trabalhou como recepcionista, mas parou para
cuidar do filho do casal, à época com um ano e meio. Ela diz não se
arrepender da experiência, mas desaconselha aqueles que querem tentar a
sorte sem os devidos vistos.
Fui muito explorada por não ter
documentos. Hoje dou valor aos mínimos detalhes. No Brasil, tinha
emprego, apartamento e família, mas não dava valor. Quando migrei passei
muitas privações desnecessárias
Fontehttps://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2018/08/17/brasileiros-voltam-portugal-emigrar-salario-seguranca-visto.htm
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